Despedida de uma Pessoa Querida
O homem se molda à sua realidade. Reclama de uma refeição repetida quem nunca sentiu o estômago vazio por dias. Reclama de seu amor quem nunca dormiu sozinho em um colchão duro, sem abrigo nem abraço. Reclama de acordar para o trabalho quem nunca sentiu o peso da porta fechada do desemprego e o olhar de desprezo da sociedade. Reclama da vida quem nunca enfrentou a violência, a injustiça, a miséria, a fome que corrói ossos e esperança. Reclama de existir quem nunca precisou lutar para sobreviver, quem nunca foi invisível aos olhos de um mundo cruel.
Estou em uma fase da minha vida em que abri mão de tantas coisas… e percebi que a mais sábia de todas foi abrir mão das discussões, pois percebi que a paz interior vale muito mais do que a vitória momentânea de uma palavra.
Não posso ensinar nada, porque ainda vivo em construção, minhas certezas são andaimes e meu eu, uma casa inacabada.
Me reconstruo tijolo por tijolo, um castelo de esperança erguido da ruína, cada pedaço, uma vitória sem testemunhas.
O mal não é uma falha ocasional da humanidade, mas um traço indelével de sua essência, irreversível como o tempo.
O silêncio cresce em minha mente como uma floresta de ossos. Cada palavra que escrevo é uma ave de vidro, tentando voar sem quebrar.
Entenda: cada cicatriz que você carrega é uma medalha invisível, prova sagrada das guerras internas que você enfrentou e venceu.
Fiz do silêncio uma estratégia, no silêncio o trabalho cresce sem ruído, o resultado fala mais alto.
Conheço a fome, do corpo e da alma. Uma seca os ossos, a outra esvazia o coração. Que nunca encontrem morada em mais ninguém.
A coragem que guardo é prática diária, não espero grandes provas, faço as pequenas, elas somam uma vida inteira de bravura.
Já fui uma ovelha que se perdeu dos cuidados do Senhor, vaguei pelos montes ferido e cansado, mas Cristo, com amor, veio me buscar. Hoje, transformado, reconheço, meu Pastor jamais me abandonou.
Até aqui, minha existência tem sido uma verdadeira odisseia. Sobrevivi a provações que desafiaram os limites do possível, aprendi a domar o ímpeto do coração e a pronunciar um “te amo” somente quando a alma reconheceu a verdade do sentimento. Vivi realizações tão grandiosas que reduziram meus antigos sonhos à mera sombra do que a realidade me concedeu.
