Coragem eu Venci Omundo

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⁠Depois que eu comecei a assumir a vertente do pensamento, da meditação feita reflexão, o globo terrestre de muita gente passou a girar ao contrário.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠AVÓ ESPERA

Eu já me ia esquecendo
Na voracidade do tempo
De te lembrar, estremecendo,
Neste nevoeiro tão tenso.

Tudo o que pediste, eu cumpri:
"quando fosses velhinha,
Que te desse ao menos, uma sopinha.

E eu dei-ta e muito mais
Que o que me pedias, avó.
Fui teu confidente,
Tua companhia no só,
Teu neto, sempre de frente.
"Põe-me, quando eu morrer,
Florzinhas no meu jardim,
Uma luz para eu ver,
Quem é que gosta de mim..."

Disso, avó, não me esqueci
E tu sabes bem que não,
Os que sempre gostam de ti,
São flores vivas em botão.

(Carlos De Castro, in Há um Livro Por Escrever, em 15-03-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠O CRISTO E EU MAIS OUTRO

Só há tempos confirmei
Em êxtase, no cimo de um outeiro,
Que o Cristo nasceu na mesma terra
Que eu, quanto sei,
Se a memória não me erra.
Numa rude manjedoura,
Lá no cimo do "monte do bicho",
Que em pequeno e por capricho,
Lhe construi no presépio de madeira,
Com mãos de artista de primeira,
Em recordação duradoura.
Já homens, eu e ele, ainda sem o outro,
Sentados à sombra dos pinheirais,
Imaginávamos o mundo dos mortais
Sem penas, nem dores e só amores reais...
..................
Depois, vieram algozes e levaram-nos
Sem julgamento, ao suplício final.
Chicotearam-nos,
Ridicularizaram-nos,
E cruxificaram-nos no alto do " monte do bicho"
Também por capricho.
Na pressa de completar o quadro:
Foram então buscar o "Gestas", o mau ladrão.
Deram-me o nome de "Dimas" o ladrão bom.
E ao Cristo, não deram nome, não.
Ele não precisava de graça, pois já nasceu Cristo
E posto isto,
Ele ficou na cruz ao meio.
Eu, Dimas, um dos ladrões, fiquei-lhe à direita
E o Gestas, o bebedolas da aldeia, mais a torto.
Porque ele gostava de morrer,
Dizia
E insistia:
Para ficar vivo, depois de morto!

(Carlos De Castro in Há Um Livro Por Escrever, em 15-03-2023

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠VAMOS

Anda, linda,
Vamos por aí,
Tu comigo e eu sem ti,
Mais ou menos lado a lado,
Mostrar as cores
Das flores
Que tens
E reténs
Nos anelos
Das pétalas dos teus cabelos.

Vamos descobrir o mistério
Flor linda
Do meu refrigério,
Ainda
Segredo do meu ermitério.

Encosta-te a mim,
Na comunhão do cheiro
Inebriante,
Contagiante,
Que têm as flores
Dos meus amores,
No jardim do cemitério.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 23-03-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Se não fosse o que os outros dizem de mim, eu nunca saberia o que sou.
Juiz de mim próprio, nunca. Poderia correr o risco de ser parcial.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ÁRVORE SECA

Ao vê-la, estarreci.
Ainda ontem
Do antes de ontem
De há três dias,
Eu vi-a;
Parecia-me salva
À luz da alva,
Daquele passado dia.

Hoje, mesmo agora,
Olhei lá fora:
Estava já mirrada,
Seca, num esturricado
Como torresmo queimado.

Quis regá-la,
Refrescá-la,
No pé do tronco a morrer.

Só então me lembrei
E pelo que sei,
Não adianta em desnorte,
Querer vencer
Sem poder,
Aquilo que já é morte!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 02-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

NOSTALGIA

⁠Cai em mim uma nostalgia,
Sem eu a ter pedido no tempo.

É assim como uma melancolia,
Uma tristeza vaga,
Que não se apaga
No momento.

Que vida.
Que tempo.

Que amargura dura
E tão escura
Havia de me assaltar.

