Coleção pessoal de Zeta
Título: O Vazio que Ecoa.
Ouço ecos em meu peito,
não de vozes, mas do nada.
Silêncio que pesa,
um grito contido na madrugada.
Preenchi-me de ausências,
fiz do espaço meu abrigo.
Mas até o vazio tem peso,
e agora o carrego comigo.
Se há algo que se acumula,
não é presença, mas ausência.
E quanto mais tempo passa,
mais forte a sua sentença.
Título: Onde as Horas se Perdem.
Onde vão as horas que deixo passar?
Escorrem pelo chão ou se dissolvem no ar?
Sinto-as sumirem por entre os dedos,
Pequenos grãos de um tempo sem enredos.
Se pudesse guardá-las num frasco,
Será que teria o que preciso?
Ou será que o tempo, tão vasto,
Se tornaria um labirinto indeciso?
O relógio marca o que não controlo,
Mas o que marca o tempo que sinto?
Se a vida é um sopro que voa ao solo,
Onde repousa o instante extinto?
Título: O Lado Oculto do Espelho.
Olho no espelho, mas não me reconheço,
há algo além do que vejo?
A sombra dos dias, o peso dos anos,
um rosto moldado por desenganos.
Se há verdade no reflexo,
porque não me sinto inteiro?
Partes de mim ficaram dispersas,
em olhares, promessas e erros passageiros.
Talvez o espelho não minta,
mas também não diga a verdade.
Apenas reflete o que já foi,
nunca o que sou na realidade.
O Começo.
Quase impossível de explicar,
Mas era como se eu já soubesse,
Dava nomes ao que antes devesse,
E o desconhecido, enfim, se esclarece.
O medo não veio, só curiosidade,
Cada detalhe, um novo enigma,
Na mente, ideias em agonia,
Cada resposta, outra incógnita.
O relógio a marcar seu compasso,
E eu, inquieto, a desvendar,
Engrenagem por engrenagem no traço,
A lógica oculta a se revelar.
O tempo, um mistério de precisão,
Um ciclo sem fim, sem hesitação.
Mas ao final, no que pensava entender,
Descobri que há sempre mais por ver.
Falsa Epifania.
Por vezes, apresentei o que outros desconheciam,
Como um passe de mágica – logo me queriam.
Engraçado, para alguém que se achava um fracasso,
Corações eu conseguia pescar, sem laço ou abraço.
E não cito apenas um caso, mas tantos conhecidos,
Quase todas as amizades surgiram em desvios,
Como se, há anos, já soubéssemos nossos passos,
Lá estávamos, narrando tragédias e embaraços.
Superações, alegrias e tristezas ao acaso,
Nos conhecíamos desde antes da criação dos astros.
Engraçado, muito engraçado, como isso pode ser?
Uma falsa epifania de um destino a se tecer.
Tempo de Verão.
Eita, dia bão! Parece até verão.
O calor do cão parece que me colocou no fogão.
O sol de meio-dia, a noite de São João...
Que tempo bão! Tempo de verão.
Malucos de samba-canção,
Cantores sem paixão,
Amores de ilusão,
Vidas sem padrão.
Doutores de plantão,
Loucura em ação,
Sinhô me dá uma aspirina
Pra acalmar meu coração.
Fiel
Minha fiel loucura
Minha intensa tensão
Minha maravilhosa paixão
Que surpresa ao te rever
Segundos por minutos ficado
Cada passo seu, eu petrificado.
Momentos que o tempo tava quebrado
Coração de emoções ficou tomado
Você tão bela, tão hermosa
me deixou à quilômetros do chão
e por um tempo pensei
em minha antiga declamação
Seu olhar, seu sorriso,
suas pernas, seus passos
e meu peito de novo
ficou sem você!
Parece Piada.
Ainda no fundamental,
em gincana escolar,
a turma se uniu,
e veio a ganhar.
