Coleção pessoal de sasabs

Encontrados 12 pensamentos na coleção de sasabs

⁠HORA EXATA DO PERECER

Engraçado
Morte é simbologia
com aquelas licenças poéticas,
na falha de dar algum sentido

Juram sempre que nada é para sempre
Recheiam sermões com histórias de
“Depois que vai embora que nos damos conta”
Mas se nada, nem ao menos uma coisa é digna de durar todo sempre
Qual a hora da morte afinal?

Se nada tem permissão a durar sem fim
Existe uma premissa que nos permite saber o momento final?
Se aquela roupa que não me serviu mais
Foi assim doada a outro alguém
Foi morte, pausa ou continuação?

Como que pode escutarmos todos os dias
Relatos para aproveitar algo,
porque aquilo suma hora se vai
Por que não sabemos ao menos identificar a ida?

Qual a justificativa do mistério que não tem outro objetivo
sem ser perturbar a mente de um que disse um suposto adeus
Nada ao menos ressoa explicação dessas retoricas descabidas

Um relógio quebrado mostra hora exata da morte
E este olhar descrente mostra hora exata do perecer

⁠TÉDIO

Viveis em um mundo tão tedioso
Que a dor alheia, te alegra
Alegria embrulhada de exílio
Cego ao teu próprio ver
Te incomoda com o que não é teu

Faz, agora, parte de tua obrigação
Espalhar ódio de graça
Prisioneiro da tua própria infantilidade
Que te faz acreditar digno
De julgar o que não lhe convém

Só não percebe a desgraça
Que é essa tua solidão
Em que o caçador sempre foi a caça
Como numa corrida de gato e rato imaginaria
Lá, o único competidor
É tu

Quem sofre é só consequência
Da amargura escondida
Teu ego
Faz eco
Numa eternidade tediosa
E um ciclo sem fim
Que apenas bate e volta
E te consome em pedaços
E se sente impotente demais
Para pedir socorro

Em que a única solução que te resta
É tornar a desgraça rotina
E tomar controle de mentes fracas como a sua
Descontar aquilo que não sabes explicar
Que se alimenta de uma parte tua todos os dias

Porém, teus olhos já não mais veem
Sua sabotagem diária
Que te faz crer em uma fábula de constante poder
O tédio vira rei
E tu
Mero caçador

⁠EXCELENTÍSSIMA ENFERMIDADE

Eu nem te vejo
Eu nem te sinto
Eu nem te toco
Ah, mas você...
Você é esperto rapaz...

Sutilmente se instalou
Dominou
Alastrou
E na beneficência do temor humano
Trancou
Fechou
Separou
Isolou

E como se já não bastasse
Até fez-se expirar a vida de inocentes
E, aos montes
Leva consigo em meses
O que vida toda não foi capaz

Eu nem te vejo
Eu nem te sinto
Eu nem te toco
Ah, mas eu te conheço bem
Não se cansa, né?
Nunca é suficiente, né?

O caos é teu melhor amigo
Agora ele se familiariza
E traz novos companheiros a todos
E como uma boa visita
Trouxe comida
E alimentou os monstros
Antes adormecidos,
Se corromperam em carrapatos da sanidade
O imaculado e vívido sangue
Neste momento, é parte deles
Me contenho com resto

Mas pelo menos me diga
Está feliz?
Está satisfeito?
Conseguiu o que queria?
Serei teu pior inimigo
E assim como sua adoração pelo poder
Sou perdidamente apaixonada pela justiça

⁠ÍNTEGRA DE COISA ALGUMA

Sou tão resultado de tudo
Que no fundo não vim de nada

Viajei por tanto e quanto
Mas parece que não saí do lugar
Caminhei por copiosas ideias
E não avancei um único passo
Surfei por histórias
Sem sequer molhar os cabelos
Lutei como heroína
E nem monstro tinha para derrotar

Comi
Enchi
Corri
Pulei
Chorei
Caí
Levantei
E de nada foi
Pois agora nada estou, sou ou fui

Memória fraca me fez vazia
Mente farta me faz falha
Mundo disforme me fez apática

Eu vim de tudo
E não restei de nada

⁠DESASSOSSEGO

Eu ainda me abrigo em você
Nos abraços e amassos
Beijos e entrelaços
Ainda me vejo
Nos planos de descasos
Futuros embaçados

Sonho no mesmo tom
que uma criança sonha em véspera de natal
Te espero da mesma forma
que um cachorro obedece um dono
Aguardo paciente nosso dia
como que um pedestre no sinal vermelho

Será que o sinal um dia fica verde?
Será que é hora de dar meia volta e tentar outra avenida?
Outra rua
Outra viela
Outra calçada
Outros carros
Mas onde tem carro tem acidente
E nunca deles saio ilesa
É sempre um arranhão aqui
Um amassado ali

Você se tornou minha esquina movimentada
Que me recuso a retornar num novo caminho
Meu cinto de segurança
Que me protege de uma batida
Meu pneu estourado
Sem estepe no porta malas

Me perdi na teimosia de jurar amor aos quatro ventos
A ponto de esperar carona com destino a você
Na esperança de quem pilota seja o passado que eu ainda pertenço

Mudar o trajeto, eu sei
Pedir um táxi não é difícil
Desviar dos buracos é tarefa fácil
Mas é que num desassossego
Eu ainda me abrigo eu você

⁠TORTO ESPELHO MEU

Disformei o rosto
Entortei o corpo
Ajeitei a veste
Reconstruí a pele
Dispus o ideal
Alcancei o espectro
Consertei a vista
Posicionei a impressão

Me encaixei na ilusão

Esqueci de questionar
Como saio?
E a roda? Para de girar?

