Coleção pessoal de Rose05

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Metamorfose

Minha poesia é um
mapa aberto em alusões,
onde minha identidade é trocada.
Nela saio de mim
e ultrapasso meus limites,
num ritual que sempre
celebro o avesso.

O amar

Desfaz a textura dos dias
e desafia o tempo.
Sua busca é seu itinerário:
sempre segue sem bússolas
pelos atalhos da vida.
Mas não se perde,
encontra-se em cada elo.

É sem prévias partituras,
se a melodia principia.
Se semente e seiva,
sempre é templo de maduração.

É tempestade e estio inesperado.
Paisagem vária.
Travessia.

Como ave

Quando teu corpo
se encontrar
em noites sufocadas
de solidão e angústias,
mergulharei em teus abismos,
como ave em vertical voo,
para que faças de mim
abrigo,
travessia.

Já tua presença
é muita
e de certa medida,
embora ainda
no ventre que te abriga.

Enquanto está aí,
procuro definir tua face,
mas perco-me na profusão
das origens e gerações.

Quando chegares,
vai calar minhas palavras,
pois és mais que poesia:
é fonte e euforia,
é vida a mais!

Ao voltar de Juiz de Fora,
sempre sou outra:
redescubro no olhar
o rosto da última despedida.

Não estar perto dos meus entes querido
me torna uma mulher forte, pois
posso aguardar nos meandros do tempo,
enquanto não os vejo; refaço
os contornos dos olhos de cada um
e espero a imagem se dissolver
e se recompor novamente.

E assim vou seguindo:
Com o relógio se detendo
sobre as horas vivas
quando colho o calor
e me aqueço em silêncio.

nstante de labirinto
Instante angustiante
Estou perdida nele,
sem faro,
sem amplidão.

Me perdi, me busco,
procurando descobrir
cada nuance eu estar assim...

Em meu sangue corre o desespero,
Em pedaço e perdido de dor
está o meu coração.

Fizeste minha alma
naufragar.
Meu viver está
Apenas fluindo no fluxo.
Por quê?

A felicidade mata qualquer tristeza,
E você me deixou num cais à deriva,
Num barco sem visão
Que corre solto e perdido.

Entrava numa loja e outra,
mas saía de mãos vazias.
Dei uma pausa na cafeteria,
mas esqueci o café que esfriou na mesa.
Estava inquieta.
Não queria comprar nada
nem beber café algum.
Queria ver você.

Fechei os olhos. Com força. Obriguei-me a lembrar, a visualizar este ano que vai indo... Fitei a amizade feita com todos, as amizades já de anos, as delícias de momentos vividos e sentidos, a distância que me separa de minha cidade natal, meus parentes queridos e eternos... E disse:
- Tenho que ser mais eu!
Atravessei a sala, examinei a rua em silêncio. Agachei-me embaixo da fresta da janela. O som da chuva aumentou. E eu consegui entender que nada dessas coisas poderão sair da minha vida. Posso abrir uma página nova na minha vida, mas jamais virar as páginas vividas. É a única verdade que eu realmente sei. Eu disse a mim mesma e a digo a você agora.

Amar é um desafio, pois precisamos ter a consciência de que ao invés de seguir o nosso coração, teremos de governá-lo um dia de cada vez.

Assim surgem os meus versos

Assim surgem os meus versos:
durante uma jornada agitada
naquele olhar
no beijo do amante
no andar pelas ruas sem rumo
da dor e do pranto
acompanhados na aquarela
na busca de mim mesma
nas coisas mínimas e
e nas coisas máximas.
Assim surgem os versos:
sem avisar
sem domínio
sem premeditar
os versos dão-me o bote.

A xícara de café

Vagando entre o sonho e a realidade,
mergulho os pensamentos
na xícara de café,
quebro uma casquinha de pão nos dentes
no lirismo das 4 da tarde.

A cafeteria num ponto mágico
me traz a luz da rua
e a energia vital
desprendida das coisas paradas,
é como se eu pudesse ver
as verdades alheias.

