Eu sou uma Menina Levada mas Quietinha
AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.
Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.
Uma mulher chamada guitarra
Um dia, casualmente, eu disse a um amigo que a guitarra, ou violão, era "a música em forma de mulher". A frase o encantou e ele a andou espalhando como se ela constituísse o que os franceses chamam un mot d'esprit. Pesa-me ponderar que ela não quer ser nada disso; é, melhor, a pura verdade dos fatos.
O violão é não só a música (com todas as suas possibilidades orquestrais latentes) em forma de mulher, como, de todos os instrumentos musicais que se inspiram na forma feminina - viola, violino, bandolim, violoncelo, contrabaixo - o único que representa a mulher ideal: nem grande, nem pequena; de pescoço alongado, ombros redondos e suaves, cintura fina e ancas plenas; cultivada, mas sem jactância; relutante em exibir-se, a não ser pela mão daquele a quem ama; atenta e obediente ao seu amado, mas sem perda de caráter e dignidade; e, na intimidade, terna, sábia e apaixonada. Há mulheres-violino, mulheres-violoncelo e até mulheres-contrabaixo.
Mas como recusam-se a estabelecer aquela íntima relação que o violão oferece; como negam-se a se deixar cantar preferindo tornar-se objeto de solos ou partes orquestrais; como respondem mal ao contato dos dedos para se deixar vibrar, em benefício de agentes excitantes como arcos e palhetas, serão sempre preteridas, no final, pelas mulheres-violão, que um homem pode, sempre que quer, ter carinhosamente em seus braços e com ela passar horas de maravilhoso isolamento, sem necessidade, seja de tê-la em posições pouco cristãs, como acontece com os violoncelos, seja de estar obrigatoriamente de pé diante delas, como se dá com os contrabaixos.
Mesmo uma mulher-bandolim (vale dizer: um bandolim), se não encontrar um Jacob pela frente, está roubada. Sua voz é por demais estrídula para que se a suporte além de meia hora. E é nisso que a guitarra, ou violão (vale dizer: a mulher-violão), leva todas as vantagens. Nas mãos de um Segovia, de um Barrios, de um Sanz de la Mazza, de um Bonfá, de um Baden Powell, pode brilhar tão bem em sociedade quanto um violino nas mãos de um Oistrakh ou um violoncelo nas mãos de um Casals. Enquanto que aqueles instrumentos dificilmente poderão atingir a pungência ou a bossa peculiares que um violão pode ter, quer tocado canhestramente por um Jayme Ovalle ou um Manuel Bandeira, quer "passado na cara" por um João Gilberto ou mesmo o crioulo Zé-com-Fome, da Favela do Esqueleto.
Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado - contra o peito - lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.
Ponha-se num céu alto uma Lua tranquila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seu tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranquila num céu alto? E eu vos responderei: um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.
É por isso que as decisões que você e eu tomamos todos os dias têm uma enorme importância. Um pequeno ato de bondade feito hoje representa a conquista de um ponto estratégico. de onde você poderá, mais tarde,obter vitórias com que nunca sonhou.Já uma indulgência aparentemente trivial que satisfaça desejos ou raivas pode significar a perda de uma posição crucial, de onde o inimigo pode desfechar um ataque que de outra forma seria impossível.
Eu gostaria de ir embora para uma cidade qualquer, bem longe daqui, onde ninguém me conhecesse, onde não me tratassem com consideração apenas por eu ser “o filho de fulano” ou “o neto de beltrano”. Onde eu pudesse experimentar por mim mesmo as minhas asas para descobrir, enfim, se elas são realmente fortes como imagino. E se não forem, mesmo que quebrassem ao primeiro vôo, mesmo que após um certo tempo eu voltasse derrotado, ferido, humilhado - mesmo assim restaria o consolo de ter descoberto que valho o que sou.
AMOR BASTANTE
quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
Eu queria ir pra um lugar onde eu tivesse uma sensaçãozinha, ilusória que fosse, de que tinha alguém prestando atenção em mim.
Desfarce
Tento desfarçar a minha dor
com uma face, não se encherga
só eu vejo o sentimento
que sufoca meu coração,
entristece minha alma
e perturba minha mente
por dentro eu grito e choro como
uma criança sendo torturada,
mas por fora sou uma simples pessoa
tentando desfarçar a realidade que vive,
e desfarço tão bem que poucos percebem.
