Eu Deixo a Vida como Deixo o Tedio
MUNDO PLURAL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Hoje o tempo é meu sócio na vida que levo;
tenho mundo cabível na concha das mãos;
dou aos nãos do que sonho a medida real
do caminho de flores, mas também de farpas...
Não farei latifúndio do espaço excedente,
plantarei onde os olhos, a semente alcançam,
porque gente precisa partilhar o chão
pra fazer o seu campo e trasladar o céu...
Aprendi a ter tudo sem que seja o todo;
que meu tudo é meu algo, basta que me baste
sem desgaste ou batalha de vencer alguém...
Vejo além o bastante pra saber parar
onde o mar adverte que pertence ao peixe;
onde o feixe de sonhos encheu a braçada...
O PODER DA ÉTICA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Usava de todos os artifícios para tumultuar a vida do ex-cônjuge, com o qual tinha um filho de 11 anos. Além dos inúmeros truques que dificultavam a comunicação, quando ela estava com o filho, ainda criava inúmeras situações como inventar motivos para dizer desaforos com os quais tentava travar bate-bocas. Tentava, mas o ex-cônjuge sabia se conter; tinha calma e zelo pela ética e os bons modos, mesmo quando a tinhosa tinha coragem de ligar a cobrar, com o único objetivo de gritar impropérios. Ele atendia, ouvia tudo em silêncio, até o momento em que ela batia o telefone, para não ouvir a resposta. Uma resposta que ele não daria mesmo, porque não valia o seu esforço.
Com o tempo, o filho começou a se revoltar com a mãe, o que era natural, mas a mãe não entendeu a mensagem da natureza, e ainda se viu no direito de acusar o ex-cônjuge de falar mal dela, quando estava com a criança. Louca por uma confusão, a mulher nervosa foi cobrar satisfações. Mais uma vez com calma, o sujeito explicou que jamais falara mal. Que ao contrário, fazia de tudo para minimizar a revolta da criança, justamente falando bem. Muitas vezes até justificando as atitudes maternas com explicações bem difíceis, porque no fundo, não havia de fato justificativa.
Mesmo sem saber, aquele homem mentiu para a ex-mulher. Ele falava mal, sim. Sem querer, mas falava. A cada vez que o pai passava o telefone para o filho e ponderava: “Filho; ligue para sua mãe, pois ela deve estar tentando falar com você...”, o menino fazia, no coração e na mente, suas comparações. Toda vez que o pai falava bem da mãe, o menino se lembrava das vezes em que a mãe falava mal do pai. Sempre que o pai cumpria regiamente uma palavra dada à mãe, a criança recordava o número de vezes que a mãe faltou com a palavra dada ao pai. Ao ver o pai ponderar diante dos desaforos, inclusive quando ela ligava a cobrar para dizer tais desaforos, a comparação do filho era inevitável. Com a comparação, a revolta, sem qualquer tentativa paterna.
Ser honesto, ponderar, jogar limpo, ter calma, não aceitar provocações nem ser vingativo foi o que levou aquele homem a depor eficientemente contra aquela mulher. Ele não precisou pronunciar palavras... nem olhares e silêncios para seu filho. Ter postura, bom senso, ética e respeito era o quanto bastava para que sua imagem fosse a melhor possível perante aquela criança. Era dispensável qualquer discurso. Bastava ele ser do bem, para falar mal dela.
TEMPO DE VIVER
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Dizem que tempo é dinheiro. Não; não é. Tempo é vida. E não há quantia capaz de pagar a vida desperdiçada por quem usa o tempo todo para ganhar dinheiro.
FÓRMULA-VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Os últimos serão simplesmente os últimos. Os ótimos serão os primeiros.
IDADE URGENTE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Há um mundo pra lá do próprio mundo,
numa vida que o tempo não revela,
por mais fundo que o sonho fure a trama
da novela que mora em meus sentidos...
É por isso que faço do presente
o mais perto possível do infinito,
pelo quanto absorvo, imortalizo
fato e mito; momento após momento...
