Coleção pessoal de TutyP

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Ricardo Cabús

AMOR E DOR
(Estações Partidas)

E pensar que a solidão
É tão maldita
Por trazer a dor
Mas o que dizer do amor
Com sua mão bendita
Que traz, além da dor, a desilusão

Ricardo Cabús

"E sejamos pois
Não dois em um
E sim
Dois em dois"
(Ser-te-ei teu - Cacos Inconexos)

Ricardo Cabús

Cabeça Dura
(Cacos Inconexos)

Foram três tentativas vãs
Quando o prego não quer
O quadro cai

Ricardo Cabús

Beijos Comprimidos
(Cacos Inconexos)

No vagar da tarde
sonho
com teus beijos compressores

No vagar da tarde
pede-me ficante
faze-me pecante
traça-me picante

E deixa o Sol rastrear nosso odor
e deixa a dor rastejar solo ardente
e rilha, rilha, rilha
cada dente siso
cada cadeira básica
cada porta tesa

E eu te aguardo
para beijos comprimidos
beijos compressores
no vagar da tarde

Ricardo Cabús

Obstruções
(Cacos Inconexos)

E nesta manhã de sol
Declaro:
Deixem-me o céu!
Basta de elevações retilíneas
com seus concretos armados eretos
falicamente apontados ao zênite.
Que querem?
Penetrar a vagina de Vênus?

Ricardo Cabús

Cardiolatifúndio
(Cacos Inconexos)

Ele era tão ateu
que não conseguia dizer
adeus
Tentava aprender a fazer reforma agrária
em um cardiolatifúndio

Ricardo Cabús

"É noite e é cedo.
Cedo meu lugar pro nada."
(Renúncia Vazia - Cacos Inconexos)

Ricardo Cabús

Outono Vacilante
(Cacos Inconexos)

O Sol continua lutando contra um outono vacilante
Dois dias de Sol
Seguidos
Dizem que amanhã também será
(Será que amanhã também serei?)
O Sol que ilumina as ruas faz curva ao passar por mim

Ricardo Cabús

"(...)nem botões há em minha camisa amarfanhada
Para afagar a solidão."
(Amarfanhado - Cacos Inconexos)

Ricardo Cabús

Luz e Poesia
(Cacos Inconexos)

A luz está para a arquitetura
assim como a poesia
está para a literatura:
ambas carecem de corpos sensíveis
para serem vistas.

Ricardo Cabús

"As cores do palhaço põem cinza em meus olhos
E o vento frio não leva solidão"
(Cinzado - Cacos Inconexos)

Ricardo Cabús

Silêncio
(Cacos Inconexos)

Não te perdoo
Por me frustrares
Silêncio
Te quero
No meu tempo

Ricardo Cabús

QUASE SÓ
(Estações Partidas)

Estou quase só
Quase, porque você não sai da minha mente
Só, porque estou sem você

Ricardo Cabús

QUATRO ESTAÇÕES
(Estações Partidas)

Cinquenta Invernos
Uns Verão
Cem Outonos
Nem a Prima Vera

Ricardo Cabús

ESPERAR
(Estações Partidas)

Quando espero
O que mais me angustia
É a passividade do ato
De fato
Ser passivo me incomoda
Poda

O tempo é meu inimigo
O silêncio é meu inimigo
O pensar é meu inimigo

Amigo é quem chega na hora
Vou-me embora !

Ricardo Cabús

O RELÓGIO E O TEMPO
(Estações Partidas)

Não adianta olhar o relógio
Nem adiantá-lo tampouco
Pois pouco importa a sua vontade
De mudar o tempo

O tempo não adianta
O tempo não atrasa
O tempo é o tempo
Senhor total da situação

O tempo reina calado

Ricardo Cabús

REENCONTRO
(Estações Partidas)

O prazer de rever
Sem antever o ponto
Sem prever a duração
Entre o ver
E o rever
Haver e reaver
Ter
Sem reter
Nem deter
Compraz-me

Ricardo Cabús

SIMBIOSE
(Estações Partidas)

Não, deixa-me aqui
Talvez pense em ti
Mas agora me deixa
Pois caso eu me queixe
Do seixo, da gueixa
Ou do caroço da ameixa
Será porque foste com certeza
Algum dia simbionte
Não pouco, mas um monte
Da minha vida, com tristeza

Ricardo Cabús

O álcool nosso de cada dia

Há uma expressão em inglês que é muito interessante e que nesse momento veio-me à mente: ‘take it for granted’. Uma tradução possível para o português seria ‘dar algo como certo por antecipação’. O porquê dessa lembrança eu conto a seguir.

Estou tentando escrever um artigo em meu computador e o mouse não quer me obedecer. Ratos em geral são desobedientes, é verdade. Mas o eletrônico costuma ser submisso. Quando acontece algo desabonador, como não levar o cursor ao devido lugar da tela, pode significar que há alguma sujeira na área. Nesse caso, para voltar ao pleno domínio da situação basta limpá-lo. Pois é, a obediência de um rato eletrônico, diferentemente do natural, pode estar diretamente relacionada ao seu asseio. E se quisermos analisar de forma, digamos, endobiônica, não à limpeza externa, mas à interna. Assim, decido verificar o seu teor de sujidade. Coloco-o de ponta-cabeça e abro o compartimento que contém uma esfera, responsável pelo funcionamento da geringonça. Tudo bem, dispositivo; a ira não gosta de substantivos neutros. Então retiro a bolinha e imediatamente percebo que a chafurda é verdadeira e suficiente para deixar o rato para lá de insubordinado. Ora, penso, nada que um cotonete com álcool não resolva. Em poucos segundos os conectores estarão limpos e o rato voltará cegamente a seguir minhas ordens. Simples! Simples? Simples, desde que houvesse álcool.

E é aí que vem a questão. Um alagoano como eu – acostumado a viver arrodeado de cana-de-açúcar e ver álcool à venda em qualquer bodega da minha cidade – jamais poderia imaginar que não houvesse álcool à venda aqui na Inglaterra, berço da revolução industrial, classificada como ‘país de primeiro mundo’, e procure elogios, que você acha... Acha tudo, até macaxeira, menos álcool.

E como tudo tem seu motivo, apesar de nem sempre concordarmos com ele, a ausência de álcool nas prateleiras dos supermercados, farmácias e congêneres deve-se simplesmente a um fato: os ingleses bebê-lo-iam. Soa estranho? A mesóclise ou o significado da frase?

Mas o pretexto é esse. Concordar é outra história. O índice de alcoolismo por aqui é bastante alto. A maneira de combatê-lo é que é esquisita, além de não haver álcool comum para ser comprado por pessoas comuns, os bares geralmente só ficam abertos até as 11 da noite. No entanto você pode começar a beber a partir das 11 da manhã, se assim quiser. Eu hem?

Sim, mas voltando ao meu computador, faço o que vi um nativo fazer outro dia: uso minhas unhas para tirar o possível da sujeira existente na barriga do rato, dou um belo sopro, com direito a uma baforada de poeira, recoloco a pelota, tampo o bicho e bola pra frente que é jogo de campeonato.

Ricardo Cabús

Beijos Comprimidos
(Cacos Inconexos)

No vagar da tarde
sonho
com teus beijos compressores

No vagar da tarde
pede-me ficante
faz-me pecante
traça-me picante

E deixa o Sol rastrear nosso odor
e deixa a dor rastejar solo ardente
e rilha, rilha, rilha
cada dente siso
cada cadeira básica
cada porta tesa

E eu te aguardo
para beijos comprimidos
beijos compressores
no vagar da tarde