FELIZ, COMIGO
Não... Eu não estou querendo viver uma paixão arrebatadora
- Paixões assim são as que proporcionam os mais altos sonhos
E também as maiores quedas...
Mas, acredite, eu sou capaz de me apaixonar todos os dias!
E também não estou interessado em encontrar quem me ame de verdade
Já encontrei estas pessoas há muito tempo
E aquelas que não estão ao meu lado
Eu carrego comigo, em meu peito.
Ah, eu também não estou querendo viver um grande amor
Eu vivi todos os amores que a vida me trouxe
E foram lindos
Foram maravilhosos
E ainda são grandes amores, e vivem comigo, mesmo que já se tenham passado
Também não estou procurando alguém para toda a vida
Nem procuro alguém para um pouquinho apenas
Não estou procurando absolutamente nada
Neste momento, apenas retraio-me comigo,
E estou descobrindo o prazer e a felicidade enorme que é
Amar mais e melhor a mim mesmo.
PEDIR EM AMIZADE
Uma vez uma menininha de uns oito anos se aproximou de mim e disse: "eu queria pedir tua filha em amizade". Ela já andava rondando a casa, pois havia percebido a presença de uma criança da idade dela e estava louca para brincar, mas achei de uma singeleza ela "pedir" para ser amiga da minha filha, como se pedia em namoro duzentos anos atrás.
Crianças têm esse hábito. Lembro que, no tempo do colégio, às vezes alguma menina se aproximava e pedia: posso ser tua amiga? Geralmente era alguém desenturmado, que não conhecia outra maneira de criar laços a não ser solicitando formalmente. Raramente dava certo, pois amizade é uma coisa que se constrói devagarinho, depois de muitas emoções vivenciadas em conjunto...
Mas se fosse fácil, se bastasse pedir, eu saberia pra quem. Bateria no ombro do Guga e do Fernando Meligeni e com a cara-de-pau que Deus me deu, perguntaria: posso ser amiga de vocês? Aquele sorrisão que o Meligeni deu ao terminar o último jogo da Copa Davis vale mais do que qualquer atestado de idoneidade. Esses guris são muito gente boa. Eu não suporto videokê, mas com eles eu passaria horas cantando o repertório do Só Pra Contrariar e iria me divertir feito uma pagodeira nata.
Para a Marília Gabriela, eu pediria de joelhos: deixa, deixa eu ser sua amiga. A gente passaria tardes falando sobre tudo e sobre todos, seríamos duas entrevistadoras e duas entrevistadas, duas verborrágicas, duas mulheres tentando entender o mundo.
Para o Nelson Motta e a Constanza Pascolato, eu pediria com delicadeza: posso ser amiga da dupla? Tanto faz se no Rio ou em Nova York, se é para falar de música ou de moda, ouvir gospell ou jazz, tenho certeza que a elegância e o sorriso mandariam na conversa.
Eu gosto de pessoas inteligentes que enxergam o mundo com humor. Não precisa ser famoso. Tem muitas pessoas em quem eu bato o olho e penso: deve ser legal ser amiga dele. É gente que não carrega o mundo nas costas, que fala olhando nos olhos, que não se leva tão a sério, que é franca na hora do sim e na hora do não. É difícil sacar as qualidades de uma pessoa sem antes conhecê-la, mas intuição existe pra isso. Tenho vários amigos que enriquecem minha vida e se encaixam no meu conceito de "pessoas especiais", mas meu coração é espaçoso e está em condições de receber novos inquilinos: Pedro Bial, se você quiser, ainda tem lugar.
De que é feita uma amizade?
Engraçado, eu sempre fiquei pensando em que momento da vida foi criado esse sentimento... a amizade.
Quem será que compôs o primeiro par de amigos da face da terra?
Fico imaginando que eles devem ter tido muitas dificuldades nesse relacionamento, afinal foram os pioneiros em dar carinho, aparar arestas, serem muitas vezes incompreendidos e ainda assim estarem sempre de braços abertos para receber o outro quando preciso.
Bom, mas o tempo passou e hoje já sabemos muitas coisas sobre amizade.
Há de ser entender que a amizade não é algo somente que nos traz alegrias e esse é o maior desafio dela.
