Escuta bem Tanto me faz se dizes... Ana Neto

Escuta bem


Tanto me faz se dizes verdades ou mentiras. As tuas mentiras só te preocupam a ti. As tuas verdades, também a mim. Só quero saber se te traíste para não seres infiel a alguém e que compromisso assumiste para o teu entardecer. Não me digas que repousas num campo de urtigas, só para não destruíres jardins que não são teus.
Não me interessa saber se és jovem, adulto ou permaneces criança. Diz-me a mim apenas que a tua alma se sente como um poderoso gigante com um coração de criança. Vá, fala-me das páginas dos teus sonhos, que cuidas da tua nascente de esperança, que escreves na areia da praia o nome dos teus fantasmas e nas rochas, o diário das tuas paixões.
É indiferente para mim o que fazes na vida. Se tens cursos superiores, quantas línguas falas, se usas gravata ou não. Antes, preocupo-me com o que fazes com o teu tempo, se tens a ousadia suprema de te libertares da servidão de uma vida de miragens. Se te bastas na solidão, se aprecias a tua própria companhia. Se és tu o pintor das paisagens das tuas caminhadas e se usas o preto e o branco para realçares pormenores.
Não me atormentes com os teus desígnios e queixas, não as ouvirei, não são minha preocupação. Diz-me se consentes que os teus dias tenham os seus problemas e se lhes reconheces as soluções. Fala comigo e conta-me se amanhã de manhã, vais querer mudar as rotas, se sabes qual a tua direção. Quero saber se sentindo-te perdido, te encontras!

Escuta bem, presta atenção. De nada te vale contar-me que volta e meia cortas as ramadas podres dessa árvore que te abriga. Prefiro que me confesses que estás determinado a arrancar-lhe as raízes. Diz-me que encontras no aconchego da tua tranquilidade, a manta de retalhos com que te envolves do frio da vida.

Não me digas que gostas de mim. Isso não resolve a minha vida. Nem a tua. Diz-me antes, que gostas muito de ti e caminharei então a teu lado!