Coleção pessoal de vanessaeduarda

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Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali.

Todos nós vamos morrer, que circo! Só isso deveria fazer com que amássemos uns aos outros, mas não faz.

Eu estava deitado na cama a noite e disse: “Eu vou desistir, pro inferno com isso!”. E outra voz em mim dizia: “Não desista! Salve uma pequena brasa, uma faísca. E nunca dê essa faísca, pois enquanto você a tiver, sempre poderá começar uma chama maior.

De qualquer modo, escrevi sobre uma rã que encontrei no jardim, com uma das pernas presa numa cerca de arame. Não podia se soltar. Eu tirei a perna dela da cerca, mas mesmo assim ela não podia se mover. Por isso eu peguei ela no colo e conversei com ela. Disse que eu também estava preso, que minha vida tinha ficado presa em alguma coisa. Conversei com ela durante um longo tempo. Finalmente, a rã saltou do meu colo e saiu saltando pela grama afora, e desapareceu num matagal. E eu disse a mim mesmo que ela era a primeira coisa de que eu já sentira saudade em minha vida.

Esperamos e esperamos. Todos nós. Não saberia o analista que a espera é uma das coisas que faziam as pessoas ficarem loucas? Esperavam para viver, esperavam para morrer. Esperavam para comprar papel higiênico. Esperavam na fila para pegar dinheiro. E, se não tinham dinheiro, precisavam esperar em filas mais longas. A gente tinha de esperar para dormir e esperar para acordar. Tinha de esperar para se casar e para se divorciar. Esperar para comer e esperar para comer de novo. A gente tinha de esperar na sala de espera do analista com um monte de doidos, e começava a pensar se não estava doido também.

O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.

As pessoas deviam ser leais umas com as outras, mesmo que não fossem casadas. Em certa medida, a confiança devia ser mais profunda, porque não era santificada pela lei.

Ache o que você gosta e deixe isso te matar.

Eu me permito apreciar isso, a manipular a coisa a meu favor porque eu tenho a febre da faca amolada, dos céus azuis e profundos.

Bem, sou um homem com muitos problemas e suponho que em sua maioria sejam criados por mim mesmo. Estou falando de problemas com mulheres, jogo, hostilidade contra grupos de pessoas, e, quanto maior o grupo, maior a hostilidade. Dizem que sou sempre negativo, sombrio e taciturno.

Observava as pessoas à distância, como numa peça de teatro. Apenas eles estavam no palco e eu era plateia de um homem só.

Meu quarto. A melhor coisa que havia ali era a cama. Gostava de ficar ali deitado por horas, mesmo durante o dia, com as cobertas puxadas até o queixo. Era bom ficar ali, nada acontecia por ali, nenhuma pessoa, nada.

Ás vezes, a gente acha que atingiu o fundo do terror, desiste, e mesmo assim não morre.

Bem, tudo o que se pode fazer é esperar a morte chegar.

Quanto menos se acreditar na vida, menos se tinha a perder.

Nenhuma vida em nenhum lugar, nenhuma vida nesta cidade ou neste lugar ou nesta existência deprimente.

Era bom estar solitário num lugarzinho, sentado, fumando e bebendo. Sempre tinha sido uma boa companhia para mim mesmo.

(...) Lugares como esses davam a você um pouco de esperança quando não havia nenhuma ao redor.

Sentia-me como se estivesse apaixonado por algo que fosse muito bom, mas não sabia exatamente o quê, exceto que estava ali, bem perto.

Parecia que um homem tinha apenas duas escolhas: acotovelar-se no jogo da ambição ou ser um mendigo.