Coleção pessoal de sarahmagalhaes

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O barrigudo solteiro

No Parque da Cidade vai
só pra ver
as mulheres seminuas
que por Brasília
estão a correr.

Confessar

Eu preciso me confessar
para você.

É coisa séria,
mas com isso padre nada tem a ver.

Por isso quero me confessar
para você.

Porque talvez você vá me entender.

Acho que eu me apaixonei sem querer
e me apaixonei, me apaixonei por você.

(Acabo pensando que não me confessei,
no final das contas, apenas me declarei.)

Reencontro apaixonado

Quase 40 anos passados
e reencontro um garoto
que no colegial fora meu namorado.

Não me engano ao falar com precisão
que reencontro o garoto e não um rapagão.

Eu reencontro o seu olhar
de moço livre,
reencontro suas mãos frias
que em vão tentaram esquentar as minhas...

Eu reencontro seus lábios
carnudos e avermelhados
e me reencontro à lembrança
dos nossos beijos molhados.

Fico ali estacionada
num bonito minuto de reencontro,
mas de repente me acordo assustada
com o ronco de um homem
por quem não estou apaixonada.

Quem dera um dia
eu realmente não reencontre
o amor da minha vida
e lhe beije toda a fronte.

Mas por enquanto eu me contento
em com ele sonhar,
alegrando as minhas noites
de monotonia nesse lar.

Dona Flor

Depois de ter escrito
"Gabriela, cravo e canela"
nosso Jorge criou
mais um de seus livros,
esse entitulado "Dona Flor e seus dois maridos"
com casos benditos
que falam da nossa nação sem pudores,
mostrando misticismo e até defunto peladão
que volta do além movido por uma paixão.

Essa paixão é Florípedes, a bela Dona Flor
que carrega consigo, um coração cheio de amor.

Dona Flor
é casada com o belo e forte homem,
mas ela, a bela Flor
não é a única que nas noites ele come.

Mas a apaixonada Flor,
com siri mole e azeite de dendê,
prepara uma moqueca
que é de Vadinho a receita predileta.
Aquela que ela aprecia ver
ele lambendo os beiços ao comer.

Num dia, em pleno carnaval baiano,
Dona Flor fica viúva
sem o marido que ama.

A honrada Flor,
com o farmacêutico da cidade, põe-se a casar
mas sente falta é dos beijos
que Vadinho costumava lhe dar.

A Flor roga em um terreiro
para rever seu falecido festeiro.

Os orixás acatam a Dona
e o devolvem sem arrependimentos,
sem roupas e sem vergonha!

Ao espiar-se pelas ruas baianas,
em meio a risos,
Jorge Amado vê de braços dados a caminhar
Dona Flor e seus dois maridos.

Mulheres de Jorge

Jorge Amado, foi quem desenhou
nossas mulheres brasileiras:
Gabriela, Teresa,
Tieta e Dona Flor.

Todas elas, posso dizer,
são mulheres de coragem,
com histórias dígnas de se conhecer.

D'entre as nossas mulheres,
Gabriela foi aquela
quem Jorge primeiro
pois-se a escrever.

Gabriela é inocente?
É, é diferente.

Gabriela tem a aparência
que os rapazes anseiam por conhecer
e essa mesma aparência,
nas bocas das mulheres vira motivo para maldizer.

Gabriela é tão bela!
Tem o corpo da mulher brasileira
e também é conhecida por não cortar a cabeleira.

Gabriela
além de um pensamento
além do seu tempo,
tem o perfume do cravo
e a pele cor de canela.

Essa é Gabriela.

Já n'outro tempo
nosso Jorge criou
mais um de seus livros,
esse entitulado "Dona Flor e seus dois maridos"
com casos benditos
que falam da nossa nação sem pudores,
mostrando misticismo e um defunto peladão
que volta do além, movido por uma paixão.

