Conhecer Novas Pessoas
Não é de estranhar, por exemplo, que a comunicação mundial esteja
dividida entre grupos relacionados aos mesmos grupos fortes econômicos
mundiais, e os mesmos que gozem dos benefícios que hoje a globalização
representa para os países ricos e desenvolvidos; portanto não é de estranhar que a democracia seja propriedade privada de alguns e franquia paga por outros, pelo fenômeno da globalização.
Quando se observa que o número dos países mais desenvolvidos, o grupo dos oito, é quase semelhante ao número dos grupos que dominam a produção mundial de comunicação, divididos em sete grupos que formam o Império da Mídia, constata-se que comunicação e poder estão vinculados sempre, são montadores políticos eternamente. Mas quando blocos econômico-políticos se sobrepõem um ao outro, se castra a diversidade cultural pelo abuso do poder, do capital e da informação estrangeira.
As artes e as informações locais se desmontam em conseqüência das
influências dos mega mercados internacionais que representam os Estados Nações de um império só: o dos meios de comunicação.
Hoje o poder de comandar já não basta, a industrialização de idéias para influenciar coletivamente é a maior arma que as nações podem ter, e os meios de comunicação são veículos certos que abrem os caminhos para conduzir, porque conduzir é mais forte que dirigir.
A diferença é que conduzir é algo feito pelo poder do argumento e do convencimento, da persuasão, enquanto que dirigir é uma atitude imperativa. O poder de mandar e de dirigir é diferente do de influenciar.
Conduzir é um ato mais suave, a influência não é percebida
diretamente, e nem precisa da autoridade para se realizar, por isto é que
grandes líderes políticos, religiosos, militares e artistas não dirigem, mas
conduzem e influenciam.
O poder de influenciar é mais abrangente do que o de mandar,
porque a influência pode marcar a vida de uma pessoa. Há pessoas que por
influência política tomam posicionamentos de direita, centro e esquerda, por influência religiosa tornam-se protestantes ou católicas, na arte recebem influências que se tornam tendências de uma linha de criação, como os estilos do cubismo, surrealismo, barroco entre outros.
As influências das novas tecnologias de comunicação são exercidas pela construção das falas do discurso das mídias, e é necessário demonstrar que a tecnologia em si não tem poder, a fala ideológica de quem as domina é que tem poder.
A própria legislação americana sobre a propriedade dos meios de comunicação, vem sofrendo mudanças com o objetivo de abrir terreno para as
grandes fusões. No projeto de eliminar as diferenças, seu propósito é diminuir
os conflitos de interesses, escolhendo um interesse particular para cobrir toda a sociedade.
Os novos Al Capones são aqueles que mexem com as vontades humanas e não com os crimes de natureza humana, são os donos e criados dos meios de comunicação, principalmente da televisão.
Vendem e convencem. Induzem a sociedade a sentir determinados desejos e vontades que não são suas, da natureza social, porque ninguém nasce com dependência de cigarros ou bebidas, com vontade de comer chocolate, tomar Coca-cola ou comer pipoca quando vai ao cinema: são padrões de conduta adquiridos através dos meios.
A mídia cria uma espécie de vertigem coletiva, pois em maior ou
menor dimensão a figura da mídia é articuladora de transferência de valores na sociedade, ditando regras morais, costumes, comportamentos e dando a
aparência, numa visão fria e desenvolvida em estúdios, de que a sociedade é realmente aquilo que ela desenvolveu dentro de seu espelho contextual.
Assisti a um seriado da Rede Globo, chamado Decadência, que
fazia uma abordagem irônica sobre as seitas evangélicas. Em especial, a
Globo tentava atacar o Edir Macedo, e o artista Edson Celulari, que fazia o
papel do personagem Emannuel, um motorista que vira bispo e enriquece, num dado momento da história fala que ninguém quer ser feliz depois que morre, e por isso as religiões evangélicas estavam ganhando fiéis, pois elas prometiam a felicidade aqui e agora.
A influência dessa mentalidade imediatista das novas tecnologias é de que tudo é vendido, tudo é comprado, e o “Baú da
Felicidade” já não é mais propriedade exclusiva do apresentador de televisão
e empresário brasileiro Sílvio Santos.
Convencem-nos a formar determinadas imagens estéticas: um exemplo é o de que o certo é cultivar a estética de ser magro, bonito e bem sucedido na vida. Dessas imagens saem as figuras vendáveis de Carla Perez,
Lair Ribeiro e “Rambo” (Sylvester Stallone).
Na novela O Rei do Gado (1997) da Rede Globo, uma sem-terra, interpretada pela atriz Patrícia
Pillar, acaba se casando com o proprietário de terras e criador de gados interpretado por Antônio Fagundes. A novela mostrou que, em vez de a sem-terra continuar no
movimento e tentar ganhar uma causa coletiva, era mais fácil pensar em si
própria e se aliar à classe dominante. Esse é o pensamento neoliberal, da
globalização e do capitalismo sem força de atrito, como relata o capítulo “Um computador em cada mesa, em cada casa” do livro de Bill Gates, ou seja, cada um no seu universo particular e não coletivo.
Outras influências das novas tecnologias dos meios de comunicação são as de, sustentar a indústria dos sonhos e da fantasia que o mercado capitalista nos dá e amplia, através do mercado eletrônico, numa comunicação aparelhada em redes.
A tela do computador, os canais das televisões a cabo, com emissoras particularmente especializadas em venda de produtos, serviços e informações estão ampliando o mercado, e o desejo de consumo também.
A máquina TV não só pode ser, como relata Giovanni Sartori, de fazer dormir, porque quando a ligamos à noite nos relaxa a ponto de fecharmos os olhos, mas também aquela que nos fez, em épocas ditatoriais, “dormir de olhos bem abertos”.
No Brasil, a televisão, oscilando entre um período criativo e um período sombrio, foi como um calmante nas massas, também; no período de
ditadura militar, atuou como remédio para fazer dormir longamente, remédio
que se perpetuou por cerca de - duros - 20 anos, mal resolvidos na mente
das pessoas até hoje, porque a ditadura passou, mas a força das imagens na cabeça das pessoas não se apaga tão simplesmente.