Coleção pessoal de renatamulinelli

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- Vou te confessar que não vejo tanta graça assim em fogos de artifício, toda aquela barulheira, a fumaça. Me rendo frente as suas cores e a magia das "luzinhas-no-céu". Mas, experimentando sentir as estrelas, silenciosamente muito mais intensas, não há como comparar a essas luzes estrondosas e exageradas. Estrelas são simples, estrelas estão sempre lá, enfeitando sonhos e noites solitárias, não cobram atenção e não fazem exigencias, não há pois o que esperar.. Simplesmente o são, simplesmente brilham.
Fogos são pomposos, cheios de si, exuberantes e esperam sempre por suspiros de admiração e expressões embasbacadas olhando unicamente para eles, exigindo toda atenção que puderem extrair. Fogos de artifício não deixam espaços para sonhos, para sinceridade, para a alma levitar. O que me faz pensar que as pessoas não se permitem mais sonhar. São 365 noites estreladas por ano, e sabe-se-lá-quantas de fogos de artifício, e são poucos os que deixam a paz reinar olhando para o céu quando não há os sons pedindo atenção. Como tudo que é simples, como tudo que é puro, estrelas são esquecidas e deixadas no simples estado de existência, nada mais, nada menos que existir, notadas apenas pelos corações apaixonados e uma ou outra alma perdida e desorientada, que procura encontrar lá em cima, no céu, na morada de Deus, Allah, Jah, ou seja lá qual for o nome que dê a sua crença, os caminhos que não encontra na terra. Entregues ao simples ato de existir, sem tentar ofuscar nada, sem necessidade de alcançar nada, vistas por quem as querem ver, simples, livres, intensas, reais, sem pretensões nem decepções, assim são. E brilham, brilham! Como eu queria ser estrela..

Foi em uma rara noite chuvosa de dezembro, final de ano, fim do ensino médio. Eles foram deixados, propositalmente, para trás, e riram, satisfeitos com a situação. Martini, cereja, moedas, sorriso, silêncio.
- Vam'bora daqui? Esse cara cantando tá me deixando doida!
Passos incertos em meio a calçada deserta, chuva, vento, liberdade. O silêncio fez mais pelos dois que qualquer frase ensaiada, era mútua a confiança, a cúmplicidade. Passaram juntos por mil situações ao longo do ano, sem jamais precisar falar demasiadamente sobre nenhuma delas, era o olhar, era o sorriso, e bastava. Riram de tudo, deixaram-se enxarcar e chover também, nessa noite não era só do céu que caíam as gotas, a presença dele coloria o céu nublado e aquecia a outra alma deserta, fugitiva. Contaram passos, casos, passado. Cantaram, sentaram no meio da madrugada da cidade. Relembraram, planejaram, enterraram.
Tiveram chance e até intenção de ir além, por instantes imaginaram soltar-se e deixar os instintos e os impulsos agirem, e quem sabe, um leve toque de lábios, uma leve mudança de hábitos, de quem-sabe-o-quê, porque isso é normal, sentiam que era, mas sempre existe alguma coisa, alguma voz lá no fundo que insiste em lembrar que consequências não desistem, e que nenhum dos dois estavam dispostos a arcar. Não havia medo, receio, teor algum de desconforto diante da presença um do outro. Havia só a chuva, o tempo correndo numa outra dimensão, não contabilizada pelos relógios de pulso, um tempo que contava um sentimento nutrido por anos em algumas horas na madrugada chuvosa daquele final de ano, inseguro e confuso.
Não sabiam, não pensava, apenas sentiam.
Cheguei em casa com cabelos, corpo e alma lavadas, o guarda-chuva que carreguei a noite inteira, continuava fechado e agora divertia a lembrança da madrugada mais livre, simples, e justamente por isso, mais incrível do meu ano.

