Fim de agosto Últimos minutos. Toda vez... Aline Mariz

Fim de agosto

Últimos minutos. Toda vez é isso: INterrogações.

As lembranças passam correndo na cabeça: filme malfeito, errado, não escolhi assim.

As palavras reverberam feito sol de meio dia botando fogo no corpo inteiro.

Os olhinhos, meu bem, sempre mais claros do que nunca, sempre daquela luz do dia clareando cedo.

Permanecem as dúvidas, os infelizes traumas e mágoas, o medo de escolher o caminho.

Me encho mais ainda de imagens passando pelas retinas, as telas de projeção do coração. Toca "queixa" do lado de fora. Está escuro, de claro só minhas imagens do lado de dentro de mim, onde tem esse corre-corre, essacoisasempausa essas imagens borradas tudotãorápido que eu quase não vejo mais nada direito tudo passa correndodemais e eu nãoentendomaisnada sóconsi gosen tiresentir dói: mas ainda conta.

Sentir o que é velho, sempre, apesar da capa de coisa nova. Sentir é esse meu sentimento antigo, talvez mais velho do que eu – sabe-se lá como, talvez ele tenha nascido antes de mim -, esse sentimento antigo que só faz trocar de pele. De peles. São sempre as mesmas memórias repetidas e esquecidas cronicamente; são os mergulhos em diferentes e iguais poças; é jogar-se na vida como criança que ainda está aprendendo as consequências para suas ações, e repeti-las sempre, apesar da dor e da agonia do erro.


Memórias morrem na nossa retina, nós morremos na retina. Mas ainda conta: o coração continua batendo descompassado e desesperado pelo outro que também se esquece e nos esquece só pelo propósito de acontecer de novo.