Hoje, cedinho, cedinho, sem quê nem pra... Paulo Britto

Hoje, cedinho, cedinho, sem quê nem pra quê, do nada – estava até assistindo TV –, tal qual Vinícius, me peguei pensando na vida! Meu íntimo estava perguntando a si próprio o que ele queria da vida:
- O que você quer da vida?
Assustei-me. Não porque me bateu a dúvida que por vezes bate nas cabeças de todas as pessoas – creio. Mas porque ela foi intrigantemente insistente. Para esta dúvida tinha que haver uma resposta!
E sem medo de me maltratar, continuei a me inquirir:
- O que você quer, procura, espera... Anseia da vida?
Dei um tempo na TV, peguei o notebook e comecei a tentar argumentar comigo mesmo que resposta daria a esta inusitada e inesperada sensação de estar faltando algo. Sabe Chico?... Faltando um pedaço!
Na boa, pensei, repensei, cheguei ao lugar comum do “quero ser feliz, quero ter saúde, quero ter paz”, e ultrapassei... E não parei. Não estacionei em nenhuma dessas obviedades, nisto que todos querem – ora, tudo que é obvio demais não traz em si a força suficiente do convencimento, do “Eureka”, do bater do martelo de que, finalmente, descobrira a resposta para o motivo da inquietude. No caso, sobre o que eu quero da vida.
Insisti um pouco mais nas minhas elucubrações e cheguei a uma resposta um pouco mais convincente, pelo menos por agora:
- O que quero da vida é vivê-la! Disse em voz alta, quase em sobressalto.
- Quero viver a vida! Repeti em pensamento, quase tranquilo.
Vivê-la não apenas enquanto ser biológico. Aquilo de nascer, crescer, multiplicar e morrer. Não apenas respirar, comer, beber, etc. etc. etc. Eu quero, apenas, viver a vida – ingenuamente assim.
Viver a vida em todas as suas dicotomias – em cada uma delas. Vida e Morte. Alegria e Tristeza. Riso e Choro. Paz e Guerra. Saúde e Doença. Riqueza e Pobreza. Amor e Desamor. Amar e Ser Amado. Vício e Virtude. Crença e Descrença. Ouvir e Falar, e por aí vai.
Quero manter uma relação dialética com cada uma delas – também não quero conflitar com elas. Fugir de qualquer tipo de maniqueísmos. Dá as costas aos instintos passionais e viver os dois lados da moeda com serenidade. Sim, com serenidade pura e simplesmente por que ela – a vida – é simples assim. Ela simplesmente é!