Se pudesse reservaria uma dia na semana para andar de ônibus, um dia inteiro, sem nome, sem expressão, sem espera, sem expectativa, sem fazer, sem explicar, sem comentar, sem forçar sorrisos, sem esconder lágrimas.. Escolho o ônibus pois não há veículo mais impessoal, assim como pessoal, idas e vindas, passageiros, pessoas, crianças, fixos, aleatórios, rostos, risadas, telefones, choros infantis, a mistura é tanta que é fácil, tão fácil, ficar ali, despercebida, inconsciente e até sub-viva. Observar as ruas, os céus, as nuvens, as árvores, eventuais gotas de chuva desenhando na janela as mais variadas formas e lembranças, e o sol a mudar-lhe os tons, as cores trazendo de volta brilhos e saudades, vontades.. Os vultos, os prédios, os vazios, os horizontes, os pássaros, carros, sons, silêncio.
Pensar, sonhar, lembrar, cantarolar, se perder, esquecer, se encontrar. Fingir, por um instante só estar indo pra algum outro lugar, qualquer seja, imaginar.. Se soltar, voar, mergulhar, aterrissar. Construir personagens para cada um dos outros passageiros, inventar profissões, infâncias, planos, medos, passados, casamentos, amores não-correspondidos, paixões malucas. Criar para si próprio papéis e representá-los, ainda que só convença teu ego, e sofrer dores inexistentes, e contentar-se com realizações falsas, e imaginar-se em férias incoerentes, e criar, e fingir, e ser, e sentir, quem se importa? Como se fôssemos sempre os mesmos a cada amanhecer, como se tivéssemos controle sobre cada pensamento e o poder de prever o real sentido dos acontecimentos, as mudanças, as sequelas que perdas e ganhos causam diariamente, as inconstantes, as incógnitas e todas essas outras palavras difíceis que tentamos tornar irreais e distantes..
Mas se pudesse ao menos viajar um dia inteiro por semana, um dia apenas de cada sete que somos levados a manter calmos, convenientes, nos eixos, nos planos, no roteiro. Se pudesse, um dia apenas, me criar, pintar o mundo de cor-de-rosa, sim. Ou de laranja se me desse na idéia, dar asas aos meus elefantes e pantufas as centopéias, e se eu quisesse tirar dinheiro da cueca de quem carrega e entregar a quem nem colchão tem? Pediria apenas 24 horas de cada 168 horas que precisamos fazer dar certo, que precisamos concordar quietos, que fingimos que aceitamos, que transformamos lágrimas em dentes brancos.
E se eu quisesse me dar o poder de mudar todas essas coisas que me fazem não querer ser parte de um mundo assim..

Ela, tinha olhar de paisagem, do tipo que não se prendia a detalhes, era tão leve que chegava a dar medo de tocar. Ele, era o perfil desapegado, descrente, desligado, autosuficiente. Se encontraram num dia assim sem aviso, nem quente, nem frio, chovia levinho sem apagar o sol insistente de setembro. Se toparam numa rua, num parque, entre folhas secas e bancos de pedras, entre crianças e pessoas anônimas, não que tenham colidido fisicamente, mas suas vidas, ou apenas seus olhares, se enlaçaram sem pedir opiniões, e assim foi.
Ela, gostava do vazio, do simples, do abstrato que dava espaço para ela ser o que quisesse afinal. Ele, curtia as aventuras, as intensidades, as loucuras que não davam espaço para pensar no que queria ser enfim. Se encontraram num ano qualquer sem planejamento algum, sem idéias, nem futuros, pareciam-se nas diferenças sem deixar de se completar, não que fossem metades, nem que procurassem continuar ser no próximo. Ele aventurou-se nos vazios. Ela intensificou os simples. Os dois enlouqueceram de um amor abstrato, e não há quem diga que daria certo, e assim deu.
Ela, encantou-o com a leveza, mostrou os sonhos, as estrelas, os grãos de areia e o som dos pássaros nos amanhecer de sábados. Ele, conquistou-a com o inseguro, apresentou sensações, recordações, cores para os seus espaços p&b, enxeu de fotografias suas paredes outrora vazias, desnudas, sem qualquer tipo de ilusões, desiluções, passados, pessoas. Se envolveram sem idealizar segundos, sem olhar pro fundo, sem tocar o chão. Apagaram a existencia da saudade, a probabilidade de acabar e deixar sequelas..
Pra ela paredes de fotografias velhas, recordações que destruiriam o vazio, o abstrato, o simples ato de não ter, não querer, não sentir.
Pra ele a necessidade de simplificar, de abrigar, de se deixar, de se levar.

