Coleção pessoal de Zeta

21 - 40 do total de 117 pensamentos na coleção de Zeta

⁠Título: Escrevi à mão.

A menina mais linda, o olhar encantado,
Mas meu coração? Andava parado.
Até que um dia, sem me segurar,
Falei pro amigo: "A olho sem parar..."

Ele riu na hora, nem quis escutar:
"Isso é paixão, não dá pra negar!"
"Que nada, rapaz! Deixa de inventar!"

Mas ele insistiu, rindo sem dó,
"Se gosta, confessa! Não seja um bocó!"
Coragem? Passei bem longe então...
Só me restou escrever à mão.

"Serás minha? Sim ou não?"
Dobrei o papel, tentei disfarçar,
Deixei na mesa, saí sem olhar.

Mas quando vi, lá estava o "sim",
O mundo girou, quase teve um fim!
Fiquei tão bobo, nem sei explicar,
Só quis gritar e sair pra dançar!

E hoje eu rio, lembrando então,
Da minha primeira grande lição:
Que às vezes o medo atrasa a paixão,
Mas tudo se resolve num bilhete à mão!

⁠Título: Assim me dizia.

No baú das lembranças, um dia encontrei
A menina que um dia me amou, eu sei.
Me chamava de algo, doce e engraçado,
Mas o nome exato? Ah, tá complicado!

Rebusquei memórias, fui longe buscar,
Naquele tempo bom de escola e olhar.
Não era "querido", nem "meu bem amado",
Era algo estranho, mas tão bem falado!

"Ah, Estrupício!", assim me dizia,
Com riso no rosto, cheia de alegria.
E eu, desastrado, mas cheio de afeto,
Fiquei com o nome... e com o amor quieto.

Título: Estrupício.

Revirei memórias, fucei no passado,
Lembrei de um amor... meio atrapalhado.
Na escola, inocente, bobo e sonhador,
Mas já carregava o dom do pavor.

Ela me olhava com brilho no olhar,
E um belo apelido vinha me dar.
"Meu anjo", "meu doce", seria? Quem disse!
Com todo carinho, me chamou de Estrupício.

Que sorte a minha, um nome de classe,
Soava elegante... mas só na audácia.
E eu, orgulhoso, sorria safado,
Mal sabia que era um xingado disfarçado.

E assim se passou meu primeiro carinho,
Com tapas, insultos e um certo jeitinho.
Se amor é isso, estranho que sou,
Talvez Estrupício... seja quem amou!

⁠Título: Atrelei a ela.

Os meus gostos, atrelei a ela,
mas quando o ódio veio, não pude mais usá-los.
Cada um trazia uma memória,
seria como reviver algo já enterrado.

Ao usá-los, era como cavar o que já não falávamos,
ressuscitando algo que nem sequer buscávamos.
Reanimando amores que já estavam apagados,
o melhor seria esquecer do passado.

⁠Título: Amei.

O que um dia amei,
atrelei a você,
e ao te odiar,
odeio o que amei.

Vinculei um gosto ao outro,
mas que desgosto,
um sabor amargo
de mal gosto.

O que antes amava,
hoje passo longe,
como se tentasse
me esconder no horizonte…

Vestígios dos Lençóis

Meu riso está tão triste...
Procuro suas mãos
no breu da noite,
na escuridão
do colchão.

Tateio e tateio...
Não sinto nada,
apenas a fronha,
onde um dia
te tive e desejava.

Te amava... e amava.
Nosso suor, pela cama,
sempre lá estava.

Escorria...
Pelo seu corpo,
nosso amor
líquido ficava.

Nossos receptáculos,
repletos de calor,
reluziam um brilho
jamais esperado.

Era o amor
de nossos corpos,
em memórias,
eternizado...

⁠Título: Ativar o Instinto.

Não é ilustrar o que quero aqui,
quero plantar sementes
para um dia florir.