Tenho mundos bem meus e muitas vidas,
porque tenho que ter verdades próprias
com que possa iludir a realidade...
Minha idade requer essa tangente,
meu olhar ganhou lente prá distância
onde posso lançar meu pensamento.
PETER PAN
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um menino passado a lutar contra os anos,
uma vida enguiçada em balneário impróprio,
sob as perdas e os danos que o tempo confirma
sem acesso aos apelos do mundo irreal...
A criança que teima num corpo de adulto
é um vulto esquecido numa solitária;
um assombro que brinca de brincar de fato;
um retrato que pensa que pensa e que vive...
Tenho dó do menino que jamais cresceu,
distorceu a passagem do tempo na pele
sobre a gasta estrutura de puro tamanho...
Perguntar não constrange, se faço ao meu fundo;
em que rua do mundo acabou a saída;
a que horas da vida ele vai acordar...
BRINCAR DE SEGUIR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Confesso: sonhei tudo que a vida me permitiu, e quase nada chegou às minhas mãos. Mesmo assim valeu a pena, considerando a ilusão de cada dia que me deu mais um dia para sonhar de novo.
Sempre fui de fazer excursões no pensamento e nunca, em toda minha vida, fiz o que não foi de vontade livre. Dei ao vento a mistura dos meus tons, impus meus traços e me fiz assim: do meu eterno faz-de-conta. Sou resultado indiscutível do que sonhei, com realizações ou não.
Neste momento, já deixei a bagagem. Minhas mãos estão livres, minha cabeça idem, meu sentimento é de que a vida me deixou no parque do por enquanto, e se diverte na minha diversão. Meu caminho deixou de ser viagem, para se postergar na preguiça de medir o destino.
Mesmo sem ter chegado a lugar algum, sinto a trajetória cumprida. Minha história dilata o meu limite, sem compromisso de até quando. Só me resta brincar de prosseguir.
BEM VIVIDO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Nada mais do que a vida condizente ao pulso;
que o teatro restrito aos limites do pano;
ser humano em essência, fachada e contexto,
sob todo esse nada que revolve o ser...
Quero apenas meu tempo, nem um passo a mais,
meu espaço, meu dom, minha justa energia,
cada dia cravado entre as horas que tem
para o mundo ser mundo e seguir sua rota...
Sem espaço e pretexto com que rompa o vento,
livramento que adie o que será no fim
ou me livre do livro; a precisão da história...
Quando eu for só me digam que seja bem-ido;
sou alguém bem vivido e não será direito
ser um rio que tenta não seguir pro mar...
TEMPO É VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tenho tempo de olhar a manhã renascente,
receber dose a dose dos raios de sol,
pra depois ir em frente; mastigar meu dia
e fechar com a lua que seduz meu céu...
Não importa que as nuvens ponham pano em tudo;
nada pode apagar o que tal pano filtra,
nem deter o meu tempo de saber que o mundo
lá no fundo é tão raso que posso tocar...
Sempre tive um momento pra lembrar de alguém,
uma tenra saudade pra sentir sem dor,
um amor do tamanho de minha verdade...
Não me nego a ter tempo e confessar meu ócio,
ser humano que às vezes menospreza ofício,
pra início; pra meio; pra fim de conversa...
VAIDADE HUMANA
Falta mundo pro mundo que se multiplica;
não há vida o bastante pra vida em redor;
nada fica do sonho espremido no caos
dessa dor de aprender que não se sabe nada...
Todo mundo se julga o próprio mundo à parte,
quer viver para sempre, finge saber como,
é um gomo que tenta ser imposto ao todo,
ser o todo e ter tudo sobre tudo mais...
Cada dia se perde no tempo a ganhar
onde o tempo é tesouro que o chão oxida;
logo a vida se olha de frente pra morte...
Nossas mãos vivem postas além do sensato,
nossos pés estão longe das velhas respostas
que jamais compraremos por valores táteis...