Só pra'te contar de todas as vezes que eu não te sentia perto, e te confessar que eu sentia todas as vezes em'que tu estavas aqui, em que eu abraçava o teu pescoço pra te fazer mais meu, mais próximo, mais parte-de-mim ou parte-que-me-cabe-de-ti, e que teus braços, tanto quanto tua mente e teu olhar se distanciavam cada vez mais, cada encontro mais, cada abraço mais, porque eu te segurava, e criava mais braços e mais mãos pra te juntar, pra te acorrentar, por que, entende? Não que eu quisesse te possuir ou te comandar, eu só queria sentir os teus braços, o teu corpo, o teu querer-estar e querer-sentir, mas eu não sentia, e quanto mais meus braços envolviam o teu corpo mais deixava transparecer que era só um corpo, oco. Não havia nada ali, ao menos não pra'mim.. E que cada vez que eu tentava te sentir, via os teus braços distantes de mim, e o teu rosto usando meu ombro de repouso apenas para mirar com os olhos um outro lugar tão, mas tão longe dali.. E os meus braços cansaram, finalmente enxergaram, que não importava a força e o amor que eles sentissem pelo teu pescoço, e o meu faro pelo teu cheiro, e os meus olhos pela tua cor, meu ouvido pelo teu timbre, sempre seria assim, eu ali, entregue assim, e o teu querer-pertencente-a-outro-alguém jamais estaria onde eu estivesse, porque o teu querer pertencia-a-outro-alguém e não queria-a-mim.. Então tornou-se tudo tão mais claro, e tudo tão mais fácil, que me fez querer ter alguém que criasse elos, ligações, conexões, sintonias em apenas estar perto, meus braços cansaram-se, fecharam-se, hoje, aceitam apenas os braços que primeiro lhes tocam, e sentem necessidades que antes desconheciam, como encostar em outros braços que também-lhes-queiram e também-os-sintam, que não haja mais a necessidade de segurar, de esperar resposta, de procurar pulsos e encontrar repulsa.. Apenas o toque, apenas a recíprocidade, hoje, eles não esperam mais por ti e nem meus olhos procuram ver o que os teus parecem querer, nem meu faro sente falta do teu cheiro que o acompanhava aonde quer que fosse, descobri mil outros timbres, no início foi difícil não comparar com o teu e com aquela sensação gostosa que emanava, vibrando em mim, mas não sinto mais, e é tão livre, tão puro.. Tudo bem, se demorar pra encontrar braços que queiram os meus abraços, só que teu eu não espero mais, eu não peço mais, eu não quero, não quero mais.

- Sabe o que é mais cruel em escrever histórias?
- Não poder vive-las?
- Não, não ter controle sobre a sua própria história..

- Sabe o que é mais cruel na minha?
- O quê?
- Não quero que escrevam ela sem você..

E, não é a primeira vez que voltava pra casa sem nada nas mãos. Talvez por se deter nas capas, ou por querer prever
uma história inteira em meia dúzia de palavras..

