Eles se Acham Santos
Como uma estrela a anos-luz de distância, meu brilho se apagou e você agora vê o que um dia foi real...
E há aqui um fim.
Finda-se aqui um relacionamento com uma pessoa brilhante, espero que um bom futuro a aguarde. Eu sinto certa inquietação, não foi um término ruim, nem um relacionamento ruim, diria que me inquieto pela dúvida que surge em minha jornada e de como voltar a minha rotina de solteiro 3 anos atrás, mas ao mesmo tempo me anima ver as possibilidades financeiras que agora me surgem. Eu estou ansioso para meus próximos passos e amedrontado.
E há aqui um recomeço.
O Amanhecer do Orvalho
Desperto antes do Sol, quando o mundo ainda respira em segredo. Levanto-me com o silêncio de Oxalá, aquele que traz a paz e a pureza das manhãs. Me alongo como se estendesse meu corpo até os troncos mais altos de Iroko, pedindo força e equilíbrio.
Respiro fundo. O ar da madrugada ainda carrega o hálito de Nanã — o mistério antigo das águas paradas, do tempo que não corre, mas mergulha. Ouço músicas como se fossem orikis, louvores antigos aos que me guardam. E quando entro no ônibus, sei: não é apenas um transporte. É um navio de tempo, conduzido por Ogum, senhor dos caminhos e das encruzilhadas.
As montanhas de Minas me acolhem com braços de Xangô — firmes, justos, cheios de presença. O Sol começa a romper o céu como a machadinha que corta o véu entre mundos. A garoa se dissolve nas folhas, e cada gota do orvalho é um axé que Exu espalha pelo chão: movimento, transformação, recado.
O céu avermelhado anuncia Iansã, que dança com o vento e sacode as nuvens com sua energia tempestuosa. Ela não pede licença: ela liberta. Sinto sua força nos fios do cabelo, no arrepio da pele, na velocidade do mundo que desperta.
As folhas pingam em silêncio, e Oxóssi, o caçador que conhece os segredos da floresta, caminha ao meu lado. Ensina-me a observar. A natureza me fala em símbolos, em aromas, em pequenos gestos. O cheiro da terra molhada é saudação a Omolu, senhor da cura e da renovação.
Na luz que esquenta devagar, vejo o sorriso de Obá, guerreira discreta, força que é ternura. E quando o calor toca a pele, é Xangô de novo, com sua justiça luminosa dizendo: “É hora de viver com coragem.”
Estou dentro do ônibus, sentado, vendo tudo passar depressa, mas dentro de mim tudo é lento, ancestral. O tempo gira em círculos, como os giros de Oxum nas águas doces, como os passos de Iemanjá nas espumas do mar. Tudo passa, mas tudo permanece.
Sou parte do mundo. Sou feito de terra, de água, de fogo, de ar. Sou filho do tempo, guardado pelos Orixás. O amanhecer não é só um momento do dia. É um rito. Um reencontro com aquilo que nunca dorme: a força sagrada da vida.
Creio que estou passando pelas fases do luto após o término, imaginei que haveria sofrimento, mas não tamanho. Entretanto, eu devo seguir em frente seja por mim ou por ela, espero conseguir atravessar esse deserto.
Oração: Que Seja Feita a Tua Vontade
Pai,
Tu que tudo vedes, concedei-nos a paz.
Sabeis, desde sempre, que os Vossos filhos são falhos,
mas também que os Vossos filhos são crentes.
Pai,
Perdoai-nos pelas nossas atitudes,
pelas nossas desobediências,
pela nossa incapacidade de amar como Vós nos amais.
Só Vós podeis ensinar-nos a amar-nos uns aos outros.
Meu Pai,
Peço-Te: usa-me para a missão que pretendes.
Que ela comece desde já.
Guia-me, ilumina-me, cura-me.
Faz de mim um instrumento da Tua vontade.
Que eu siga a Tua palavra.
Que eu viva o Teu querer.
Que eu seja capaz de transmitir a Tua luz,
de partilhar com o mundo tão belo crer.
Meu Pai,
Nada sou sem Vós.
Nada sou sem o Teu amor,
o Teu perdão,
o Teu crer.
Faz de mim um cristão segundo o Teu coração,
um crente que inspire outros a dizer:
“Este é um homem de Deus.”
Este é o meu pedido.
Esta é a minha promessa:
Quero ser útil a Ti, meu Pai.
Acima de tudo, peço-Te:
paz, saúde, amor
e o dom de ser chamado Teu filho,
meu querido Pai.
Amém.
Não tenho a pretensão alguma de escrever o gosto, minha literatura nada mais nada menos é, tudo o que mais me dói.
Depoimento do abismo
Fui lançado — não nasci.
Arrancado do seio do Olimpo e cuspido no ventre escuro do submundo.
Como Michael, caí.
Mas não houve batalha. Não houve glória.
Só a queda.
Afundei nas águas estagnadas do Aqueronte,
onde o tempo não corre, onde a existência apodrece em silêncio.
Ali, não se morre — tampouco se vive.