Agora, que eu só queria
Tão pouco,
Para não entrar em louco,
Descansar,
Repousar,
Para aprender a sonhar...
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 04-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ALMA SECA

Que interessa eu dizer
E ao mundo revelar,
Mostrar
O que me vai na alma,
Se não é isso que acalma
A minha sede de viver?

Se eu confessasse o que sinto,
Mesmo na pura verdade,
Dir-me-iam por bondade,
Ou por maldade -
Que minto!

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 06-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠ESPINHO-MAR PÃO E
ÀS VEZES MAR CÃO

Como eu te amo, Espinho
Flor do mar
A brotar
Num lençol de verde linho
Nesta minha inquietude
Cravada na solicitude
Daquele botar
Do barco ao mar
A querer buscar
Algum peixe graúdo
Que os deuses
Por vezes,
Só te dão
Em ração
De pão
Miúdo.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 13-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

PERNAS

⁠Era nas tuas pernas
Macias
Morenas
Espelhando desejos
Que eu encostava a cabeça minha
Quando não tinha
Aconchego nem beijos.

Pernas não são eternas
Fraquejam
Perdem brilho
E cor.

Depois resta a saudade
De um tempo de ardor
Que alimentava o amor
Nas tuas pernas
Fraternas
Quentes
Que guardavam cavernas
Ferventes
Ardentes
No tição
Da paixão.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠VADE RETRO SATANÁS

Vade!
Afasta-te de mim, Satanás
E se não fores capaz,
Eu levo-te à Boca do Inferno
Aquele penedo eterno
Que na história e nos anais
Fica ali na Guia de Cascais
Ao sul deste Portugal profundo
Que ainda crê no Demo
Do inferno extremo
Do outro lado do mundo.

Ó diacho!

Não é preciso ir mais longe…

Empurro-te daquele penedo abaixo
E cais no oceano em chamas
Onde proclamas
Não seres demónio mas monge.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-04-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

TALVEZ AMANHÃ ONTEM

Talvez…
Eu te conte o que não soube
Dizer-te
Ontem
Por causa das tuas
Palavras cruas,
Como pedras das ruas
Geladas
Que me atiravas
Sem dó nem piedade.

Talvez…
Amanhã eu não te saiba
Dizer nada
Porque nada sei
Do que soube
Ontem,
Que já era hoje
De madrugada.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 01-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

DESCOBRIR A VIDA NA MORTE

Eu já faleci, há uns anitos...
Fizeram-me todas as encomendações
E recomendações conforme a fé familiar...
Segui, por fases, todos os trâmites legais
E funcionais, entre os quais:
Como era grande pecador,
Passei primeiro pelo crivo
Doloroso da peneira das penas do Inferno,
Que me chamuscava os sovacos da primavera ao inverno.

Passaram-me depois a outra repartição:
Esta, bem mais animadora,
Graças minhas a Nossa Senhora!
Eram os tempos do Purgatório,
Onde me fizeram purgar tudo e o acessório.
Mas, senhores, puseram-me tão magrinho!
Chegada a hora de melhor sorte,
Fizeram-me chegar de elevador ao piso seguinte,
Numa manhã luminosa e serena,
Ao Céu, aos Pés de Nosso Senhor da Boa Morte!
Olhou contristado para mim e falou:
Que purga! Que magrinho e tão tristinho!
Aí, eu fiz uma cara de anjinho e Ele continuou:
Rapaz! Vais ter direito a banho de sais e mais...
Vão dar-te calção de praia, óculos de sol e t-shirt.
Depois, vais mas é divertir-te!...
Respondi, com decisão:
Não, Meu Senhor!
Se estou no Céu, quero primeiro ver a minha mãe, meu pai, irmãzinha e tantos mais!
Não é que Nosso Senhor, começou a arrotar
E a deitar pelos olhos luzes fatais!?...
Sentei-me no chão e comecei a chorar, a chorar...cada vez mais!
Senti uma mão no ombro, tão leve e serena, como uma pena...
Era o Nosso Senhor a dizer: Vamos lá, rapaz, vamos à nossa vigília.
Não demora muito e verás a tua família. E eu sosseguei!...