Ah, cara, não me segura não.. A estrada me chama, o sol me chama, o som disso tudo me instiga. Óculos escuros e o vento bagunça meu cabelo, o sol deixa a pela morena e no som algo que não me deixe pensar, eu só quero cantar.. No ar uma atmosfera de entrega, uma vontade insana de viver, de ver, cara, me entende? Eu não preciso de um destino, na verdade, eu não tenho um, não quero rotas, guarde os mapas, eu quero me perder no meio de uma louca tempestade. Eu quero ver toda essa gente. Todas as cores, todos os tons, os sons, amores. Eu quero sentir todos os ventos e mergulhar em todos os mares. Chega de relógios, tic tac, hora marcada. Não! Tem muito mundo no mundo e eu não quero ficar aqui. Me disseram que a vida tem compromissos demais pra se deixar viver, mas eu não aceito, não na minha.. Chame do que quiser, a minha alma nasceu pra essa liberdade, meu corpo pede intensidade. E eu não preciso de mais nada se você disser que vem comigo..
Vem, vem ser uma aventura eu e você. Eu quero percorrer os quatro, os cinco, todos os cantos do mundo com o teu sorriso do meu lado.. Eu quero rir de tudo, quero sentir tudo, quero falar tudo, ouvir tudo, quero esgotar a minha necessidade de mundo.. e de você.

Feche as gavetas que você abriu, limpe os corações que desenhou nos meus vidros embaçados, queime essas cartas, guarde suas fotos, suma com esse santuário de recordações. Tranque bem a porta que você abriu para chegar até aqui, esqueça os caminhos, abafe o seu sorriso, desvie esse olhar.. Esconda suas certezas, acabe com as suas tristezas, inseguranças não me importam mais. Acabou a festa, desligue as nossas músicas, leve com você os filmes, os livros, os planos, os bancos, o gramado, os dias de sol, as noites de chuva, o número do seu telefone que eu não vou mais usar.. Leve de volta a sua magia, a sua influência, o meu sorriso..

Eu não quero lembrar que novembro demora a passar, que contra todas as previsões você voltou cedo demais, que tornou meus argumentos inválidos, minha fuga inútil. Não quero, não quero lembrar das cartas destinadas, das cartas assinadas, dos sentimentos destinados, dos envelopes lacrados! Mas essa chuva não passa, e eu não quero lembrar que cada gota me traz de volta um pouco de você..

Eu queria te encontrar,
poder demonstrar tudo o que eu senti e ainda sinto
te provar que nada se perdeu

E eu queria te explicar,
como é frustrante conversar contigo hoje
e não poder dizer nada..

E queria te contar,
que quando calo é pra não cair,
que quando fujo é pra não sentir..

Queria acreditar
que tudo isso é parte do passado,
e que escrever pra ti tira o "tudo" de dentro de mim..

E se o tempo voltasse?
E se eu não chorasse?
E se não me importasse?

E se você não ligasse?
E se eu me acostumasse?
E se eu mudasse?

E se nada acabasse?
E se eu procurasse?
E se você se entregasse?

E se eu escrevesse?
E se de nada valesse?
E se você esquecesse?

E se eu acordasse?
E se a vida parasse?
E se eu te beijasse?

E se eu não escrevesse?
E se, ainda assim, você lesse?
E se me entedesse?

E se me amasse?