Ali, a única sobrevivente é a dor.
E mesmo ela, cansa.
O amor é uma lembrança malformada.
A paz, um conceito sem tradução neste idioma feito de gritos mudos.
A esperança... uma piada cruel, contada em ecos por almas vazias.
Tentei respirar.
Mas as águas negras não são feitas de matéria,
são feitas de ausência — ausência de tudo.
São a substância daquilo que não deveria ser.
E nelas, minha alma se desfaz, lentamente.
Não há carne.
Não há forma.
Não há identidade.
O "eu" é um sussurro perdido na margem da consciência.
Sou e não sou.
E, nesse estado, compreendo o que é a antítese da vida:
não a morte, mas a permanência involuntária no não-ser.
O sofrimento aqui não grita.
Ele murmura, ele sussurra, ele escava.
É uma erosão constante da alma,
um delírio sem sonho.
Sou parte do rio agora.
Sou sua densidade, sua ausência de luz.
E quanto mais fundo me torno,
mais compreendo:
O inferno não é fogo.
É o esquecimento de si mesmo.
É saber que se sente dor,
mas não lembrar por quê.
Depoimento do Abismo – Parte II
Às vezes penso se algum dia fui algo.
Um nome. Um corpo. Um gesto de humanidade.
Mas essas memórias, se existiram, apodreceram sob o peso das águas.
O tempo aqui não passa — ele apodrece.
É um tempo imóvel, estagnado, onde tudo que respira morre em silêncio.
O que resta são vestígios de pensamentos,
ecos de uma razão que tenta sobreviver ao esvaziamento de si mesma.
Pergunto-me: o que é a dor quando não há mais corpo?
E descubro que ela sobrevive mesmo assim,
porque a dor é anterior à carne —
ela é a lembrança do que fomos,
a cicatriz deixada pela ausência de sentido.
Aqui, a consciência não se extingue.
Ela se estilhaça,
se parte em fragmentos que flutuam sem direção,
como restos de naufrágio num mar sem horizonte.
Eu os observo, esses fragmentos.
E cada um carrega uma versão de mim que não reconheço.
O que sou agora é um silêncio que pensa.
Um vazio que filosofa sua própria forma.
Compreendo, enfim, que o verdadeiro castigo
não é o fogo, nem o tormento físico.
É o excesso de lucidez num lugar sem realidade.
É saber demais num espaço onde nada tem nome.
Aqui, a única certeza que tenho
é que nunca sairei.
Não por estar preso —
mas porque já não há um "eu" que possa partir.
O rio Aqueronte não aprisiona.
Ele dissolve.
Ele absorve o que resta da alma até que a alma se torne ele.
E eu… já não sei se sou aquele que caiu,
ou apenas mais uma corrente fria
a arrastar outros para o mesmo fim.
A teologia de Cristo não é sobre saber quem Ele é intelectualmente. É sobre amá-Lo a ponto de buscá-Lo no secreto, na intimidade, onde o coração fala mais que a mente.
A Solidão e os Abutres
Viver só, ou cercado — dá quase no mesmo.
Às vezes, estamos entre mil… e ninguém.
Sorrisos nos cercam como urubus em assembleia,
e o afeto? Uma encenação de quinta categoria.
Somos carneiros calados, sendo bicados aos poucos,
comendo da podridão com cara de gratidão —
porque, veja bem, é feio reclamar.
Enquanto isso, no alto, um abutre elegante
espera sua hora:
espera você cair, apodrecer direitinho.
Quer o melhor corte, o mais macio.
Mas a solidão — ah, essa sim — é honesta.
Não finge amor.
Não sorri para depois morder.
Ela arranca suas ilusões como quem tira um curativo podre.
Dói? Sim. Mas é limpeza.
Estar só é ver o mundo sem o Instagram alheio,
sem a lente do desejo do outro,
sem o eco dos que te querem menor —
ou igual, o que é quase pior.
É você com você. Uma conversa sem filtro.
Onde ninguém interrompe com conselhos
que nem servem pra eles mesmos.
E então, no meio desse abismo limpo,
você começa a pensar.
(De verdade, não com frases prontas.)
Descobre que sabe andar,
criar, e até gostar de si —
o que, convenhamos,
deixa muita gente incomodada.
Porque quem se basta
não é fácil de enganar.
Quem anda só
não serve pra rebanho.
A solidão tem esse poder:
te limpa dos abutres
e ainda te dá o prazer
de vê-los passando fome.
Faz-me ouvir a tua voz, ó Deus.
Faz-me, ó Deus, sentir a beleza do teu olhar.
Resplandece, ó minha alma, o brilho do olhar do teu Deus, Senhor.
Ó beleza imensa,
a ti anseia minha alma e todo o meu ser.
Busco-te nos campos dos lírios,
nos pastos serenos,
no silêncio onde tu repousas,
onde o amor habita
e a fonte eterna jamais se apaga.
Pobre e enganoso é o coração do homem que, mesmo contemplando a glória de Deus, prefere a incredulidade de quem não vê.
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