"Você batia à porta e eu esquecia... Amanda Seguezzi

"Você batia à porta e eu esquecia totalmente os meus conceitos de auto-erotização. O solo de Knockin’ on Heaven’s Door me preponderavam, mas não tanto quanto teus atos intencionais. Eu persuadia os teus dedos, tu me amordaçava a alma e, em meio aos gritos sem tom e travesseiros mordidos, eu me perguntava se era amor. Não entendia o porquê de me afundar no cheiro do teu perigo, na trama do teu ego. Sinceramente, tuas costas são mais largas do que as oitavas de qualquer outra melodia, e eu me perdia contando os arranhões que a minha sanidade deixava na porta do bom senso. Como Bukowski uma vez citou: "She’s mad but she’s magic. There’s no lie in her fire.". Em tradução livre, digo a mim mesma que o segredo do teu delírio infame está no fogo que eu nunca pensei em conter, no olhar que deixei vacilar ou até mesmo nos abraços de despedida inesperados. Eu te falei do meu vício em cigarros,whisky e dramatização, meu fogo sempre gritou a verdade, estranho, eu jamais omitiria que faço do inferno um paraíso quando te cravo as unhas e tu te encaixas nas minhas pernas. Sabes das minhas loucuras e tornou-se uma delas. Um vício. Dotado de palavras bonitas pouco verídicas, faro de vagabundo e ainda trazia consigo sete notas silenciosas de fetiches ocultos. O que te faz me procurar nas preliminares da noite? O que te atrai? Será meu gosto literário, musical ou esse meu gosto por mentiras bonitas de serem contadas. Sei lá. Eu não precisava do teu carinho, mas queria teu afeto. Em contrapartida, desprezava tuas teorias falhas de ser fiel, contudo mastigava as atitudes tomadas de lealdade. Só não tenho culpa de me encantar pela tua canalhice, pelos contornos na tua pele, o aroma convidativo da tua tendenciosidade. Não tenho. Mas quando quiser, não esquece da minha amnésia de bancar a trouxa que não sabe o que quer, que lê Bukwoski para se convencer de que o amor é uma praga, que fuma para se auto-afirmar, que escuta Bob Dylan apenas para encontrar os teus gemidos de histeria entre os acordes. Não esquece que a porta está aberta, assim como a janela e o coração também. Eu nunca te disse que quando a cama rangia alto, não estava necessariamente pedindo um ajuste e que o meu pescoço pulsava por uma mordida tua. Posso ter omitido algumas coisas, assim como retalhei certos sentimentos. Eu precisava me impor como máquina para que o arrepio da falta que o teu sossego me traz fosse cessado e controlado. Eu jurei que o amor não existia, porém não prometi que a paixão não viria como penitência. Eu lhe apresentei ao fogo e não esperava sentir o efeito contrário das queimaduras tão cedo.”