E num segundo escuro sentei e chorei, não que houvesse dor, não que houvesse mágoa, não que houvesse culpa ou qualquer outra desculpa manjada, mas não que não houvesse nada..
Eu chorei por tudo que não muda e pelo que muda e eu queria manter, chorei por tudo que custa e o que não dura também..
Eu chorei pela margarida murcha, pelo relógio em marcha, pelo tempo que eu deixei, chorei pela saudade alvura, por essa nossa loucura, por essa sanidade segura..
Eu chorei pelo que falei, pelo que ouvi e pelo que calei, chorei pelas chances desperdiçadas, pelas lágrimas disfarçadas, pelas alegrias forjadas..
Eu chorei por quem não vive, por quem morre e se levanta toda manhã, por quem anda entre a gente sem estar presente..
Eu chorei pela manchete do jornal, pela realidade das minhas janelas, pelos gritos de alerta que não soam, chorei por um pouco de humildade, um pouco de simplicidade, um pouco de integridade.
Eu chorei pelo que não mudei, pelo que evitei, porque não acordei, chorei por quem pode e não muda, por quem ouve e não escuta, por quem acorda e não luta..
Eu chorei por defeitos e erros, por passados e medos, por memórias que não eram minhas, e pelas minhas também, chorei pela distância de duas pessoas lado a lado, pelas mentiras que viraram hábito, pelos sentimentos alarmados, sem intensidade, sem verdade..
Eu chorei por crianças que matam, por crianças que trabalham, por crianças que geram crianças, chorei por adultos que brincam, por adultos que se omitem, por adultos que não pensam..
Eu chorei pelos valores que eu não aceito, por uma justiça que não tem nada de direito, por uma vida que eu não quero, chorei por quem não merece e sofre, por quem não quer e morre, por quem não aceita e é mudo, por não ter essa crença de um mundo futuro..
Eu chorei e não faz diferença e talvez escreva e dê na mesma, chorei porque aqui sorrir é coisa de gente boba, porque sorrir não dá grana, porque sorrir é pra quem tem dinheiro, um corpo perfeito, e um padrão de vida.. que eu não quero.

PAIXÕES

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hold my hand?

..a verdade é que eu não estou habituada a situações fora de controle, a última me deixou estagnada, e eu cheguei a aprender o limite do até onde se deixar envolver, não que eu esperasse me manter assim pra sempre, vida sem riscos, pra mim, é banalidade. Mas eu não esperava que fosse agora, que fosse assim, que fosse contigo. Não que o teu jeito me encomode, mas não saber o que sentir me desnorteia.. eu nunca sei o que esperar, eu nunca sei até onde ir, o que posso falar e o que sentir; não sei o que é, não sei se é.. eu fico braba, eu desisto, te mando embora, crio mil feitiços pra te fazer voltar, espero o telefone tocar, sorrio sozinha só de lembrar, lembro do teu jeito, lembro de me surpreender como tudo aconteceu, tudo em um segundo.
..a verdade é que eu sempre quis ser daquelas seguras de si, que já aprenderam as lições que eu nunca entendi. Queria saber relaxar, deixar a vida trazer, deixar o tempo passar, "e o que tiver que ser, será.." adoro essas filosofias, mas acho que nunca vou conseguir segui-las. Afinal, alguém consegue? Alguém consegue apostar numa relação, sem pensar se vai dar certo, se não vai, se vale a pena, se é cilada, se vai se machucar de novo, ou se vai casar..
eu penso em tudo e até demais, mas isso não impede que eu seja a criatura mais impulsiva que eu conheço, a verdade, é que eu penso em tudo e até demais DEPOIS, quando é tarde, quando meu lado escorpiana esfogueteada e impaciente já entrou em ação, isso já me causou mil tempestades em copo d'água, mil noites mal dormidas sem motivos, mil paranóias sem fundamento algum.

..a verdade é que eu tô te pedindo um pouco de paciência, um pouco mais de ti, um pouco menos de futuro, de planos, de idéias, de palavras.
um pouco mais de agora, de hoje, de aconchego, de sorrisos entre beijos..
um pouco mais de realidade, e um pouco menos de confusão.