Há de se aceitar que se pode ter amigos diferentes de nós, em raça, religião, temperamento, criação, cultura. Isso na verdade não é importante na amizade.
Há de se saber que as regras principais da amizade são o respeito, a consideração, a tolerância e a humildade.
O respeito é primordial, aliás em qualquer tipo de relacionamento ele se faz necessário. Pessoas tem seus limites e esses limites devem sempre serem respeitados. O fato de termos amizade e intimidade com alguém , não nos dá o direito de violar certas regras que estão implícitas em uma amizade.
A consideração é um fator muito importante também. Não adianta sermos tudo de bom para alguém e nos momentos mais delicados e necessários para esse alguém, não termos a consideração que se resume na atenção devida.
Espera-se mesmo que a amizade, como qualquer outro sentimento, seja uma via de mão dupla. Não existe a possibilidade de só darmos, jamais recebermos e ainda assim sermos realizados nesse sentimento.
Não se trata de um 'toma lá dá cá', mas se trata de um 'eu me lembro quando eu precisei e você esteve comigo, portanto agora você precisa e eu estou aqui', e isso há de ser feito com um sorriso nos lábios e muito amor no coração.
A tolerância, talvez seja essa a parte principal.
Há de se entender que nenhum ser humano vive em total estado de bom humor a vida toda. Haverão dias que os ânimos não estarão bons, o coração de um deles não estará bem.
Isso sem contar que as pessoas em geral têm os mais diversos tipos de temperamentos e de atitudes.
Há de se saber que para se ter um amigo, alguns momentos desagradáveis dele teremos que suportar, passar por cima mesmo, ignorar, sabendo inclusive que ele em algum instante fará o mesmo por nós se for amizade verdadeira o que ele sente.
Há de se saber, aceitar e entender, que a perfeição em termos de ser humano não existe, cometemos todos, diversas vezes, falhas, enormes falhas. Nenhum de nós é o rei da verdade, nenhum de nós está certo o tempo todo... em algum momento o nosso amigo é que será a parte certa e por mais que o nosso orgulho nos impeça de dizer, teremos que aceitar.
A humildade há de precisar estar presente sempre.
Amigos que não convivem com isso, dificilmente conseguirão levar uma amizade avante.
Há de ser ter humildade pra dizer coisas simples:
Eu não sei, você me ensina?
Eu não consigo, você me ajuda?
Eu não posso, tenho medo, você vai comigo?
Eu errei, me perdoa?
Eu me arrependi, você me desculpa?
Eu não fui fiel a você, me dá outra chance?
Eu disse o que não devia, você pode esquecer?
Eu ando negligenciando nossa amizade, você me permite recuperar esse tempo perdido?
Ser humilde numa amizade, não significa se humilhar, significa provar ao outro o seu grau de importância na nossa vida.
Por fim, uma amizade há de ter altos e baixos sim, há de atravessar furacões, cair em abismos, há de se despedaçar toda......mas se for amizade de verdade, há de voltar, envolta em ferimentos, apoiada numa bengala, sangrando até...e há de encontrar o seu companheiro com o curativo nas mãos, amor no coração e disposto a dar o perdão!
Ser amigo, é todos os dias aprender alguma coisa nova, é sempre ter algo de que se arrepender por alguma coisa que se deixou de fazer.
Ser amigo é principalmente dividir uma emoção, saber acalentar um coração e deixá-lo voar pra longe de nós quando ele precisar.
Mas ser amigo é especialmente se recolher num cantinho e esperar esse coração voltar pra nossa mão no momento que ele achar que é bom.
Tem hora que bate uma tristeza tão grande
Que eu nem sei o que fazer e nem pra onde ir
É tanta coisa que eu queria dizer
Mas não tem ninguém pra ouvir
Então choro... Sem ninguém ver...
eu choro... Choro
Faço o possível para segurar a cabeça
Mas a emoção não quer
Que eu me desfaça Ou então que eu esqueça
Do amor daquela mulher
Eu choro... Sem ela saber...
Eu choro... Choro...
Choro por tudo que a gente não teve
Por tudo que a gente não realizou
Choro porque eu sei que ainda te amo
E você me amou e ama
Choro por tudo se assim for preciso
Choro porque eu sei que ainda te quero
Choro por tudo e por tudo lhe digo
Te quero, te espero...
