Natal Então é Natal e o que você não... Dalia Hewia

Natal

Então é Natal e o que você não fez?
Será que se sentiu como eu, a bola da vez?
Será que seu jeito espontâneo te trouxe algum dano?
Ou será talvez, que diferente de mim, deixou verdades por contar,
promessas por cumprir, momentos por repartir, atos pra se envergonhar?
Será que aproveitou bem seu tempo,
ou usou e abusou do momento
do outro?
Será que levou alegrias,
ou suas atitudes foram mesquinhas?
Será que fez história que mereça ser contada e ficar na memória,
em glória? Ou apenas foi indiferente, inconsistente e cantou vitória?
Será que fez tanto mal a ponto de se sentir bem?
Será que fez tanto bem a ponto de fazer feliz alguém?
Será que alguma consciência você teve ou tem?
Ou será que brincar com o sentimento do outro,
fez parte do jogo também?
Então é Natal e vejo as pessoas em alegre expectativa,
como a espera de um novo brinquedo, de uma nova saída.
Eu nada espero, apenas quero dar os beijos que soube guardar,
e que vou embrulhar em muito carinho.
Entre perdas, enganos e ganhos sobrevivi e não me deixei levar pela maldade,
não me dobrei as pressões da sociedade
que cobra atitudes hipócritas, sobriedades e disfarces sem sentido.
Será que de algo você se sente arrependido?
Ou será que se sente perdido, abstraído de tudo, entediado,
precisando ser sacudido e remexido, pra acordar e
ser capaz de fazer a diferença, de despertar alguma crença
em alguém que precise ser amado? Em qualquer ser?
Talvez um dia você consiga se olhar no espelho sem tremer, sem temer o que vê.
Desejo que você (que eu não sei quem é porque não me dirijo a ninguém em especial),
pare e pense só no bem e ignore o mal, até mesmo aquele que você foi capaz de fazer ou receber.
Talvez assim as notícias nos jornais sejam mais amenas,
as pessoas se sintam mais serenas, mais seguras, talvez diminuam as amarguras e
sejam mais solidárias, menos solitárias, menos medrosas, menos covardes.
Que sejam queimadas nas fogueiras as vaidades, as falsas virtudes,
os exageros das hierarquias, as manipuladas e frágeis anarquias,
o monstro horrível da ambição. E então?
Então é Natal, final de ano e o que você não fez?
Saberá ser mais cortês ou continuará pisando em quem nunca, nenhum mal lhe fez?
Saberá reinventar sua vida, não provocar mais ferida,
ou continuará sendo mais um sonâmbulo na multidão?
Será uma serpente disposto a tentar a sorte, dando um bote certeiro na presa indefesa?
Ou será verdade, idoneidade, pureza?
Que tal romper a prisão
da mente e seguir em frente disposto a não mais calar
tudo de bom que deve existir em você, embora poucos consigam enxergar?
Então é Natal, mas é apenas mais uma data.
De qualquer jeito,
que qualquer vida seja farta,
livre de aperto e plena de satisfação.
Até mesmo a sua (seja lá você quem for)
Talvez apenas um alguém vazio de tudo,
inclusive de amor.
Então é Natal e o que você não fez?
O que você fez?
Quer trocar de lugar comigo e se sentir
ao menos por agora e sem demora,
a bola da vez?