Coleção pessoal de Zanatinha
Monólogo em J
Jamais pensei que o júbilo pudesse se transformar em júbilo ferido,
em junção quebrada entre o que foi e o que nunca mais será.
Janelas se fecharam lentamente,
sem gemido, sem gesto,
apenas o jazer silencioso
do que antes era jardim.
Jazem as palavras que não disse,
jazem os abraços que não dei,
jaz, sobretudo, a alegria que um dia me justificou.
Jornada interrompida,
jamais concluída,
mas sempre revivida,
nos labirintos da memória onde só eu caminho.
Julgaria ser forte ao seguir adiante,
mas julgo ser mais sincero ao permanecer neste lugar,
onde o juízo vacila,
e só a saudade é justa.
Jardins secos se espalham por dentro,
flores que murcharam antes da primavera,
mas cujas raízes,
ainda assim,
persistem em doer.
Jogo-me, às vezes, na esperança
de que, em algum tempo além do tempo,
as janelas se abram outra vez,
e a jornada recomece,
mas sei…
já sei…
Junto ao que fomos,
resta apenas a sombra do que poderia ter sido.
Jorro lágrimas que ninguém vê,
junção líquida de um amor que jaz,
mas que, estranhamente,
jamais morreu.
A estrela de aquário
Lá, no infinito silencioso,
brilha uma estrela azul,
livre, etérea,
bailando a 175 anos-luz de tudo que sou.
Sua luz atravessa distâncias insondáveis,
rompe o tempo com uma paciência antiga,
e chega até aqui,
suave, mas firme,
como o amor que guardo em mim.
Somos como esse brilho:
não importa o espaço,
não importa a ausência,
há sempre um feixe de luz
que insiste em atravessar o escuro
para encontrar quem ama.
A magnitude pode parecer pequena
aos olhos apressados,
mas quem sabe olhar o céu
sabe reconhecer o milagre
de uma luz que persiste,
mesmo frágil,
mesmo longínqua.
E assim sigo,
com o coração elevado ao firmamento,
sabendo que há amores
que não se apagam,
como estrelas antigas
que continuam a iluminar
mesmo quando já partiram.
Sob a luz de Iota Aquarii,
reaprendo a beleza da espera,
o poder do silêncio,
e a certeza serena
de que o amor verdadeiro
é, sempre, uma constelação
que nunca se desfaz.
Córrego São João
Às margens do córrego São João,
Brota a lembrança, pulsa o coração.
Criança descalça, no chão a brincar,
Lambari na aleluia, puro bem-estar.
Tardes de tarrafa, a alegria a fluir,
Pegando traíra, o riso a sorrir.
Anzol de gaio, esperança na linha,
Ovo mexido na marmita, sabor que ensina.
Meu velho pai, sábio na pesca,
Com amigos leais, a vida se manifesta.
À noite, o farolete imita o luar,
Nadando no córrego, a emoção a brotar.
Jardinópolis querida, em meu rolê,
Cada canto e cheiro, sempre em mim vão viver.
Bom Jesus da Lapa, Aparecida a guiar,
Momentos guardados, na alma, a brilhar.
Às margens do córrego, quero sempre estar,
Recordando risadas, sonhando a sonhar.
Córrego São João, meu lar de emoção,
Eterno em minha alma, tua bela canção.
Na trama suave do perdão,
o amor tece a cura na noite,
leve como o vento, a mão
que solta, voa e reescreve o açoite.
Aproveite o momento
Curta o movimento
Relaxe com os tormentos
Viva o que é intenso
Toque o que é vivo
Esqueça o que passou
Mova em prol do amor
Reverberação é transmutar
Viva pra amar
Siga sem pensar
O ontem já morreu
O dia renasceu
Respeite
Respira
Reinvente
O seu
O meu
O tudo
O eu
Paz é respirar
Guerra é sufocar
Paz é liberdade
Guerra atrocidade
Paz é o firmamento
Guerra é tormento
Paz é amanhecer
Guerra escurecer
Paz é amor
Guerra é dor
Paz é flor
Guerra é fedor
Paz é construção
Guerra é destruição
Paz é visão
Guerra é tampão
Paz é alegria
Guerra é lamento
Eu quero Paz
Amor
Alegria
Eu quero mais
Eu quero euforia
Amor demais
Nunca é de menos
Se tira a Paz
É muito pequeno
E nessa imensidão
Que vivo
Sem ti
Sem mim
Pretendo ser luz
Ser Paz
Sem duo
Sem mais
O sonho não passa por mim
Pois acordado sempre estou
O sono é como uma palha
Que qualquer sopro atrapalha
É fino, elegante e leve
Quem dera ele sirva em mim
O sonho do nobre amanhece
Acorda feliz , enriquece
Mesmo que tenha um sono ruim
O sonho do pobre padece
Conforme ele envelhece
A tempestade estremece
o jardim
Eu sonho mesmo acordado
Pretendo honrar o passado
Daqueles que deram o sangue por mim
A felicidade está no sonhar
Mesmo que acordado for
A felicidade está no sonhar
No caminho , no caminhar
Mesmo com espinho e flor
O pólen
Me pousa
Me beija
Me come
Me ousa
Me suga
Digere
Voando
Me fere
Me deixa
Docinho
Gurgita
Me expele
Eu vou me deixar
Sobrando no caos
Rasgando as lembranças
De noites de sóis
Prazer em viver
Desatando os nós
Daqueles que vivem
Procurando por nós
Sou o todo vazio
Buscando lençóis
As vezes em risos
As vezes sem voz
Quem pode me leva
Quem deve me entrega
Aquilo que as vezes
Nem eu mesmo sei
No fundo me sinto
O assunto preciso
Que fecha um ciclo
Mas abre um inciso
Que traz um troféu
Por vezes sem mel
Estrela que brilha
Sem paz no luar
Sou a forma que mede
O entorno a plainar
Um dia me aprendo
E vibro em frequência do mar
Florada querida
Abelha no ar
É belo, mesmo assim causa flagelo
Antes fosse feio, mas com enlevo
Face aos fracos é dominador
Diante dos fortes enlouquece a dor.
Quiçá pudéssemos escolher entre senti-lo ou não
Tolice é tentar decifra-lo com razão
Aquele que só se pode sentir no pulsar
E não por consciência de um mero pensar.
Para os loucos uma utopia
Para os céticos uma loucura
Para poucos que contemplam és uma pérola
Para muitos que não o encontra és uma assolação.
Sã e consciente ninguém é contemplado
Todo o pensamento sobre ele é insano
Porque da mente espera vir uma resposta
E se ilude em querer sentir... aquele que é o próprio sentido.
(
Quando mais de uma mente se mistura aumenta a criatividade, ninguém cria algo extraordinário sozinho e nada é originado de um pensamento solo, sem que haja misturas de memórias e produtos dessas misturas.
Os sonhos são produtos dos nossos desejos, misturados com as emoções e destilados pelos filtros do histórico emocional da nossa mente.
Trace uma meta e corra em busca dela com todas as suas forças, porque mesmo que tu não alcançá-la , terás andado para frente.
