AQUELA DATA Hoje pela manhã olhei o... Rafael Magalhães

AQUELA DATA


Hoje pela manhã olhei o calendário e lá estava ela mais uma vez. Aquela data. Uma vez por mês isso acontece e aquele número que me acerta como uma flecha. Sei que para maioria das pessoas não passa de uma data qualquer, mas para mim já significou muito. Hoje costumava ser o nosso dia. Era sempre algo muito especial, mas o silêncio do celular pela manhã me joga na cara a realidade de que esse não passará de um dia normal. Um almoço solitário e um jantar sentado no sofá da sala. Ninguém para mandar flores e nem para buscar no cair da noite. No lugar disso um dia inteiro relembrando a sua rotina e tentando imaginar onde você estaria a cada momento. No fundo sei que não passa de um número bobo em uma folha de papel e que isso não deveria mais mexer tanto comigo, mas a saudade é um imposto que a vida cobra de quem foi muito feliz por um instante. Então me liberto e me permito relembrar: do seu sorriso, do seu perfume, da sua covinha e da forma como os seus olhos brilhavam quando encontravam os meus. Já que é impossível não pensar, tento te transformar em uma lembrança que não seja dolorosa. Lembro-me dos nossos dias juntos e o quanto você me fazia bem. Tento imaginar como seria esse dia se ainda estivesse comigo. Como foi mesmo que chegamos até aqui? Onde foi que o amor que eu imaginava ser para a vida toda se tornou uma triste lembrança de calendário? Acho que nunca conseguirei olhar para essa data como faço com todas as outras. Aquele número ali parece sempre me encarar e dizer: “não era para ser assim”, “não era esse o plano”. Será mesmo? O que eu sei é que amanhã o número será outro, e então terei um mês até que aconteça novamente. O que me resta é suportar essas vinte quatro horas de lembranças. Um dia inteiro para lembrar aquilo que fico outros vinte nove fingindo que esqueci.