Mais perguntas,
poucas ideias,
mais dúvidas,
menos colmeias.

Quero ativar o instinto,
alertar o indivíduo.
Aceitar não é pensar,
e não minto.

Necessário seria
criticar e ousar,
não bater e silenciar.

Sem esse falso jogo de moral,
onde o que buscam é desleal,
e as mentiras são sempre real.

⁠Título: Os Loucos Guiam os Cegos.

Penso que sigo — ou me conduzem?
Se pregaram em mim o que penso,
desde pequeno,
o que, de fato, é preciso?
O que é meu conhecimento?

Se os loucos nos guiam,
o que é são num mundo de cegos?
E o meio-termo, onde fica
neste tempo moderno?

Sou conduzido
ou condenado?
Se tenho um olho,
sou visão
ou sou alvo?

Como posso confiar?
Em quem posso confiar?
Se quem comanda
nem palavras brandas
consegue interpretar?

Se o país está assim,
a culpa é minha
ou de outro alguém?
Sou responsável
ou condenável
pelas línguas
dos loucos
que vêm?

⁠Título: Rei dos Afetos Imaginários.

O homem preso no impossível,
Refém do que já não volta.
Vive revendo o passado,
Cego ao tempo que revolta.

Prisioneiro de um ciclo sem corda,
Não pode voltar, nem o fim mudar.
Apenas imagina o improvável,
Vendo o que nunca há de passar.

Rei dos afetos sem matéria,
Monarca de sombras e ilusões.
Um reino vasto e intocável,
Erguido em frágeis emoções.

Sabe que nada é real,
Mas sente como se fosse.
Vive entre o sonho e o abismo,
Onde o tempo nunca trouxe.

Se é mentira, por que machuca?
Se é ilusão, por que é tão frio?
Se o toque nunca existiu,
Por que ainda arrepia o vazio?

Cada lembrança não vivida,
Cada amor que não se fez,
Cada rosto nunca visto,
Ecoando outra vez.

No trono de dores invisíveis,
Comanda espectros do que não foi.
Se tudo é nada, por que existe?
Se existe, por que não foi?

Mas um rei não pode abdicar,
Nem fugir do que governa.
Seu castelo é um labirinto,
Sua coroa, uma cela.

⁠Rei dos Afetos Imaginários

O homem preso no impossível,
Refém do que já não volta.
Vive revendo o passado,
Cego ao tempo que revolta.

Prisioneiro de um ciclo sem corda,
Não pode voltar, nem o fim mudar.
Apenas imagina o improvável,
Vendo o que nunca há de passar.

Rei dos afetos sem matéria,
Sabe que nada é real,
Mas sente—e isso dói na pele,
Que coisa sobrenatural.

Como é possível sofrer sem ter tido?
Como se apaga o que não existiu?
Se a dor não tem corpo nem nome,
Por que fere como quem partiu?

Reino de sombras e ecos vazios,
Onde o irreal se impõe como lei.
Se tudo é mentira, por que persiste?
Se nada existiu, por que eu sei?

Preciso Ser.

É preciso ser criança,
aquela que não perdia a dança,
brincava até aprender a sambá
e descansava apenas pra recomeçar.

É preciso ser criança,
sem medo do erro,
buscando sempre,
um novo acerto.

Não digo para Peter Pan ser,
mas há momentos,
em que jovem e adulto
devem aparecer.

Pois para aprender,
é preciso criança ser.

⁠Título: Soprou.

O vento soprou um cheiro seu,
doce veneno que me prendeu.
Fechei os olhos, senti no peito,
como se a vontade voltasse ao leito.

Lembranças dançam, tocam meu rosto,
ecoam promessas de um velho agosto.
O coração sussurra baixinho:
"Será que esse perfume era um aviso?"

Achei que a vida era feita a dois,
mas certos amores se vão depois.
Pintaria seu nome em cada estrela,
Mas me perco no cantar da sereia.

