A esperança é um lugar feito de nós... Luiselza Pinto

A esperança é um lugar feito de nós entre trilhas, enquanto estamos trilhas em nós... Vó Elza ainda estava nesta dimensão e recebi – numa sexta-feira pela manhã – uma notícia inesperada, ainda que bastante previsível. Senti-me como tomar um choque de um milhão de volts e não morrer, com a corrente elétrica dançando na mais encoberta das minhas células. De noite – vestida de perplexidade e de uma angústia maior que quaisquer palavras – tomei um ônibus para Recife e fui, sem lágrimas, me consolar nos braços dela. Mas a inspiração e a expiração ou são sinônimos da maturidade ou são combustível para a fatalidade; inexistem meios termos. Ou se está vivo, com todas as implicações do viver; ou se apenas existe, com o que a mera existência (não) pode dar. Peguei o ônibus de volta para Teresina no mesmo sábado em que cheguei em Recife e o domingo que me viu novamente na capital piauiense estava com um sol escaldante. Regressei adornada na certeza de que aquilo que (se) é – bem mais do que o que (se) está – sempre tem um preço altíssimo e que, por mais brilhantes que sejam os diamantes, não é dado ao ser humano o poder de os processar no próprio corpo. O inesperado pode trazer estímulos e respostas muito mais intensos do que os processos do óbvio. Chorar é bom e útil; todavia, mais pragmático e sensível é deixar que as lágrimas evaporem e umedeçam o ar e, assim, seja possível divisar as estrelas.