Assim… Quero-te toda assim, abandonada... Victor Motta

Assim…

Quero-te toda assim, abandonada
em meus braços, louca, embriagada.
Sobre meu peito entregue, possuída,
em corpo, espírito, na própria vida.

Quero-te assim gemendo qual bacante.
que se entrega inteira ao fogo do amante,
que nas chamas do amor e em desvario,
beija, morde, arranha, suplica em delírio.

Quero-te assim, cabelos desgrenhados.
mancha escura em coxins molhados,
pelo suor que emana de teus seios,
altar sagrado dos mais ricos veios.

Quero-te assim nas horas de doçura,
em medrosas carícias, toda pura
afagando cabelos despenteados
como a mãe ao filho, entre cuidados.

Quero-te assim, irmã tão carinhosa
que ao louco irmão aconselha, temerosa
por sua vida do mundo desgarrada,
que a preocupa e faz desesperada.

Quero-te toda assim, fêmea, mulher,
sendo só minha, mostrando que me quer.
Quero-te assim, mistura de mulheres,
mãe, amiga, amante, o que quiseres
ser – e pelo que és – te quero tanto.

Pois se resumes tudo aquilo que sonhei
em dias de angustias e temores,
eu sei
que te quero enfim, pois és a vida
que quero
e junto a ti eu estarei.