O prêmio? Uma viagem,
um sonho, um barato:
passar o dia inteiro
no parque aquático!
Entre risos e aventuras,
muita onda, emoção,
fomos para o brinquedo
que virou minha aflição.
Na piscina de ondas,
cãibra na perna me travou,
pra não virar afogado,
socorro, eu gritei!
E lá estava ela,
minha paixão secreta,
olhando bem de perto
minha cena nada discreta.
Mas quem veio me salvar,
com garra e destreza,
não foi minha musa,
Foi um cara com certeza.
Mais que azar da moléstia,
não deu nem pra disfarçar,
Acho que era melhor se afogar,
e no fundo da água ficar!
Racional Demais.
Lógico demais para o sentimental,
Ilógico demais para a ação.
Tento, entre os dois, uma linha laçar,
Mas percebo que não sigo o coração.
Incapaz de seguir seu comando,
Fiel demais às torturas que emano.
Consciente demais sobre minhas falhas,
Ignorante demais para corrigi-las.
O que devo fazer?
A resposta eu sei, e já falei.
Falta força, coragem e uma direção,
Para seguir o que grita na pulsação.
Gato de Cheshire.
Sou o sorriso que fica,
Quando tudo desaparece.
O que é real ou ilusão?
Só a dúvida te enriquece.
Caminhos bifurcados?
Todos levam a lugar algum.
Escolhas são só jogos,
Para quem vê o todo como um.
Raciocínio ou loucura,
A linha é tênue, dirás.
Mas eu sou apenas fumaça,
Um paradoxo que jaz.
Se és quem pergunta,
És quem deve saber.
A resposta não está comigo,
Está onde não podes ver.
Assim desapareço,
Só meu riso é o que resta.
Pois no fim, a verdade é isso:
A sombra incerta.
Arquiteto da Alma.
Sem início, sem fim,
sou criação que não se define,
um bloco de mármore a ser moldado,
na eternidade, recomeçado.
A cada instante, me refaço,
um novo ponto, um novo passo.
Arquétipos em construção,
um labirinto, uma busca em vão.
Sou arquiteto de mim mesmo,
escuto as vozes do imprevisto.
No meu próprio labirinto,
insisto, persisto, me desvisto.
Dificuldade linguística.
Mímicos aos montes, cínicos de sobra,
Brasileiro repete feito papagaio,
Ouve o som, mas não entende o que escuta.
Já fui julgado, mal interpretado,
Por um linguajar que não compreendiam.
Falta de compreensão, carência de aprendizado,
Empurra o povo para um estado lamentável.
Onde o que se diz, não é o que se ouve.
Um exemplo claro que aqui cito:
A história da palavra rapariga.
Por ignorância, erro e descuido,
Tornaram-na banal, profana, vulgar.
Para uns, uma meretriz.
Para outros, apenas uma moça,
Uma jovem virgem, pura de intenção.
Olha só como a ignorância transformou,
Uma única palavra em opostos completos.
Sociedade Atemporal.
A massa escolhe a mentira,
quer tudo da ilusão,
mas a verdade, simples e viva,
é a que causa confusão.
Me atropela, me agride,
mas é nela que a paz reside,
onde a honestidade floresce,
e a mentira desaparece.
Freud já dizia com razão:
quando a mentira é opção,
a verdade é um furacão,
perigo em contramão.
Os que foram verdadeiros,
na história, foram os primeiros
a cair sob olhares cruéis,
sacrificados por ideais.
Sócrates, por exemplo,
defendeu sua convicção,
mas a verdade é um risco
no teatro da multidão.
A mentira aplaudida,
e a verdade perdida,
no ouro falso que a massa admira,
como uma ilusão criada na política.
Fake News.
Engraçado, muito engraçado,
Vejo uma desculpa para o autoritário,
Disfarçado de palavras estrangeiras.
Como assim, um gabinete que decide o que é verdade?
