Com o Tempo eu Vou te Amando

Desde muito moço eu aprendi que a opção que fazemos pela lucidez é o ato mais louco que podemos concretizar!

Eu jamais me conformaria com tamanha audácia, que é ser tímido!

Enquanto houver uma única flor nesse mundo eu serei incapaz de apedrejá-lo!

Há quem sonhe com a diminuição de seus problemas. Eu, porém, prefiro crescer na minha fé!

Mesmo que o mundo fosse acabar daqui a cinco minutos, eu lançaria sementes sob o solo!

Eu sou filho da "vaidade de Cristo". Por isso, último lugar pra mim é título de campeonato!

Tenho um enorme apreço por todos aqueles que nâo gostam de mim. Pois eu me tornaria insuportável, caso fosse uma unanimidade!

Eu me policio todos os dias para nunca me diminuir tanto a ponto de me julgar grande!

Eu não perco nada se no fim das contas os ateus estiverem certos e eu errado. Mas eles estarão em sérios apuros se eu tiver razão!

Eu procuro antecipar boas ações, justamente porque jamais planejo pedir desculpas!

Quanto mais cristão eu me converto, menos religioso eu me torno!

Eu consigo avaliar a dignidade de um coração pelos sonhos que ele sustenta!

E foi-se embora, mas eu tive a sensação de que levou consigo qualquer coisa que tinha visto nos meus olhos

As impressões digitais

Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul.
Aonde quer que eu vá, elas me perseguem. Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino.
Não tenho nenhum deus. Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar à morte: ainda não. Falta muito o que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro.
Em Montevidéu, existe um menino que explica:
— Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre.

p. 267


Quando eu já não estiver, o vento estará, continuará estando.
(O ar e o vento, p. 269)


A ventania

Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contra-vento, e sou o vento que bate em minha cara.

p. 270

Eu poderia ter escrito dez vezes a mais do que tudo quanto produzi. Mas tenho vergonha e caráter suficientes para só falar do que pratico!

Eu não julgo a honra de uma homem por suas quedas, mas pela postura que lhes sucedem!

Não subestime o valor da solidão. Eu nunca vi um erro destrutivo que não fosse adotado pela maioria!

A fim de que eu não incorra no mesmo erro: eis a única razão que justifica-me quando olho os equívocos alheios!

Eu não anatematizo aqueles que se aventuram na dúvida, mas só reconheço como sagrada a vereda dos que tomam rumo oposto!

Eu não preciso do risco para temperar a glória. E nem preciso da glória para coroar a alma. Eu só preciso de Deus!