Choro por tudo que a gente não teve
Por tudo que a gente não realizou
Choro porque eu sei que ainda te amo
E você me amou e ama
Choro por tudo se assim for preciso
Choro porque eu sei que ainda te quero
Choro por tudo e por tudo lhe digo
Te quero, te espero, te amo
Eu odeio que encostem o cotovelo, a bunda ou uma cerveja molhada em mim enquanto eu tento encontrar um espaço para dançar. Eu odeio que encostem em mim, odeio a pele de um desconhecido indesejado.
Para se fundar uma religião é preciso primeiro morrer e depois ressuscitar, a primeira eu não quero, a segunda eu não posso
As verdadeiras mulheres felizes
Acabo de ler um livro de Eliette Abecassis, uma francesa que eu não conhecia. O nome da obra, no original, é Un Heureux Événement, que pode ser traduzido para Um Feliz Acontecimento, mas é um título irônico, pois o livro trata sobre o fator que, segundo a autora, destrói as relações amorosas: o nascimento de um filho. Num tom exageradamente desesperado, a personagem narra o fim do seu casamento depois que dá à luz. Concordo que a chegada de uma criança muda muita coisa entre o casal, mas a escritora carrega nas tintas e cria um quadro de terror para as mães de primeira viagem. Se o nascimento de um filho é sempre desconcertante, é preciso lembrar que é, ao mesmo tempo, uma emoção sem tamanho. De minha parte, só tenho bons momentos a recordar, nada foi dramático. Mas mesmo que, por experiência própria, eu não compartilhe com a desolação da autora, ainda assim ela diz no livro uma frase muito interessante. Ao enumerar as diversas mazelas por que passam as criaturas do sexo feminino, ela me veio com esta: "os homens são as verdadeiras mulheres felizes".
Atente para a sutileza da frase. O que ela quis dizer? Que os homens saem pela porta de manhã e vão trabalhar sem pensar se os filhos estão bem agasalhados ou se fizeram o dever da escola. Os homens não menstruam, não têm celulite, não passam por alterações hormonais que detonam o humor. Os homens não se preocupam tanto com o cabelo e não morrem de culpa quando não telefonam para suas mães. Os homens comem qualquer coisa na rua e o cardápio do jantar não é da sua conta, a não ser quando decidem cozinhar eles próprios, e isso é sempre um momento de lazer, nunca um dever. Os homens não encasquetam tanto, são mais práticos. Eu, que estou longe de ser uma feminista e mais longe ainda de ser ranzinza, tenho que reconhecer o brilhantismo da frase: os homens são mulheres felizes. Eles fazem tudo o que a gente gostaria de fazer: não se preocupam em demasia com nada.
Porque nosso mal é este: pensar demais. Nós, as reconhecidas como sensíveis e afetivas, somos, na verdade, máquinas cerebrais. Alucinadamente cerebrais. Capazes de surtar com qualquer coisa, desde as mínimas até as muito mínimas. Somos mulheres que nunca estão à toa na vida, vendo a banda passar, e sim atoladas em indagações, tentando solucionar questões intrincadas, de olho sempre na hora seguinte, no dia seguinte, planejando, estruturando, tentando se desfazer dos problemas, sempre na ativa, sempre atentas, sempre alertas, escoteiras 24 horas.
Os homens, mesmo quando muito ocupados, são mais relax. Focam no que têm que fazer e deixam o resto pra depois, quando chegar a hora, se chegar. Não tentam salvar o mundo de uma tacada só. E a chegada de um filho, ainda que assuste a eles, como assusta a todos, é algo para se lidar com calma, é um aprendizado, uma curtição, nada de muito caótico. Eles não precisam dar de mamar de duas em duas horas, não ficam fora de forma, não enlouquecem. Isso é uma dádiva: os homens raramente enlouquecem.
Nós, nem preciso dizer. Nascemos doidas. Por isso somos tão interessantes, é verdade, mas felicíssimas, só de vez em quando, nas horas em que não nos exigimos desumanamente. Homens, portanto, são realmente as verdadeiras mulheres felizes. Que isso sirva de homenagem aos queridos, e sirva pra rir um pouco de nós mesmas, as que se agarram com unhas e dentes ao papel de vítimas porque ainda não aprenderam a ser desencanadas como eles.
