Caráter se faz com sabedoria Em busca... Paola Rhoden

Caráter se faz com sabedoria

Em busca de um local para morar após a morte de seus pais, Izabela deparou no jornal com uma boa oferta. Um apartamento no tamanho que ela queria, e por um preço que ela podia pagar. Achou que era o ideal. Afinal, São Paulo não é fácil.
Foi em busca.
O bairro era longe de tudo, mas parecia ser seguro e com boa qualidade de vida. Avistou o prédio do endereço achado no jornal. Não era muito bonito, mas tinha uma aparência imponente, embora não muito conservado. Ficava no alto, distanciado dos demais e com uma grande área verde que se estendia abaixo. Tocou a campainha e foi atendida por um senhor já de alguma idade, que a interpelou com um sorriso. Mais algumas pessoas estavam por ali. Parecia ser uma reunião. Pensando bem, em um ‘Hall’ de entrada não seria bem apropriado para reuniões. Mas quem sabe.
O senhor austero e formal, perguntou sobre o motivo de sua visita. Ela explicou.
O homem então com uma certa rudeza ao falar, lhe disse que aquele prédio não admitia qualquer um para ali morar. Izabela ficou boquiaberta olhando para as pessoas que se calaram e a olhavam como um ser extraterrestre. O cavalheiro continuou dizendo, que aquela era uma reunião informal de condomínio, e era justamente para tratar desse assunto, já que alguns proprietários, ou por mudar-se para outra cidade, ou mesmo por morte, colocaram a venda seus imóveis. E como o prédio sempre primou pela superior linhagem de seus habitantes, estava sendo estudada uma forma de impedir que qualquer pessoa, que só por ter dinheiro para pagar, viesse ali residir. Porque, segundo ele, não é o dinheiro que faz uma pessoa ser importante, mas seu berço. E complementando seu monólogo discriminativo perguntou quem era ela, quem era sua família, de onde vinha e o que fazia.
Izabela respirou fundo e sem responder de imediato sua pergunta, falou: e os senhores quem são? Quem sabe descendentes dos marinheiros que vieram com os descobridores nas naus de Espanha ou Portugal. Ou talvez dos colonizadores enviados pelos Reis diretamente das prisões da Holanda, França e Inglaterra para encher a nova colônia e esvaziar seus calabouços? Porque pela cor de sua pele, igual a minha, não podem ter em suas veias o sangue nobre dos reis e príncipes das tribos de Angola e arredores, trazidos pelos navios negreiros, enganados e à força, para servirem de escravos a alguns que de superiores só tinham a arrogância. E se neste prédio só tem pessoas como os senhores, eu me retiro. Vou em busca de algum outro imóvel, quem sabe na periferia, porque nobreza, senhores, não está no título de Condessa do qual sou herdeira por direito, vindo de uma milenar tradição dos castelos da Itália, e que por certo me daria a condição de aqui morar. Mas sim, em meu caráter que não admite tal discriminação.
Dizendo isso, Izabela girou nos elegantes saltos altos, e saiu por onde entrou.