⁠Título: Sem Rumo.

Paixão, paixão, sem rumo, sem chão,
Que bagunça deixa meu coração.
Estraga o lado são, excita o lado cão,
Às vezes animal, às vezes não.

Espera um tempo até a próxima paixão,
Não tem quem suporte meu coração.
Existe muito amor guardado em vão,
Existe muita carga para a próxima decisão.

Paixão, paixão, com rumo, com chão,
Isso não é paixão, é um amorzão.
Caminho certo, com GPS de emoção,
Cuidado para não perder a direção.

⁠Título: Feridas.

Feridas nas mãos, feridas nos pés,
feridas no coração que ainda ousa bater.
Bate e bate a cada segundo, com tremores,
me causando mais e mais dores.

Cicatriz relutante, aberta sem alarde,
um convite ao toque que arde.
Já lhe disse que aqui mais ninguém deve entrar,
mas ela ousa a porta aberta deixar.

Será novamente e novamente ferido...
Até quando vai querer viver assim?
Ela não é você, e você não é essa necessidade,
nem mesmo essa personalidade e entidade.

⁠Título: Eu devo

Tudo em mim veio a moldar,
Devo ao presente que me abraça,
Devo ao passado que me guia,
Mas o futuro, com sua mordaça...
Já traz a fatura a cobrar,
Pois nunca dá trégua,
Nem perdoa ao chegar.

⁠Título: Brisa.

No toque sutil do desejo aceso,
sussurra um encanto, brisa de verão.
Curvas que dançam num verso indefeso,
pintam a musa com pura sedução.

Seu olhar, um farol em noite serena,
desperta segredos em cada instante.
O corpo, canção que se acena,
um compasso de encanto vibrante.

Entre rimas e suspiros se esconde
a magia de um encanto sem medida.
No toque e no som, a paixão responde,
uma dança que celebra toda a vida.

⁠Teoria.

A vida é uma bifurcação sem fim,
Cada caminho leva a outro.

Quando chegares a algum destino,
Não pare,
Comece de novo.
Aproveite o caminho,
Não há pressa.

Cada passo te leva a algo nessa peça.
O futuro se alinha ao presente,
Não o espere chegar,
Viva enquanto caminha.

E, quando menos esperar,
Uma nova bifurcação vai formar,
E só você poderá falar
Se continuará ou se contentará.

Padrinhos

Ainda na minha cidade natal,
As visitas aos dindos eram ritual.
De cavalo eu ia, mas ele, ligeiro,
Pegava embalo, virava no pampeiro,
E eu, pobrezinho, só via o terreiro!

Na piscina, afogava e ria,
Meio nadava, meio bebia.
E certa noite, na sala a deitar,
Uma aranha gigante parou pra me olhar.
Corri pro berço, fiz-me bebê,
Na falta de cama, o que mais ia ser?

De manhã, a cena ilustre:
Eu espremido, perna pra fora,
Torto, embolado, num baita sufoco!
Os dindos riam: “Isso é maria mole ou menino?”

⁠⁠Poetas não amam, poetas declamam.
Fazem cenários, constroem fantasias,
Pintam amores em telas vazias.
O verbo amar, em suas mãos, é moldado,
Mas será que já foi vivido, ou só sonhado?

Diz que ama, mas será que sente?
Ou o amor é um eco, distante e ausente?
Declama o desejo com precisão,
Mas o coração pulsa ou é mera encenação?

⁠XXI - Porto Alegre

Rua Alegria, do Bairro da Tristeza, em Porto Alegre,
Estradas de vidros, muros de vielas, casas de panela.
Solitários em companhias, companhias sem velas,
Malucos sem sequelas, pensamentos com parcelas.

Se a localização procurar, talvez encontre o lugar,
Talvez nem vidros ou muros tenham lá,
Muito menos casas de panela ou solitários em companhia,
Escrevo isso para não perder o meme que um dia via.