Será que estamos diante de um Deus,
E não de simples cidadãos?
Pois o humano é falho,
E muitas vezes, nem a verdade da mentira pode separar.
Como pode, então, o Estado julgar o que é verdade ou ilusão?
E se for mesmo mentira, por que precisamos de tal gabinete?
Se um crime foi cometido,
Não seria a calúnia ou a difamação a punição?
Então por que o termo "fake news" virou
O verdadeiro foco dessa miserável população?
Festa da Democracia.
Cada eleição, um novo santinho no chão,
Mas me pergunto: será que é santinho, ou não?
Santo quem suja a cidade e contamina a população?
Ou é só mais um milagre da nossa civilização?
Essa é a democracia, um verdadeiro festival,
De desrespeito, cadeirada e gritaria infernal.
Uma grande barbárie, mascarada de moral,
Pra no fim, alguém corromper o que é "nacional".
Quatro anos de bajulação e riso forçado,
Aí começa o circo, quando o voto está do lado.
Será que isso é mesmo democracia?
Ou um grande hospício com ingresso de cortesia?
Democracia 2.0
Já se perguntou, com tanta tecnologia em ação,
Por que o sistema continua o mesmo, sem evolução?
Tão antiquado, tão mal, tão banal,
Preso num passado que já parece surreal?
Antes, elegíamos alguns para nos "representar,"
Porque não dava pra todos juntos votar.
Mas, hoje, na palma da mão, estamos em qualquer lugar,
Então, por que a política ainda não conseguiu mudar?
Não precisamos mais de vampiros em terno e gravata,
Sugando o sangue do povo, em cada votação ingrata.
Podemos construir sistemas de decisão direta,
Onde a população escolhe, sem essa jogada esperta.
Representante? Coloco aspas sem hesitar,
Porque de mim, esses aí não tem nada pra representar.
Obra Criada.
Aos olhos certeiros, uma arte criada,
Na admiração, serás celebrada.
Beleza que passa, sem nova temporada,
Mas não te preocupes, sei que houve morada.
Não só fascinado, mais do que isso,
De ti, novas obras e traços esculpir.
Quem sabe um filho, mas quando, enfim?
Hoje, amanhã... ou nunca, sim.
Mas uma promessa a ti eu faço,
Se não nos vemos no tempo escasso,
Criarei de nós, num fim sem fim,
Uma versão melhor de ti e de mim.
Entre Sol e Lua.
Ó minha amiga de tempos de sol e luar,
Sonhei contigo sem saber amar.
Antes do amor ter nome ou sentido,
Já te via no futuro, num sonho vivido.
Não foste a primeira escolha do coração,
Mas és refúgio em minha recordação.
Entre jogos e risos, crescemos lado a lado,
Nossos momentos, em fotos, selados.
Sempre soube do teu afeto leal,
Das danças, das brincadeiras, do laço especial.
Aquele beijo, tão breve, inesperado,
Despertou um sentir antes calado.
Perdoa-me, se o tempo nos afastou,
Se o silêncio entre nós se instaurou.
Sinto falta da leveza que havia,
Dos dias de pura alegria.
Que o tempo não apague o que fomos um dia,
E que, em algum amanhã, o destino sorria.
Que possamos reviver, entre abraços e risos,
A amizade que fez de nós indivisos.
Cabelos Curtos.
Ó menina, de olhar castanho e fios ao vento,
Foste um desejo, um silêncio em tormento.
Quis-te além da razão, do que pude entender,
Um amor que queimava sem me aquecer.
Perdi-me em um sonho que só eu criei,
Num mar de ilusões, sem porto, ancorei.
Insisti no vazio, sem nada alcançar,
Até que soltar-te fez-me encontrar.
Na tua rejeição, renasceu meu valor,
Na tua ausência, enxerguei minha dor.
Hoje, sem mágoa, só gratidão,
Foi teu "não" que me deu direção.