Essa paixão é Florípedes,
a bela Dona Flor, que carrega consigo
um coração cheio de amor.

Outra mulher batalhadora
quem Jorge bem retratou
é Teresa Batista, que muito lutou.

Teresa por muito tempo
sofreu e chorou
na fazenda aonde criança
comeu o pão que diabo amassou.

A morena também se apaixonou
e para poder o seu primeiro amor viver,
o homem a quem foi vendida
precisou as asas bater.

Tieta é cedo expulsa de casa
pelo seu pai que a rejeita
por ter sido pega
com um rapaz enamorada.

Mas tempos depois retorna a pequena cidade
d'onde foi embora, ainda com pouca idade.
Agora a bela mulher, que volta elegante, independente e rica
é por Sant Ana do Agreste muito bem recebida.

"Amado, Jorge"
hoje se lê nos livros
e a esse nome associa-se um homem,
da literatura, grande amigo.

Por ter ousado
em uma nova roupagem
para os seus textos escrever,
recheando-os de verdades
para o povo brasileiro,
poder o nosso próprio país conhecer.

Independência do Brasil

Agora em setembro, costuma-se lembrar
da independência do Brasil
que outrora foi motivo para o povo comemorar...

Lá no século XIX
com Dom Pedro brilhantemente a proclamar
"Independência ou morte!"
para o povo ao seu redor aplaudir e concordar.

Mas na verdade
a história se distorce com o tempo,
prova disso
é que a nossa independência
já foi comemorada
num dia que não
o 7 de setembro.

Quando se fala em 12 de outubro,
costumamos lembrar
do dia de Nossa Senhora
e do dia das crianças,
com os brinquedos fascinantes
com os quais todas querem brincar.

Mas num ano diferente
esse mesmo 12 de outubro,
foi quando o nosso país
foi proclamado independente.

Pouca gente sabe disso
e também pouca gente se importa.

Hoje o que se transmite pelo Brasil,
no estado em que se esteja,
são slogans como
"Brasil: um país de todos"
e diante disso, o meu desejo é...
que assim seja.

Que seja um país de todos
e independente do passado.

Que seja um país com todos
focados em um presente
em que slogans como esse
não sejam criados
para ficarem pelos cantos
esquecidos e abandonados.

Em uma palestra qualquer

Tem um doce de coco
me esperando na geladeira

Tem mais de três horas
que estou sentada nessa cadeira

Só imaginando
o meu doce na geladeira

Céu inspirador

Pequenas borboletas
voam sobre minha mente.

Tem uma de cor anil
que quer voar
mais alto que as outras mil.

Sobre a minha mente
há um céu azulado,
céu brasiliense:
cada tom perfeitamente encaixado.

Nesse meu céu
voam tantas borboletas:
coloridas, rosas, azuis, laranjadas
vermelhas, violetas e pretas.

Voam também mariposas
talvez mais belas ainda,
daquelas que antigamente,
os maridos caçavam e as enquadravam
para dar de presente para a esposa
dizendo o quanto a achava linda.

Mas eu não gosto de mariposa
nem de borboleta presa.

Prefiro deixá-las soltas
voando sobre a minha cabeça.

Olho para cima e vejo flores
borboletando e mariposando
sobre essa minha mente leve
(mais leve que barrinha de cereal light)

Mente que leva qualquer coisa
perdida por esse céu azul
a se transformar em versos sem métrica,
com rimas que são embaralhadas,
em uma tentativa
de deixar a vida mais colorida
e lembrar que o céu de Brasília
me deixa maravilhada.

Doce matéria

Pudim de passas
vovó já fazia
quando nas férias
para sua casa eu ia.

Pudim de passas
eu ouvi na escola
que um cientista Thomson
resolveu batizar
o nosso querido átomo
que já não era mais
uma bola de bilhar.

Eu com mente de criança
lembrei daqueles contos para dormir:
João e Maria
e a casa de doces...

