Culpa
– O.k. – falei.
– O.k. – ele disse.
Eu ri e repeti:
– O.k.
Aí a linha ficou silenciosa, mas não
completamente muda. Era quase como
se ele estivesse no meu quarto comigo,
mas de um jeito ainda melhor – como
se eu não estivesse no meu quarto e ele,
não no dele, mas, em vez disso,
estivéssemos juntos numa invisível e
tênue terceira dimensão até onde só
podíamos ir pelo telefone.
– O.k. – ele disse, depois do que
pareceu ser uma eternidade. – Talvez
o.k. venha a ser o nosso sempre.
– O.k. – falei.
E foi o Augustus quem desligou.
Você não pode simplesmente não falar com seu ex-namorado depois de os olhos dele terem sido arrancados do raio do rosto dele.
Já me disseram que sou bom de chegada e ruim de saída. Devo reconhecer que é verdade. Mas a culpa não é minha.
Um amigo... racha lembranças, crises de choro, experiências. Racha a culpa, racha segredos. Empresta o tempo, empresta o calor e a jaqueta. Passa contigo um aperto, passa junto o reveillon. Anda em silêncio na dor, entra contigo em campo, sai do fracasso ao teu lado. Segura a mão, a ausência, segura uma confissão.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem. Se tiver um, amém.
Dizem que não há nenhum problema tão terrível que você não possa adcionar um pouco de culpa e torná-lo ainda pior.
No fundo, a culpa de tudo o que acontece em nossa vida é exclusivamente nossa. Muitas pessoas passaram pelas mesmas dificuldades que passamos, e reagiram de maneira diferente. Nós procuramos o mais fácil: uma realidade separada.
A culpa não foi sua por não ter dado certo, a culpa foi minha. Por achar que você ia dar conta do recado.
A culpa não foi sua por não ter dado certo, a culpa foi minha. Por achar que você daria conta do recado… Homenzinhos não sabem lidar com mulherões.
Homem adora colocar a culpa no açúcar quando não consegue o que quer, incrível. A mulher não tá afim? É doce. Deve ser difícil aceitar que a mulher não tá na sua mão o tanto que você disse pros amigos que ela tava. Esse desespero em querer estar sempre por cima chega a ser hilário, quase um complexo de inferioridade embutido no machismo. Se você some uma semana, eu tô no meu direito de não querer mais te atender. E não, não é doce, não é birra, não é imaturidade, eu só não to a fim. Fiquei a fim de outro, demorou demais. Fiquei a fim de mim, minha fase, meu momento. Se você teve o seu e não aproveitou, supera. Mas chega de ficar enchendo a mulher de açúcar só porque agora é você quem tá sem sal.