Foi aí que o elevador parou e você... Andre Wade

Foi aí que o elevador parou e você entrou. Não sabia se antes ou depois ou no andar exato. Não sabia ainda se fugia ou cumprimentava. Era tarde. Você se comprimindo cada vez mais no canto. Encontro. Os olhos se esbarram doces, oblíquos. Perto da tua, minha pupila se dilata lenta. Náufrago em teu olhar de aparente mistério. Me perco. Fico aflito. O frio do suor nas palmas das mãos, tenho sempre tanto medo, os andares avançam depressa, vejo os cabelos, a boca, os ombros. Mas só nos olhos fixo em mudo apelo, clara maldição. Você ri. Alguma coisa se adensa. Também rio. O momento me esmaga por dentro. Preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Essa coisa vasta, tola, funda ou ainda mais confusa. Preciso falar, preciso dizer. Repetir mil vezes a amargura de estar esperando por inteiro preso dentro dessa quietude indefinível. Um toque. O teu corpo cola-se ao meu, de leve, tão de leve que não arrisco um movimento sequer. Suspiro. Suspiras também. As respirações trêmulas descosturam o silêncio, os olhares alheios. Devassam pensamentos. Depois não sei, não sabemos. O elevador parou e você saiu. Na mesma espera soturna, no mesmo medo. Em outra direção.
Não disse nada.
Eu não disse nada também.