Maldita vitrine essa
Cega, maltrata e desfigura
Para onde agora foi
Aquela minha forma mais pura

Torto espelho meu,
existe alguém mais belo do que eu?

⁠PEQUENO CORPO INOCENTE

Rotina embaçada
Mente confusa
Presa num tempo imaginário
Passado e inexistente

Extraviada na época de olhos brilhosos
Reside lá, uma criança que brinca na luz cintilante de sonhos
Mas em razão da maldita razão
Declara guerra ao adulto, que reza para que ali,
Bem aí meio de seus tenebrosos desejos
More a estranha realidade

Ciente que não passa de uma alucinação ignorante
Descartando tudo que é certo e justo
Em troca, uma fábula barata
Contempla múltiplos
Criados pela ingenuidade armada
Sabotagem própria
E mira certeira no seu devido pé

Feições e obrigações de um ser trajado de responsável
Ações e crenças de um ser trajado de imaginação
Disputa diária de coração e mente
Tudo dentro de um pequeno corpo inocente

⁠NÃO OBSTANTE

Carregada de sentir tudo em sintonia de contradição
Obstante uma mente sã
Aquela, das tentativas em vão
É Incapaz de alcançar o estágio de paz completa,
num período além de horas de insensatez

Como se embriagada em sonhos sóbrios
Tapasse ouvido e olhos em razão de mim
E andasse bem vestida
Aos vestes de admiração sob medida

A versão em que nasci,
jaz num papel bobo de encenação falha
Faz brinde ao espelho,
em comemoração de mais um ano de contrato

Mais um capítulo daquela série de sobrevivência

⁠Somos uma ponta solta
De um caderno de histórias
Por entre rasgos e rabiscos
Conta a imperfeita entrelinha
Que a gente chama de nossa

⁠ADUBO DE JARDIM

Um broto apenas irá germinar
E se fortificar
Se tiver o privilegiado atributo da importância
Intuitivamente,
Na esperança de preservar o desejável

Designar esforços a sementes intrusas,
Dão espaço a raízes
Que se ramificam
Sugam o fértil de teu solo
Roubam alimentos das flores
E transformam lindos jardins
Em matas estarrecidas no inexpressivo

Os doces frutos
Das árvores, antes robustas
Agora são pontos podres
Infestados ao chão

Pior do que qualquer incêndio florestal,
São as lentas mortes
Do sufocado desvio de inteligência.

Quantas ervas daninhas te consumiram hoje?

⁠DEFEITO DE FÁBRICA

Uma peça quebrada é facilmente rejeitada pelo natural processo de seleção.

Nada poderá ser feito com algo não é capaz de cumprir sua devida função.

Porém, há peças quebradas que se disfarçam, se misturam aos montes, ejuram ser diferente das outras.

São as mais perigosas.

O fraco remendo que foi feito em seu defeito de fábrica é porta aberta a desilusão.

Se cobrem com um brilho chamativo, na tentativa de serem confundida com as melhores peças do mercado.

E no olhar desatento, uma peça quebrada forçadamente se encaixa com uma que está inocentemente em seu bom estado.

O que não esperam, é que feridas mal cobertas são facilmente transmitidas a peças de boa-fé.

Vivem na mentira e anonimato que a peça quebrada contou a todos, inclusive, (e especialmente) ao espelho.

E aquela, que desde o começo, permanecia em seu lugar, é contagiada injustamente pelo acoberto desespero de outrem.

Duas peças agora são descartadas.

É assim que uma epidemia de corações partidos começa.

⁠QUEM ME DERA SE TIVESSE

Eu não tenho poder da cura
Quem me dera se tivesse
A minha habilidade é plantar girassóis
Que semeiam matas entristecidas à procura de luz
Em meio a tanta erva daninha
Ser flor é raridade

Eu não tenho poder de cura
Quem me dera se tivesse
A minha habilidade são olhos cintilantes
Em meio a mares de lágrimas
Eles iluminam o rumo
Para olhares desistentes
De quem viu tristeza em formato de gente

Eu não tenho poder de cura
Quem me dera se tivesse
A minha habilidade é fazer tolices
Em meio a lábios caídos
Elas arrancam sorrisos
De dentes tão enclausurados
Pelo calado sofrimento

Eu não tenho poder de cura
Quem me dera se tivesse
A minha habilidade são gestos carinhosos
Em meio a atitudes grotescas
Eles surpreendem
à aqueles que se esqueceram do amor
Por estarem perdidos na multidão singular

O poder de cura,
Eu não tenho
Eu só posso oferecer
Aquela maldita esperança