Filhos Martha Medeiros
SILÊNCIO DENSO
o silêncio é denso
quando não existe argumento
tão triste quanto tenso
ainda resiste um sentimento
BESTA
A besta corre
O besta não pensa
A besta atira
Os bestas correm, não pensam ou atiram. Às vezes, fazem tudo ao mesmo tempo.
MULHER
Em recônditos pensamentos,
tu, mulher, ocultas teu pranto.
Expressão sublime e perene,
teu ser esvai-se em momentos.
Encerrada no mais belo manto,
tu és única, tu és encanto
LÁBIOS DE CARMIM
Tosco e demente, sou enrosco.
Fora da mente, um pobre indigente.
Sei que não sou ninguém,
talvez um alguém diferente.
Mas nada salva este grande desencanto,
nem mesmo o mais puro santo,
tampouco algum sacrossanto.
No entanto, quero seu encanto.
Desejo seu ser inteiro,
e ser inteiro só para você.
Mas sou e mais estou aos pedaços.
Não tenho como dar-lhe uns abraços.
Pela vida, esburacado como queijos,
nem mesmo esses posso tê-los.
Não tenho como dar-lhe belos beijos.
E de nada adianta esta reles esperança,
que maltrata, atormenta e nada alcança.
Entrego-me ao esperado e triste fim,
sem beijar seus doces lábios de carmim.
MORTAS OUTRAS
o vento balança verdes folhas
que, vivas, mantêm-se atadas
ao lado
de mortas outras
próximas entre si
porém distantes
THE UNFORGIVEN
a melodia é titânica e incinera
reverbera, pois é Metallica
e não importa a que ouvidos chegue
"o que eu senti, o que eu soube"
o que eu sei e saberei
não cabe em mim, nem nunca coube
foi profundo, atingiu e atinge fundo
eles dedicaram sua vidas
para conceber tal melodia
e agradar a todos, e a cada um
em cada noite, a cada dia
o que eu diria?
o imperdoável
é não apreciar
inquestionável melodia
NEM TÃO INCOMUM
meu senso não é comum
pois o comum destoa
deste incomum que sou
dos incertos pensamentos
tal qual dos sentimentos
todavia
nem tão incomum eu sou
se assim eu fosse
seria o que queria
e escreveria
o mais belo soneto
a mais linda poesia
“a folha branca
pede-lhe a inspiração:
mas, frouxa e manca,
a pena não acode ao gesto seu”
assim bem disse, e quis
um espanto de Assis
não o santo, mas o poeta
CONCRETO
sinto na pele
o toque
frio
tenaz
concreto
meu corpo sucumbe
mas não o coração, que sem noção insiste
tampouco a mente, que brava mente resiste
na sensação de um tempo estagnado
não mais suporto esta pressão
que só aumenta e atormenta
tempo, por que não passa?
venha logo e me leve deste inferno
por que esta eternidade?
será esta sua última maldade?
ah, não mais importa
pois agora eu realizo
meu iminente e certo fim
neste eminente instante
que, de agora em diante, será eterno, constante
minha mente inebria-se
e se entrega ao coração
que pulsa lentamente
e mantém a mente tão lenta quanto vazia
solto meu último suspiro
e, assim, não mais respiro
esmagado, morro sozinho
sob o peso do concreto
quisera eu não houvesse peso
quisera eu fosse abstrato
(COM)FUSÃO DE POETAS
chutei uma pedra no meio do caminho
e senti a dor que deveras nunca senti
não sei se cato a pedra, fico e edifico
ou se vou-me embora pra Pasárgada
mas aceitarei a lama que me espera
pois minha solidão, amiga inseparável
será minha última quimera, a tal fera
VERSOS DE FIDELIDADE
Atento, ao meu amor estarei presente
Agora e sempre, e assim, com todo zelo
Enquanto em face deste grande encanto
Que meu pensamento tanto se encante
ONE SMALL STEP FOR MAN
uma bota e a notável marca
marca fundo a humanidade
pr'além deste pequeno mundo
pra outra realidade
pisa em solo macio cinzento
e aprofunda o conhecimento
no silêncio de tal momento
nasce um grande sentimento
ao vento que não existe
deixa sulcos na história
mas a glória é questionada
e faz do grande um grande nada
ao descrente da vitória
a conquista é ilusória
e a chegada daquele homem
é como história de lobisomem
FEBRE
A febre é insana
esquenta e apoquenta
necessária e mundana
na pela vermelha
a febre é amarela
não é a primeira
tampouco a segunda
terçã talvez seja
mas de tanto sofrer
enfim me dou conta
no fim destas contas
que a febre tifóide
UMA AUTOANÁLISE PSEUDOPOÉTICA
é de se concluir, pseudopoeta
que és um ignorante convincente
és iniciante numa arte em ti inexistente
o sonho diletante é de ti assim distante
no importante divagar, és inteiro devagar
e, de tanta divagação, vago sempre estás
não dominas a arte que te abomina
quando esvai por entre toscos dedos
os segredos da alma feminina
MÃO
a mão que gentilmente afaga
é também aquela que esmaga
a que cura a triste chaga
a que o fraco embriaga
a que salva, se não naufraga
a que crava a afiada adaga
mas nunca aquela que apaga
pois, o que pela mão está feito
não há saga que desfaça, ou dê jeito
PARA ALÉM
depois que nós morrermos
dizem pobres, ricos e enfermos
ainda viveremos
uma incrível eterna idade
para além da dor e da saudade
uma vida de longa amenidade
e se isso é a tal verdade
nunca nesta vida saberemos
GIRASSÓIS
neste mar de girassóis
eu corro e rodopio
por este todo amarelo
tanto giro e tanto rodo
que de tanto tonto
caio e letargio
desmaio em arrepio
ENFIM NÓS
neste pouco tempo
nesta pouca vida
agora a contemplo
agora me convida
aqui nos encontramos
meu obscuro pranto
neste escuro quarto
neste pobre canto
sobre o cobre leito
ela me descobre
e leva do meu peito
a vida de um pobre
VENTO
eu vi um violento vento
que no último lamento
mostrou o seu tormento
destruiu neste momento
madeira, ferro e cimento
antes forte, agora lento
já não é mais turbulento
dissipou-se o forte vento
foi, e passou a ser alento
LUZ PROFUSA
o brilho se destaca
quando o restante
é luz difusa
errante
opaca
e naquele instante
a luz profusa
faz-se exuberante
MINHA VIDA
que a sua ausência
nunca me visite
e que passe longe
longe do meu mundo
que a sua presença
seja minha amiga
e assim nunca duvide
que você é minha vida
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