Imaginei a matéria
como um pudim grande e doce.

Mas não sou criança mais.
Voltei a prestar atenção
no que o professor estava a falar.

A matéria deixou de ser doce,
agora é conteúdo para estudar.
Conteúdo sério,
desses que podem cair no vestibular.

Mas eu ainda fico me perguntando
se naquele tempo
Thomson andou se baseando
no conto de João e Maria
para a doce matéria
poder explicar,
criando assim sua teoria.

Eu as vezes misturo
ciência e fantasia...
Vai ver que é por isso
que me ocupo escrevendo poesia.

Praia

Pegadas curtas
na areia.

Eu me ponho a acompanhar.

Quando acabam
junto a água,
vejo longe
uma criança se afogar...

Pulei na água,
assustada,
procurando por aquele ser.

Nada vejo!

Talvez eu tenha
começado a enlouquecer.

Sobremesa

Pudim verde
cheiro azedo
aparência monstruosa.

Sobre o prato de sobremesa
é uma experiência
perigosa.

Esmalte cintilante

Saio do salão
com unhas cintilantes
que me lembram escamas de sereia.

Quando criança
eu assistia aqueles filmes
em que garotas eram
metade mulher,
metade sereia,
mas na praia tinham pernas
para caminhar pela areia.

Eu sem assas caldas mágicas,
contento-me com unhas brilhantes
que me remetem
a uma fantástica infância
ao menos por um instante.

Filha

Amora
que comigo mora,
quando fica triste
logo chora.

Amora
sorri agora,
querendo dançar
comigo lá fora.

Triste que agora
a nuvem lá fora
chora...
E com a rua toda molhada
a Amora pode
ficar gripada.

Chove lá,
mas de cá
a Amora liga o som
pra gente poder dançar.

Eu sou desanimado,
sem jeito pra a dança.
Prefiro ficar
no sofá deitado
assistindo a essa criança.

Mas Amora teimosa
logo me puxou
do confortável estofado
e me ensinou até
um belo rebolado.

Triste boneca

Bonequinha de pano
no meu colo chora,
querendo de volta
seu amigo
que foi embora.

Carta em verso

Confesso que estou é com preguiça
de escrever carta bonita.

Então escrevo versos
rimados
ou não.

Os versos
são puros,
são bons.
Com eles me expresso
sem pressa ou aflição.

Não me preocupo com parágrafos
ou com pontuação

E é por isso que escrevo esses versos
modestos...
Confesso que estou é com preguiça
de escrever carta bonita.

Escuridão

Pequena porta
por onde passa
uma velha encurvada e torta.

Pequena porta
do outro lado, a velha visita
sua neta morta.

Indelével

Indelével é quando
a tinta escreve no papel,
se arrepende
e para o tubo da caneta
quer voltar.

Mas aí já não dá...
A tinta é indelével
e no papel irá ficar,
porque não se pode
apagar.

Pensando assim,
tem coisas na vida
que são indeléveis.

Molhado

Casaco molhado
de suco de uva.

All star ensopado
pela água da chuva.

E eu cabisbaixo
caminho na rua.

Para Fernanda

O que seria do dia
sem a tua alegria?

Diz-me guria,
d'onde vem essas piadas espontâneas
e essas associações risonhas,
que toda manhã
ouço você dizer.

Se a aula é matemática
-escalonamento no quadro-
no momento preciso,
faz a argumentação enfática:

- Não sabia que nessa aula
nós iríamos virar alpinistas,
"escalando" as letras e números
que aparecem nas listas!

Quermesse

No mês de agosto
tem festa no templo
e eu que nunca fui,
aguardo a cada momento
para logo chegar
o final de semana
em que irei me esbanjar
com uma galera bacana.


Então já é domingo,
o primeiro do mês.
Lá pelo fim da tarde
vou conhecer
essa festa famosa,
formosa, feliz,
com comida gostosa
e quando voltar
eu conto procês.