Os temos não são mais os mesmos. A... Maria Eduarda Gimenes

Os temos não são mais os mesmos. A bola caiu, a saia desabotoou e o nariz de palhaço permaneceu apenas para manifestações de rua, que também não são mais as mesmas.
Aristides assistia ao ”Grandioso Circo Ínfimo” engolindo cada gota da semelhança que a peça passava. Seus talentos artísticos se resumiam em entreter crianças em postos de saúde ou distribuir balões nos dias de ações governamentais em creches ou algo parecido. Assistia, então, à peça que contava o fim da arte, do circo e a decadência do teatro. Seu coração palüitava e seu olhar endurecia tentando demonstrar indiferença.
Não. O tempo não podia se perder assim. Cidadezinhas acabaram. Só restaram fotografias. Proust já dizia. O circo desaparecera junto. Aristides, que um dia recitara Camões, Gil Vicente e Dante Alligeri, contentava-se com as peripécias de palhaços de rua e pirulitos de maçã verde nas portas de lojas de brinquedos. Levantou-se. Partiu.
Chorou uma lágrima como se fosse a última. Malandro. Na dureza, sentou à mesa do café. Deu um gole de cachaça. Deu no pé. Macabeando entrou na mão atrapalhando o tráfego. Caiu, sangrou, na hora. A hora da estrela. Ao menos uma vez.