ANTI-AJUDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Depois de muito viver, sem dar a vida ou morrer por coisas que não valem meu sangue, porque são coisas, crio e sanciono minha lei: não. Não "posso, quero e faço". Nesta nem em outra ordem. Quero e tento, exatamente nesta ordem, como tantos querem e tentam o que nunca está para todos. É, mas não está.
E acho que não vencerá o melhor. Vencerá o semelhante que naquele contexto for agraciado com as condições mais favoráveis; o que inclui preparo, desempenho, ajuda externa velada ou ostensiva, pequenos ou grandes detalhes que podem ser entendidos como sorte ou providência sobrenatural. Certamente a vitória seria de outro alguém, se o contexto fosse outro e todo esse conjunto desconstruísse, para depois reconstruir a posição de seus elementos.
Não saio de casa todos os dias, para ir à luta, e sim, aos projetos ou estudos, e ao trabalho. Vou à busca, ou à procura, sem aquela certeza dos campeões em potencial. Dos que sabem que um dia chegarão "lá", como não sei nem quero saber. Só quero ir. Mesmo que nunca chegue. O passado e o presente seguem ao meu alcance, mas o futuro não. O futuro está no futuro.
Realiza-me, ser um semelhante. Não fazer a diferença. Tão apenas manter a semelhança e contribuir para um mundo igualitário. Pelo menos no meu caso, viver não é um esporte. Nem uma guerra. No que tange a vida em um todo, pódio tem uma rima que me desagrada.
PESCANDO A VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Que viver não exija o rebuscar profundo;
a certeza do alvo, a precisão da meta;
já me baste seguir pra merecer o mundo,
e o amor nunca deixe de guiar a seta...
Pouco importa o que sobre desta linha reta;
meu olhar não precisa mergulhar tão fundo,
porque sei que a verdade nunca foi concreta,
só o chão da mentira sempre foi fecundo...
Pesco a vida sem pressa, deixo meu anzol
passear pelas sombras, ir à luz do sol,
sem buscar o sentido que meu sonho faz...
Só supero a mim próprio, não quero troféu,
não é pelo morrer que se conquista o céu
nem a guerra tem saldo pra comprar a paz...
PÉ NA VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Tome a causa. Construa seu efeito. Veja em volta, existe um mundo que gira, e pouco importa se alguém deixa de acompanhá-lo. Faça o peito sentir que seu coração tem a dor tão somente como corda propulsora de novos passos.
Entenda que só se morre de morte, para que se acenda o desejo de viver o tempo. Feito isto, leve o sonho nas asas e não traga o fim para o meio da jornada. Deixe o susto pra beira do infinito, que por ser infinito não tem pressa de assustá-lo.
Seja forte o suficiente para ser quem você é, enquanto está por aqui. Jamais esteja por força nem contingência, ou por não lhe restar alternativa. Seria viver por viver, e por viver não se vive de verdade. Só se deixa seguir.
Tenha fé na estrada, no sonho e nos próprios passos, ao despertar e saber o que deseja de si mesmo. Ponha pé na sorte, no chão e no futuro, a partir do presente. Só se vive de vida, o resto é morte, a morte fica para depois futuro.
REETERNO AMOR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A vida exige muito mais de você do que de mim. Vivemos em um mundo machista. Você amadureceu, constituiu família, fez filhos e não teve o direito de se manter menina para ninguém. Não seria diferente para mim. Liberdades divergem de gênero para gênero, mesmo na sociedade contemporânea, quando a mulher conquistou direitos, ganhou espaço, invadiu o mercado de trabalho. No entanto, ainda luta para ser simplesmente mulher. Não mulher objeto, mas aquela que pode ser quem é, para quem quiser, sem que isso deponha contra sua idoneidade.
Também amadureci, constituí família, fiz filhos, mas não paguei um preço tão alto. Exigi minha liberdade, mesmo com todos os compromissos e as convenções dos laços formais. Por essa liberdade unilateral bem própria do mundo machista, o que seria condenável no seu caso é admirável no meu. Pude guardar para você, aquele menino que a conduzia mundo afora, sem a mínima preocupação com o que fizesse pensar. Que a iniciou nas caminhadas noturnas, nos banhos em cachoeiras, na intimidade com a natureza e a nudez do corpo. Aquele menino acanhado para os outros, mas desinibido para você, e que ao seu lado convertia tudo em poesia.
