Como a Vida Imita o Xadrez de Gary Kasparov

O início de um hábito é como um fio invisível, mas a cada vez que o repetimos o ato reforça o fio, acrescenta-lhe outro filamento, até que se torna um enorme cabo, e nos prende de forma irremediável, no pensamento e ação.

A grandeza do homem está em ele se reconhecer como miserável. Uma árvore não se dá conta da sua miséria.

A alma, ao contrário do que tu supões, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia tomar cor. Há seres cuja alma é uma contínua exalação: arrastam-na como um cometa ao oiro esparralhado da cauda - imensa, dorida, frenética. Há-os cuja alma é de uma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes da matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. Assim é que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus.

Os reis são para os seus ministros como os cornudos para as esposas: nunca sabem o que se passa.

Se ao menos os pais soubessem como chateiam os filhos!

Certamente têm razão aqueles que definem a guerra como estado primitivo e natural. Enquanto o homem for um animal, viverá por meio de luta e à custa dos outros, temerá e odiará o próximo. A vida, portanto, é guerra.

Se o ateísmo se propagasse, tornar-se-ia uma religião tão intolerável como as antigas.

Realmente, não creio na alma humana, nem nunca cri. Tenho a convicção de que as pessoas são como as malas: cheias de coisas diversas, são expedidas, atiradas, empurradas, lançadas ao chão, perdidas e reencontradas, até que, por fim um Último Transportador as atira para o Último Comboio.

Um homem sem propósito é como um navio sem leme.

Mentes são como paraquedas. Elas só funcionam quando são abertas.

Quanto menos as pessoas souberem como se fazem as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite.

A diplomacia sem as armas é como a música sem os instrumentos.

Porque o arrependimento, como o desejo, não procura analisar-se, mas sim satisfazer-se.

Nada há como começar para ver como é árduo concluir.

É tolo quem se quer opor ao amor, como se pudesse lutar com ele.

O silêncio é como o vento: atiça os grandes mal-entendidos e só extingue os pequenos.

Assim como a moralidade, o intelecto é um bom servo e um mau mestre.

O amor está acima da morte, como o céu acima do oceano.

Como fenômeno estético, a existência é sempre, para nós, suportável ainda.

Entre as graças que devemos à bondade de Deus, uma das maiores é a música. A música é tal qual como a recebemos: numa alma pura, qualquer música suscita sentimentos de pureza.