Erasmo de Rotterdam Elogio da Loucura
Nada
Adoro fazer nada. Quando nada faço sou indesejável. Nesse instante é o que faço, nada. O nada parece torna-se impuro. Como pode alguém não fazer nada? Eu posso. Acanho-me e ruborizo quando sou elogiada de malandra, folgada, não tenho apreço por elogios. Essa timidez ainda me mata.
Cheiro
Ah! Esse meu olfato
ele é muito cruel comigo
Se o teu cheiro é diferente do meu
e é gostoso, alucino
sou amante enlouquecida
Quando cotidianamente
misturado ao meu
perco o fascínio
ganho um amigo
Se o teu cheiro
for misturado ao de outras
serás indesejável
terás cheiro de cachorro molhado
Para mim
estarás amaldiçoado.
Degrau a degrau
Eu nunca tive pressa,
nunca corri,
sempre andei
com os meus passos curtos e lentos,
e nessa minha constância
sempre consegui fincar a minha bandeira
no topo das mais altas
montanhas.
Esterco
Disseste bem
Não valho um esterco
Foste o esterco falaz
que tentara adubar e adular
a mim, essa linda roseira
germinada entre as duras rochas.
O esterco há tempo
fora perdendo os atributos
as particularidades
propriedades
penetrabilidade
Hoje tu, esterco
só aduba e lisonjeia
ervas daninhas.
Zeus
Meu magnífico Deus grego
Vejo que se encontra perdido
Por essa semideusa que brilha
Ofuscando os seus sentidos.
Sua profecia de macho dominante
Da promiscuidade - amante -"brilhante"
Empunhando a sua égide tosca
Não passa de um pastor malogrado
Revolvendo nuvens com trovões e raios
Tentando implodir o seus indomáveis sentimentos
De ciúme, inveja e raiva
Dentro do seu peito, aglutinados.
Toque
Um hangout ao alcance de um clique
Um contato na lista que os olhos não piscam
Uma vontade de falar que desequilibra
Um medo generalizado de dar o grito
E assim se sacrifica
Enche o raio do saco e
Desliga.
Flor roubada
Lembra da flor vermelha que me ofertou?
Estava no carro que a gente comprou
Era linda, fiquei lisonjeada
Depois, fiquei sabendo que foi roubada
Logo me descontentou e,
a deixei esquecida
murchou no painel do carro
Lembra dos espinhos que lá ficaram?
Eu engoli os desgraçados
com um sorriso no lábios
Mas até hoje encontram-se
em minha garganta entalados
É assim a vida
feita de pequenas nocividades
que desvendam grandes enigmas
da personalidade
Uma flor roubada
provoca grandes feridas
Uma risada para o amor
enfraquecido, desiludido
um artifício
para suportar até o momento
da derradeira despedida.
Loucas
Irmãs, somos loucas
Loucas maravilhadas
grandes almas
desalinhadas
Nossos homens
deslumbraram
Quiseram apertar o nó
puxamos a ponta do laço
Eles, tornaram-se EX
e não entenderam o significado
Explico: EXcêntricos, EXportados
Não entenderam?
São vazios, ficaram incomodados
Desejando de volta
as loucas ao lado
Então mando aos EX's alguns adjetivos
num contexto de exaltar
vocês foram EXpurgados
Dessa família, EXcretados
A flor do poeta
O néctar, a sua alma mais profunda
O pólen que germina em palavras
inspiradas nas tenras folhas esvoaçantes
os mistérios, dos perfumes das pétalas
As cores, o amálgama da beleza,
solidão misturada em fantasias
O caule que a brisa dobra
são sentidos que a poesia abriga
No outono, a flor do poeta
canta folhas secas, nostalgia
A sedução não é mérito da primavera
é o ocluso na bela flor da poesia.
Ilusão da beleza
Teus olhos claros
irradiam o brilho da tanzanita
de enlouquecedora beleza
enquanto, matem-se vestida
enrolada no tecido negro
nessa burca bendita
acolhedora dos defeitos.
És mais feia que uma nuvem carregada
na maturidade à trovoada.
Essa sua crença deve ser mantida
num mando que a proteja
capaz de submeter ao desejo
quem gosta do seu azul cortejo
ludibriado em segredo.
Partir
Quando parto para uma longa viagem
Não reparo mais nas estradas, às belezas dos campos
que ao lado correm e se distanciam
Nem presto atenção nas conversas durante o trajeto
não me lembrarei das palavras ditas
Quando parto
Parto consciente como quem sabe ir
Não importando lembranças e histórias dos anos vividos
Muito menos os beijos e fotografias da despedida
Não olho para trás quando me encontro no corredor de embarque
Tudo se torna passado no presente da partida
Eu que parto, vou, não fico
Quando parto
Poderá ser para voltar, o que seria uma nova partida
Se volto, sei, não vou encontrar o mesmo lugar
do dia da partida
Eu, que parto
Sei ir e sei voltar
É me conhecer e reconhecer
As mudanças que acontecem depois da partida
É o novo em causa
As diferenças nas estradas, os campos passaram a ter casas
Os amigos não mais encontrarei
Os seus corpos e faces se transformaram
Suas filosofias de vida estão apoiadas em novas bases
Eu, que sempre parto
Parto com sabedoria, sabendo que nunca voltarei ao passado
Portanto, nunca olharei para trás na partida
Partir é reconhecer a eterna despedida.