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 09-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Quando um dia destes eu morrer, garanto: não fui eu que pedi.
Alguém, equivocado, precipitou-se.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠CEGUEIRA
Cada cego vê o que sente.
Eu pouco vejo
Mesmo à minha frente,
E acabo por ser cego
De corpo e alma
Nesta cegueira que acalma
A esmorecer,
O pecado de ver...

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

MEU MAR MINHA LINHA

⁠Era eu um pequenito
Naquela praia grande
De areal imenso
Do então Espinho extenso.

Eu ficava sozinho
Sentado numa pedra
Mais ao longe
Como que a comandar
A proa do meu barco
Rumo àquela linha do horizonte
Que eu via sempre direitinha
Com aqueles barcos grandes
De cargas de pão, de ouro
E especiarias, nos porões
Das fantasias.

Se calhar alguns petroleiros
Assaltados pelos piratas
Da minha verde imaginação
Que passavam com pachorra,
Na linha, do mar quente de verão.

E eu então imaginava:
Para além daquela linha, ficava
A Beira de Moçambique,
Era aí que o meu pai morava.

Não muito longe, eu via numa tela:
A Caracas do meu tio Vitorino,
Emigrado em Venezuela.

Depois, de barriga vazia
Voltava à areia da praia,
Morna da sorna da tarde
Que se ia com os barcos
E convidava ao sono.

Então, eu cobria-me com o meu manto
De areia
E, entretanto,
Adormecia...

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 30-05-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

CEREJAS

Degustava eu um ramo delas,
Quase assim.
Uma mais vermelhas
Ainda de formas fedelhas
De polpa ruim.

Outras, matizadas de branco,
Amarelado,
E eu sou franco,
Deixei as amarelas de lado.

Algumas, de bordeaux vincado,
Mas só cor
Sem sabor
Adocicado.
Poucas mais encontrei
Doces
Ainda que maduras
Apesar de duras
Como o mel melado.

Ia a meter a última à boca
E parei.
Era mais redondinha que as outras
Mas muito vermelhinha
E tinha
Uma outra cerejinha
Pegada à sua barriguinha
Como uma mãe que acabou
De dar à luz,
E quer mostrar a filhinha
Que reluz.

Tive pena de as comer
E num rebate de consciência,
Com exemplar paciência,
Fui metê-las em terra fresquinha:
A cereja mãe e a filha,
À espera que um dia destes
Irão nascer mais cerejas
Assim,
Por mim.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 05-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

ALMA RELUZENTE

⁠Pensava ser eu uma alma reluzente.

Como tudo é tão diferente do pensado,
Quando num ápice repente
Recebo, vindo voando, ó gente!
Num escangalhado parapente,
Um anjo do Altíssimo Céu navegado,
Que me diz:

- Rapaz infeliz, sem alma reluzente,
Nunca te eleves, tem calma!
Para teres lustrosa alma,
Primeiro terás de ser gente
De construção hercúlea diferente,
Onde, de facto, o sonho habita.

E só depois,
Muito exigente,
É que a tua alma acende e grita!

(Carlos De Castro, in há Um Livro Por Escrever, em 15-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro


O LAR DO SOFÁ VELHO

Não chores meu velho
Como eu, a ficar a sê-lo.

Nunca pensaste como ainda penso,
Vá, pensa:
Porque o pensar é de graça,
Afinal o que nos resta.

Já não é a tua casa,
O teu cheiro
E os odores por ti criados
Naquela casita perto do mar
Onde gaivotas te iam beijar
Pela manhã, famintas,
Do teu dar
E abrigo procurar
Nas tardes fortes de tempestade.

O teu lar, agora, é o teu penar...
Outros cheiros,
Gentes que nem sempre gostam de ti,
Pelo que vi, senti e ouvi.

E então fugi, fugi dali
Tão amargurado.

Que triste, é do homem fado
Deixado num sofá velho
A tremer de medo,
Naquele cubículo sem afetos
Onde reinam os dejetos,
Muita fome amordaçada
E mais...

Aquele horrível pecado
De os não deixar morrer
Na sua velhinha cama.

(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-06-2023)

Inserida por CarlosVieiraDeCastro

⁠Em tudo o que faço na vida, não copio; sou eu mesmo, na mais pura essência natura.

Inserida por CarlosVieiraDeCastro