Depoimento para uma Garota que eu Amo
A tempestade nunca para
e a ferida que foi aberta não sara,
talvez porque eu não queira,
ou talvez só agora ficou estampada,
no momento em que deitei na banheira
e já não importava mais se as águas eram geladas.
Os mares são turbulentos
mas eu já não temo mais os ventos;
os vulcões congelaram
mas ainda carrego o óleo e a brasa
e não importa oque aconteça,
não serão esses cortes os que me calam, ou que me param.
Não temo!
Mesmo sendo cada vez mais escuro o caminho de casa.
Hoje eu quero ser feliz.
Hoje eu estou afim de postar foto, hoje eu tenho créditos, hoje ganhei na lotéria, hoje eu tô feliz, hoje eu tô afim.
Hoje é hoje. Não. Hoje eu acordei, eu estou bem, estou vivo, estou me sentindo, hoje eu tô de sigilo.
AMAR (AINDA) SOU EU
Meu modus operandi é um caos
que mora lá dentro de mim,
mas ô casinha bagunçada.
Meu sol é meu silêncio
de cabelos desgrenhados,
pés afundados e descalços.
Meu grito é meu corpo de bigorna
que trasforma tudo de peito aberto.
Meu amor é polido em bate papos virtuais,
transparente, indecente, complacente,
que fere a carne com seu corte de estampido
em meio ao congestionamento do trânsito,
promessas e mentiras que se tornaram reais.
Meu desejo é de molhar a cueca por apenas um sussurro,
mesmo que a vida se abra doente e impossível
como Narciso ávido e no cio.
E na passagem pela Estação do Inferno,
Pirajá ou Lapa, entre frestas, pouco importa,
pés descalços que lambem o vazio,
meu amor nunca se deixa abalar por alguém
cujo sobrenome pode ser lido de trás para a frente...
Amar é um relâmpago que se desfaz, um zero que gira.
Amar é um demônio louco que grita em meio à escuridão.
Amar é esta estranha sensação de músculos dilatados.
Amar é compartilhar o tempo, contornar o olhar,
mentir descaradamente para agradar...
Amar é sentir as entranhas desta condição
de verme torto com sede e fome de asas.
Amar perdidamente (e loucamente)
onde amaldiçou as pedras dos monumentos
feitos sobre nossos cadáveres que ninguém vê.
Amar amaldiçoando esta sociedade de afetação
que puni quem pensa com a própria cabeça,
mas que continua tendo aquele que ama
atravessado em sua garganta.
E mesmo quando eu já for um frio cadáver,
vou continuar amando loucamente...
pois a tevê propaga sempre o catarro
no nariz quebrado do morto apaixonado
e todos os rótulos dizem sempre que
os remédios genéricos são seguros,
que na capa da revista sou eu
e que o livro do último queridinho
vende aquilo que não é meu...
Cuidado, seus olhos podem estar escondendo
o que o seu coração precisa ver.
Vamos viver muito
Vamos derrotar todo o inimigo
Vamos viajar para o norte
Vamos eu e você
Vamos-nos embora pra sempre
Você vai usar um vestido fantástico
Vamos contratar músicos
Vamos fazer uma grande festa
Vamos nos divertir muito garota
Democracia não é quando eu uso
o poder em mãos para se opor, sem
reconhecer as necessidades dos pobres
e carentes do mundo hodierno.
o medo me dominava o medo me controlava o medo me afastava..e me segurava a cada passo que eu dava.
Me afastava do caminho certo levava pro incorreto .....me deixando menos esperto ...mais a vida me ensinou a nunca desistir , nem ganhar nem perder mais prcurar evoluir e cada vez fui entrando em um caminho estreito sem jeito ...oque me fez cair foi oque me trouxe até aqui não quero terminar assim ..sem um final feliz ...É a ginga dos seus ideais?....o país que inventou a malandragem não vai ficar pra trás
....eu sou malandro é tenho brilhos geniais.
MATARAM A COTOVIA
Já mataram a cotovia
Porquê? Pergunto eu
Queria ter voado com ela
Livremente pelo céu azul
Sobre o meu amado mar
Sobre as altas montanhas
Poisar nas fragas geladas
Das nossas serras, dos montes
Que saudades me deixaste?
Ó minha querida cotovia
Em que solidão me deixas-te
Fiquei com os dias tristes
Como as fragas frias das serras
Nevoeiro da imagem que eclode
Na mente, quando de noite cobre o sol
Num véu espesso, que cobre a dor
Ela torna-se cada vez mais intensa?
Persigo os sulcos da saudade
Ó minha doce pequena cotovia.
O resgate
Um fantasma voltou a me assombrar
Eu o vi em todas as fotos, estava lá
Eu estou sentindo-me desesperado
Até escrevi um mirabolante recado
Achava que havia me livrado, errei
Estou palpitando, mas no fundo sei
Há muito tempo não me sentia assim
Com motivo pra sonhar antes do fim
Ela nunca será minha, porém é linda
Uma intuição dizia que a veria ainda
Cá estamos, na loucura e sobriedade
Estranhos mesmo na mesma cidade
Que pena da minha própria pessoa
Logo eu que estava bem numa boa
Subestimei o poder da madrugada
E, no caso, resgatei a minha amada.
A PAGINA DO DIA
Ao abrir os olhos nesta manhã, eu já ganhei um sonoro "SIM" de Deus! Uma oportunidade de escrever mais uma página no livro da minha vida, dando ainda mais significado à história escrita até ontem. Mais uma oportunidade de melhorar e de dar mais um passo em direção à realização de cada um dos meus sonhos!