Quando nos reencontramos, cheguei a pensar que poderíamos reviver o passado sem ferir o presente ou ameaçar o futuro. Você tentou, reconheço, e sei que no fundo, aquele amor ainda vive no seu íntimo. Vi em seus olhos o eco das palavras que o redeclararam para mim. Porém, não foi difícil perceber que o reinício de nossas caminhadas, nossos banhos em cachoeiras e a intimidade com a natureza, em todos os sentidos, teriam vida breve. Seria fácil para o "menino", reconstruir aquele mundo em nossa particularidade, mas a "menina" poderia sofrer as consequências de ser menina e mesmo assim evocar esse direito, se a particularidade viesse a público.
Mesmo assim foi compensador. "Reeternizei" momentos. Eternizei "remomentos" e me "ressenti" amado. Sem ressentimentos maus. Apenas bons. Recolhi meu amor e o reguardei bem fundo, pois se não posso exercê-lo com eternidade contínua, tenho esperanças de lá na frente, algum dia, "reeternizar" outra vez, ainda que o "remomento" seja mais curto e furtivo. Eu a amo. Com o mesmo amor de menino. Aquele amor que jamais teria dado certo, se o tornássemos convencional.
ONIPRESENÇA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Se você não está de bem com a vida, não adianta ir pro Caribe ou pras Ilhas Cayman, pois a vida está por toda parte.
VIDA POR VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Já não gasto meu lume com gente sombria;
que resvala, ressente, mais mia que fala;
tem os olhos de ocaso e semblante contrito
como quem nunca sai da masmorra que leva...
Não vou mais à procura de gente sem cor,
passageira da dor que por vezes nem há,
resguardada e que nunca se confessa bem,
porque teme que o riso a denuncie fútil...
Afinal me cansei dessa gente remosa,
pesarosa e com ares de pura mortalha;
tem um luto constante, uma nobreza fria...
Quero gente mais viva, menos recolhida,
dou a vida por vida e negocio sonhos
que não cedem ao peso dos que nunca dormem...
VIDAS DE UMA VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Uma vida bem fértil; de muitos fazeres;
muitas quedas, viradas e voltas aos pontos;
dores quentes, prazeres, verdades e sonhos
que não foram verdades, ou às vezes sim...
Tive tantas paixões, que me fogem à conta;
fui alguém de alma tonta e fui sóbrio pra ser,
porque vi que viver exigiu recondutas
nos momentos limite; nas beiras de abismos...
Nesta hora me aninho pra chocar lembranças
que não geram filhotes, mas me servem vinho
de saudades bem doces, mesmo quando amargas...
Vejo a morte bonita, com véu e grinalda,
mas ainda pretendo me atrasar pro ato
e me cato sem pressa de me concluir...
NADA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sei que vives, pois te vejo
nos desvãos do vai e vem...
vida normal.
Sem repulsa nem desejo,
hoje não te quero bem...
nem quero mal.
Tudo em ti é tanto faz;
não me desagrada em cheio...
nem agrada.
Não há conflito nem paz,
não te amo nem te odeio...
eu te nada.
CULTO À PREGUIÇA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Vida boa de olhar deste meu canto;
deste mundo ao alcance dos meus pés;
desses braços de chão arborizado
e das tiras de manto entre a folhagem...
Vida fácil de alguém que se acomoda
com a simples riqueza de um quintal,
muita sombra, o cachorro do vizinho
e a moda longínqua de viola...
Mundo bom de sentir numa saudade
que não é de ninguém ou tempo algum,
só invade a magia de sonhar...
Corajosa viagem da preguiça
que se doa e veleja tempo afora
ou enguiça e se perde por prazer...
ÁRVORES DA VIDA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A sombra fresca e revigorante que nos enche de vida e paz, é o fruto generosamente ofertado por muitas árvores que os tolos dizem que não dão frutos.
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