Movimento da rua
feito de passos largos
e um homem inerte
que capturo com o olhar
em silêncio num banco,
momento que pressinto
paz e calmaria.

Mergulho os olhos na
xícara de café
imóvel
a colher move
meus olhos parados...

A xícara e o café
de um se faz o outro
eternos...
Encanto que me tira
a pressa
e me faz desperta e atenta,
apaziguada e viva.

Ao redor da xícara de café,
há uma folha mágica,
de onde os versos emergem
e oculta a realidade,
provocando minha alma
para contar minha história:
a fala do silêncio,
de quem caminha sozinha.

Era uma vez

O vento soprava
janelas demolidas,
regendo uma orquestra.

Na gaveta, dormindo
sob cartas e poemas
o revólver aguarda.

Ela,
perdida em si mesma,
como se perde a
areia na areia,
se recolhia ao Tempo
... e era uma vez.

Zana
(desejo súbito de uma noite em solidão)

Quero andar pelas ruas de Juiz de Fora
na sua doce e suave companhia,
esquecer os apuros, sustos e desenganos,
desfazer o tédio, a tristeza e o cansaço.

Abandonar-me, calada, em teu sorriso
neste gosto suicídio de que o tempo passe...

Quero ouvir junto de você
canções de Ana Carolina e
versos de Murilo Mendes
que vem de longe,
de onde, nem de quando, não importa.
Mais vale tudo escorrer
sem planos nem cuidados...
Mais vale ouvir tudo em surdina,
recuperar os dias vividos em
distância...
E falar de nós,
apenas de nós.

Quero preservar meu fino. Sou lisa, quase transparente, brilho no fundo de um regato em flor. Desço montanhas tecendo a aventura. Mais valiosa que qualquer pepita. Ninguém me reconhece, sou perdida entre muitas, mas não me importo, se lapidada perderei meu fino, por isso me deposito com a certeza de não ser colhida. Tenho a beleza pura no barulho das correntezas, mudo de lugar conforme a chuva e os ventos. Ameaço despencar em cascatas, mas me seguro. Me encolho, me cubro com véu ao toque quando estão por me descobrir quase sem querer. E flutuo, sumo... para transformar em fonte pura sentimentos e valores que se perdem pela vida.

O olhar apaixonado é um convite... indisfarçável.

Onde você está esperança?

Onde você está que já não te vejo?
Em vão perscruto
o mar, a terra, o céu...
Vai profunda a noite, tão deserta a rua...
E eu como a lua,
vagueio ao léu.
Tudo é solidão, tudo é vazio...
Santo Deus, que frio
me faz gelar!
Ó esperança!
Quanta vontade de te encontrar!

Para não apequenar a vida, que já é curta, sejamos inteiros.

Momento lembrando outro

Tomando este café, não amargo,
nesta tarde nem muito fria,
que estranha nuvem é esta
que cai em mim de um outro dia?
Que outro momento em mim
de frio me percorre,
que saudade é esta, que tão viva,
hoje me entorpece?
Pousando esta xícara, às margens
de caminhos incertos,
nem amargo nem frio o dia e o sabor,
que boca é esta que me sabe de tudo?

Silêncio

Sou, apenas, assim me basta.
Tenho a certeza de existir, o que é tudo.
Por que devo dizer? São inúmeras e tão vastas.
Palavras! Se são pobres, prefiro ser muda.

Meu corpo também foi feito para dormir.
Mesmo o amor tem lá seus segredos.
Se estou com alguém, quero apenas existir...
Há sempre algo em mim que não escapa à prisão do pensamento.

Meu silêncio não fere a quem eu respeito.
Eu tenho a mesma calma de um ancião.
Sou silenciosa como um monge em meditação,
Como a bênção de mãe sobre o filho.

Assim como devemos nos desapegar de objetos que não enfeitam a nossa casa, também devemos nos desapegar de pessoas que não nos transformam no melhor que podemos ser, que não têm nenhum amor em nosso ser. Libertarmos dessas amarras (nichos), exige o desenvolvimento de nossa auto-estima e uma profunda confiança de que sempre é possível renascermos para uma nova vida, se estivermos abertos para isto.