A mentira da Marília
Como foi capaz Marília de me enganar desse jeito?
Estamos um pouco distantes bem sabe mas, vem pedindo a minha ajuda
Corro atrás que nem louca
De repente, vejo a sua foto postada e observo, encontra-se noutro país
Curti, me senti feliz, desencanei da preocupação
Recebi o telefonema do estágio que pra você eu consegui e, somente agradeci
O Pedro, lembra dele, aquele que você queria conquistar
falei pra ele da sua condição, então, ficou com a Márcia
Que te aconteceu Marília?
Agora descobri
Postou uma foto antiga sem data-la
confundindo toda gente, sem sair do seu lugar
Os amigos ironizaram, a sua timeline virou bagaço
Marília, não sei o que dizer, perdeu a compostura e
todas as oportunidades de encontrar a felicidade
com a sua brincadeira infeliz.
Vida perfeita
Penso no passado e me lembro o quanto fui feliz,
Hoje, no presente, que no futuro será o passado, sou feliz
Logo, no futuro lembrarei do passado o quanto fui feliz
Portanto, o quanto eu viver, viverei sempre feliz
Esse é o estado da arte de viver.
Sobre você
Eu queria escrever sobre você
Já me disseram que não sou boa com as palavras
Talvez seja a minha ironia que desmantela a minha escrita
Escrever sobre você é demasiado complexo
É como arrancar da cartola um coelho
zombar e criar ilusões com o nada
Com essa mágica, a mim, devem respeito
Descrever as partes físicas, as mãos pequenas
nariz pontiagudo, corpo roliço
andar da preguiça
algum encanto sempre fica
As palavras que sussurradas, saídas dos finos lábios
têm leve doçura, mesmo embaladas pela língua ferina
Os olhos não se fixam, sempre olhando de menesgueio
com certo galanteio
buscando solicitude de alguém por perto
não do meio
Em você todo o brilho do físico se perde
perante o seu interior, a civilidade, o zelo
O carisma como se doa e comunga socialmente
amparando, franqueando os necessitados
sem "cobiçar", como se estivesse em Calcutá
voluntário do bem com posses alheias
Um perfeito filho, sonho de toda mãe, homem com "H"
garanhão de pasto
Com as noras, não deixa água aos sedentos, faltar
Relutante às datas comemorativas
mas não falta pro jantar.
Eterno Vergel
Sente-se bem?
Ganhou com o que fez?
A adrenalina deixou o seu sorriso mais sarcástico?
Falou para os amigos e família o que você fez?
Sentiu prazer em pisotear o meu vergel?
O meu vergel é de bits
Ele é apenas a minha arte em fotografia
O meu sentimento em código
O meu delírio mental
É incumbência do tempo fazer desaparecer
o que é material
Vamos cair no esquecimento
Só o meu vergel não irá sumir
E você, lá na sua cerração em ostracismo
Atributos levados da terra, inveja e ciúme
Assistirá o meu vergel brilhando na nuvem.
Secar o erudito
Abri um antigo estojo
esquecido,
no seu bojo
canetas de finas penas
folheadas a ouro
Veio-me lembranças
parcas
de valores estreitos,
as canetas seriam de efeito
àqueles que se sustentam
pela pompa do objeto
pela ostentação
As penas, além de mim,
tiveram outros donos
que nada fizeram com elas
Fui homenageada
e as obtive por prenda
como estratagema
para secar as minhas escritas
assim, como o tinteiro
que junto delas, secou
Joias improdutivas
ferramentas impróprias
sem envergadura
às prosas e poesias.
Gaita
A gaita ele tocava
para agradar a sua amada
Ela suspirava...
No meio da música ele sempre parava
De súbito tinha náuseas
Na pia tossia, cuspia
lavava a cara
A amada nada indagava
não entendia
o tamanho esforço
que a gaita lhe exigia
Ele mostrava talento
mas tinha dificuldade
com o tal instrumento
Ora gaita, ela exclamou
numa noite fria
Com tantos instrumentos no mundo
Por que ele não escolheu
o que mais lhe apetecia.
Canto da insônia
A noite começa a ficar longa
A briga é entre mim e a cama
A máxima está no não pensar
Não, não tem jeito
Tudo emaranha nas lembranças
Vejo Bandeira na tela escura da TV
Leio Florbela tão viva que fica na cabeceira
Escuto Pessoa nas lástimas de Belchior
Numa nuance, na neblina da madrugada
Forma-se a imagem do meu menino
Tão real, tão lindo
Inatingível, se desfaz e morre
Minha face apresenta desgaste
E o dia nasce perfeito.
Transtornado
Enquanto eu penso
Outros detonam
inutilizam
Enquanto eu faço
Outros desfazem
abominam
Enquanto eu vivo
Outros sofrem
aniquilam
Enquanto eu feliz
Outros detestam
retrocedem
Enquanto eu poesia
Outros marasmo
desatinam
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