El Derecho al delirio: Eduardo Galeno e... HUGO PIRES

El Derecho al delirio: Eduardo Galeno e o delírio de um Direito que não existe...
Eduardo Galeano despediu-se do mundo justamente no dia do beijo, talvez porque ninguém mais como ele tenha sabido amar a vida envolta a dores, descobertas, alegrias e sensibilidade resumidas a palavras bem colocadas e poéticas.
Além da poesia que inspirava com tamanha naturalidade, Galeano denunciava um mundo em que o Direito pouco tinha a nos dizer de forma efetiva, de tal modo que o maior direito que nos cabe não tem previsão legal: o direito ao delírio. E se for delírio o que ele propunha, "o que acham se delirarmos um pouquinho?"
"O que acham se fixarmos nossos olhos mais além da infâmia, para imaginarmos outro mundo possível?"
Onde pessoas não matam pessoas por causa de dinheiro, inveja, ciúmes ou medo. Onde países não ajam como crianças birrentas atrás de um "brinquedo" chamado petróleo, ou de um superpoder chamado controle mundial. Onde os valores valham mais que preços, e o Direito seja mais que uma folha escrita com palavras difíceis.
"Ninguém morrerá de fome".
As normas programáticas deixarão de existir e as tantas previsões constitucionais e internacionais sobre direitos humanos passarão a ter verdadeira eficácia na vida de cada um.
"A morte e o dinheiro perderão seus poderes mágicos e nem por falecimento e nem por fortuna um canalha se tornará um virtuoso cavalheiro."
E nesse dia...
"Seremos imperfeitos e a perfeição continuará sendo um privilégio chato dos deuses."
Por imperfeito que era, Eduardo Galeano nos ensinou a fascinante brincadeira com as palavras e o delírio de sonhar com um mundo melhor, no qual o Direito estará para sempre na linha do horizonte, mas que não nos deixará inertes.
A literatura, a poesia, a magia da vida o mundo perderam hoje um grande mago da sensibilidade humana, e que viverá agora na obra de sua história.