O mundo ou algumas circunstâncias até podem me assombrar com a possibilidade de um "não", mas esse resultado eu já tenho! A inércia apenas me paralisaria a ponto de, no final do dia, meu livro estar com uma simples página em branco na data de hoje. E isso poderia se repetir por muitos outros dias, meses, anos...
Assim, tenho que ser grata a Deus pelo "SIM" do dia, me munir com a fé de que tudo dará certo, arregaçar as mangas e ir à luta, crendo que, ao me deitar, se eu ainda não tiver conseguido os resultados positivos desejados, ou estarei mais próxima do que ontem ou simplesmente fui capaz de escrever mais um belo capítulo de aprendizado, fazendo valer o fôlego de vida que me foi concedido por hoje!
Mais um dia.
I
Abro primeiro um olho, depois o outro mas pode ser que algumas vezes eu abra os dois ao mesmo tempo.
Acordado mas não desperto, posso ter de imediato qualquer pensamento, a vaga lembrança de um sonho, de um pesadelo ou vislumbre os poucos afazeres que me aguardam.
II
Quatro ou cinco passos, até porta do banheiro, acendo a luz, escovo os dentes, lavo rosto e penteio o cabelo, nem sempre nessa ordem, mas parece que tudo está em ordem.
Até agora uns poucos sons, nenhuma palavra, só minha imagem refletida no espelho, retrato da obra destrutiva do tempo.
Tempo que às vezes é pouco, outras suficiente, que na maioria das vezes sobra.
Há certa solidão nesses movimentos quase automáticos.
III
Não uso meias, o calçado é um prático Croc. Encaixo os pés sem auxílio das mãos e nem preciso olhar.
Calça jeans, de barra cortada com o estilete, sem acabamento. Qualquer camisa polo, pego sempre a de cima, são todas idênticas, de cores neutras e sóbrias.
Não sinto nenhuma necessidade de variar o traje nem o trajeto, será mais um dia igual aos outros e isso não requer nenhuma postura diferente.
IV
Abdiquei do café da manhã com os amigos, prática de mais de quinze anos. Os assuntos interessantes se esgotaram e deram lugar a discursos de mesmices disparatadas e fofocas de homens, absurdo inaceitável na minha idade.
Antes só, comigo mesmo do que rodeado de Wikipédias ambulantes.
Ainda vou lá de vez em quando conferir e constatar.
V
Não compro mais jornais nem revistas. As notícias saltam aos meus olhos a cada clique no Google e no Facebook, com o aval das agências de notícias, umas mais, outras menos, mas todas superficiais, vendidas e parciais.
Tudo junto e misturado como é atual, moderno e perigosamente fácil.
VI
Do café da manhã até o almoço são uns tantos minutos de umas poucas horas.
Ao entrar no mesmo restaurante vejo os mesmos funcionários, alguns clientes de sempre e o almoço de R$44,90 o quilo pula no meu prato.
Uma rodela de tomate, uma de pepino, uma colher de ervilhas, outra de grão-de-bico ou feijão-branco, mais uma de milho.
Não pode faltar uma pequena porção de beterraba com cebola crua, três ou quatro vagens e um ramo de brócolis.
Sinto falta do rabanete, da erva doce e do salsão, nunca presentes.
Quando tem berinjela temperada faço uma troca. Nesse dia como até pão.
A proteína animal se resume no menor pedaço de peito de frango assado ou de uma pequena posta de pescada branca à milanesa.
São trezentos e cinquenta gramas, fora o azeite à vontade que só coloco depois de pesar. Poucas vezes erro na mão mas nunca passei dos quatrocentas e cinquenta gramas.
Tem gente que coloca sal, pimenta e outros molhos, eu não, eles não me fazem nenhuma falta, então para que colocar?
Ás quartas e sábados tem uma espécie de feijoada estilizada. Num desses dias mudo o cardápio e ela é a única opção.
VII
Sempre durmo de quinze a trinta minutos depois do almoço. Posso ter herdado o costume dos antepassados portugueses ou espanhóis e essa é única herança que eu queria. Dos portugueses não invejo a inteligência nem dos espanhóis a teimosia. Se tivéssemos sido colonizados pelos ingleses ou alemães tudo aqui seria muito diferente.
VIII
Fotografar pode ser um trabalho, um prazer ou ambas as coisas. Para mim uma alquimia para transformar luz, sombra e cores em belas imagens, que vão durar bem mais do que as próprias lembranças. Minha tarde é de luz, sombra, cores e garotas de biquíni. Nada mal.
IX
De uns tempos para cá o que era um lanche da tarde deu lugar a experiências culinárias da Amanda.
Sem grandes pretensões ela inventa, esquenta, mistura e dá sabor especial a qualquer coisa.
É o amor.
Um simples misto quente se transforma num croque monsieur e qualquer massa num penne à italiana ou um lombo assado com molho madeira ou de mostarda, num quitute de dar inveja a qualquer chefe francês.
X
À noite, ninguém está livre de contrair doenças, defeitos ou vícios e eu mantenho tudo ao alcance dos dez dedos, quando martelo o teclado, num amontoado de palavras, para mim cheio de significados, para a maioria sem nenhum.
Posso estar na cama às dezoito horas ou às vinte e três. Acordo de três em três horas e serão sucessivas dormidas e passadas no computador até acordar novamente para mais um dia.
Abro primeiro um olho, depois o outro mas pode ser que algumas vezes eu abra os dois ao mesmo tempo.