Eu e Voce de Luiz Antonio Gasparetto
De todas as vezes que me tentaram censurar as palavras acrescentei sempre mais uma, duas, ou três. Não por teimosia, por altivez, ou por sobranceria, mas apenas para tentar escutar o eco das palavras que ninguém me disse, mas que sempre escutei com gritos.
Tanto Abril, tanta fartura,
tanta falta de verdade,
onde a nova ditadura
não deixa de ter censura
pra quem não tem liberdade.
Chegam as colheitas, arregaço as mangas,
a cresta, o simpósio de tantos afins;
colmeias perfeitas, abelhas sem zangas,
mais o Santo Ambrósio na Casa Martins.
A vida é dos fortes que assim se alimentam,
sem medo ou receio dos bons dias maus,
benditas as sortes, as lidas que aventam
um homem no meio de quarenta graus.
Na fruta madura, com risos e queixas,
subo ao escadote, meto mãos à obra,
em grande cultura apanho as ameixas
e faço um pinote com a força que sobra.
Depois a vindima, depois do granizo,
no fino entrelinho de parra alquimista,
pra baixo, pra cima, há sempre um sorriso
feliz é o vinho que dá Boa Vista.
Faço o que ninguém aqui quer fazer,
levanto a enxada a dois metros de altura,
e vou mais além, onde a terra quer,
desde madrugada nesta vida dura.
No contrabalanço sem logro, sem preço,
colho esta virtude vivida a retalho,
e pra ter descanso que também mereço,
só peço saúde, respeito e trabalho.
Quando a festa é mais bravia
segue em frente e desarmado;
como é grande a valentia
na coragem de um forcado.
I
Hoje é dia de tourada
à velha moda portuguesa,
toda a praça é uma beleza
e os magotes dão chegada.
Vai começar a garraiada,
sobe a míni em euforia,
o descaramento da Maria
faz olhinhos para o moço,
o orgulho do que é nosso
quando a festa é mais bravia.
II
Ela entra e vai a trote
pra contemplar o grande artista,
quer fazer jus à conquista
com a pega e com capote.
E olha lá pró camarote,
o trompete é afinado,
ele num ar de avalentado
está ali de pedra e cal,
e quando entra o animal
segue em frente e desarmado.
III
Os amigos dão-lhe a mão,
a primeira é do mais forte,
outros mais vão dar-lhe sorte
e é tremenda a ovação.
Raspa o bicho pelo chão
a testar qualquer fobia,
entre o pó e a gritaria,
há arrojo e muita graça,
e os rapazes estão na praça,
como é grande a valentia.
IV
Chegou a hora anunciada,
cresce o touro em prontidão,
quando avança o valentão
entra o bicho em derrocada.
Ela toda entusiasmada
ele no touro encaixado,
grita o povo extasiado
a boa sorte do pegador,
e ela assina o seu amor
na coragem de um forcado.
António Prates
O que canto em abundância
são retratos de saudade...
És a flor da minha infância
E um cartão de identidade.
I
Nas passagens do rossio
o colorido do ervado,
velhas eiras, algum gado
e cem anos de pousio...
Na riqueza do teu brio
eu vivi sem importância,
sem o vício da ganância,
no carinho do teu leito,
é sincero e por direito
o que canto em abundância.
Ii
Para sempre a minha escola,
o meu teste de memória,
professora dona Vitória
e mil sonhos na sacola...
Sua imagem me consola
num padrão de eternidade,
vi em ti a liberdade,
muita força e muito medo,
e as promessas dum brinquedo
São retratos de saudade.
III
Aquela imensa multidão,
as promessas arrojadas,
com pessoas encantadas
oferecendo a exaustão...
Boa-Nova e devoção
demonstrados na constância,
o teu povo em abundância
vê passar mais um petiz,
mas que hoje ainda diz:
És a flor da minha infância.
IV
És a página mais amena
no meu livro desfolhado,
o sentimento emocionado,
a nostalgia que me acena...
Neste abraço para Terena
há carinho e amizade,
e aquela fraternidade
que eu guardo de criança...
foste tu a minha esperança
e um cartão de identidade.
Entre trilhos e artérias,
neste terço da nação,
o Alentejo está de férias
desde o Tejo ao rio Vascão.
Nesta terra quente e nobre,
pelo campo alguém o disse,
que o Alentejo era mais pobre
se a paixão não existisse.
Com o trigo que nos resta,
se o trabalho fosse ordeiro,
o Alentejo era o Celeiro
de dez nações como esta.
Se pensar bem na diferença
deste clima destemperado,
o calor não recompensa
os frios que tenho apanhado.
Aos domingos a preguiça
faz as contas ao serão,
entre os que foram à missa
e os que nem à missa vão.
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