Durante meus quinze anos de vida,... Sabrina Niehues

Durante meus quinze anos de vida, convivendo sempre com meu pai, eu não imaginava que ele fosse alcoólatra. Sempre o vi beber, rotineiramente, e sempre ouvi minha mãe reclamando disso. Mas, sempre que ele bebia, em excesso ou não, ele nunca mudava seu humor. Nunca ficava mais ou menos nervoso. Nunca, em hipótese alguma, agrediu alguém. Mas, se alguém abrisse a boca para brigar ou reclamar dele, ele se irritava. Então, após quinze anos (minha vida toda, até agora), eu não tinha me dado conta de que meu pai é alcoólatra. Caí na real após uma conversa com uma prima mais velha. Ela havia mencionado meu pai e um tio meu. Disse que não havia no mundo pessoas melhores que eles, mas que, infelizmente, eram viciados em bebida. Tudo bem, creio que todas as pessoas tem seu lado bom e ruim. E quem somos nós para julgar alguém? Nós não somos ninguém. É sempre difícil aceitar o lado ruim de quem a gente ama. A gente sempre pensa que as pessoas que amamos são perfeitas. Na verdade, elas só são perfeitas aos nossos olhos. Mas eu o aceito assim. Eu aceito meu pai como ele é. Com todos os seus defeitos e qualidades. E eu o amo de qualquer jeito. E sei que ele também me ama. E sou grata por isso. Me pergunto, então, como ele foi se viciar no álcool. E então olho para dentro de mim. Quantas vezes eu quis beber também? Penso que está no sangue. Gosto da bebida tanto quanto meu pai. Então ligo os pontos... Por que eu gosto de beber? Para esquecer meus "problemas". Para esquecer as coisas, palavras e pessoas que me machucam. Para esquecer minha vida. E então penso que talvez esse seja o mesmo motivo pelo qual meu pai bebe. Pelo qual, quando jovem, começou a beber. Eu sei que ele é um homem que vive no passado. Como eu.