outubro

Eu não queria levar nada, carregar nada, lembrar nada.
Preferi não me despedir, despedidas costumam ser melancólicas e explicativas, e de todas as coisas que eu fugia com a minha decisão, as principais eram a melancolia e as explicações que implicavam aquela vida..
Juntei dinheiro, peguei uma mochila, nem grande demais pra não chamar a atenção, nem pequena demais pra não faltar espaço pro que eu precisaria dali pra frente. Selecionei a bagagem: poucas mudas de roupas, três fotografias, uma carta, um rascunho de resposta, dois livros, um mapa rabiscado e fiquei indecisa sobre os pingentes: um mamãe me dera, o outro fora dela.. Resolvi levar os dois.
Botei a mochila, enfiei o boné na cabeça, meu pai sempre disse que eu botava aquele boné quando queria aprontar alguma, talvez o velho não estivesse tão errado assim. Deixei um bilhete no espelho do banheiro:
"Não sei quando tu volta, mas sei o que vai pensar sobre isso.
Um dia, talvez, entenda que não é fraqueza, é liberdade,
mas eu não tenho grandes esperenças quanto a isso.
Ainda, com amor,
L. "
E saí, nunca me senti tão feliz em sentir a brisa das seis da manhã, os primeiros raios de sol de primavera me invandiam por inteira e me permiti um sorriso, fazia tanto tempo, já tinha esquecido a sensação... Não qualquer sorriso, sorrir a gente sorri todos os dias, mas sorrir pra alma também, sorrir com o corpo inteiro, sentir os pulmões se enxerem e a expressão do rosto iluminar-se, isso sim, é um sorriso. Pensei então no que seria agora, nem tinha me passado pela cabeça que eu não tinha nada planejado, engraçado como essas coisas acontecem. Quando eu era criança e fugia de casa (dava a volta no quarteirão, passava a tarde embaixo de um banco e comia um CQ na praça, a noitinha voltava correndo pra casa), passava meses desenhando mapas e contabilizando minha mesada, pra ver o que dava pra fazer. Hoje, com 19 anos, eu não pensei em nada, me dei alta da semi-vida e escolhi viver, simples assim.
Mesmo sem querer, lembrei da Fer, não era justo ir embora assim e não dizer nada nem pra ela, e de qualquer forma, sabia que dela ninguém ouviria uma palavra. Peguei o celular, mas hesitei por um instante, o que eu queria dizer não dava pra expressar pro telefone, mudei a rota e segui até a casa dela. Fazia dois anos que a Fer dividia a casa com quatro colegas de faculdade, o irmão dela, uma guria e dois amigos. Era um chalézinho simpático, com um pátio grandão e duas árvores que me deixavam encantada, já pensei várias vezes em me mudar pra lá também, mas nunca fui muito social, e a idéia de dividir o banheiro com cinco pessoas, é, não mesmo.
Toquei o interfone, um dos meninos que moravam lá era técnico em eletrônica, o chalé era todo equipado com coisas exageradas, mas que davam um toque de personalidade pro lugar.
- Quem? - uma voz sonolenta atendeu. Reconheci imediatamente o tom, era o Biel, irmão da Fer. Me dei conta que eram seis e vinte da manhã, e que a maioria dos estudantes normais estudavam só depois das oito, me dei conta também, do misto de sentimentos que eu senti ao ouvir aquela voz. Balbuciei alguma coisa e fiquei totalmente sem jeito.
- Biel? A.. a Fer "tái"?
- Cara, que horas são? Bah, eu nem sei da Fer, não abri os olhos ainda.. "Guentaí" que eu vou ver. - com um estalido ele desligou o interfone. Passou alguns instantes, alguns passos no parquet do chalé, a chave girou na fechadura, esperei ver a Fer com o seu pijama amarelo que rendeu altas piadas entre a gente, mas ao invés dela veio o Biel com uma caneca de chocolate.
- Bom dia senhorita-surpreendente - disse ele com um sorriso e ergueu outra caneca na minha direção.
- Não.. Biel.. eu realmente preciso falar com a Fer, não dá tempo.. agora, não.
Todo esse embaraço não era de graça, eu e o Biel sempre tivemos uma relação... engraçada, no mínimo! Sem falar que eu só queria ver a Fer e ir embora, não queria que mais ninguém me visse, ninguém pra me tentar convencer a mudar de idéia, não que eu corresse esse risco, sabia exatamente o que queria, ou pelo menos, o que eu não queria. E o Biel sempre teve aquele jeito, de me fazer falar tudo o que eu tava pensando, sem muito esforço. Pra falar a verdade, era natural, quando tomava por conta, já tinha falado tudo que eu não admitia nem pra mim mesma.
- Ei, ei, calma aí, pequena! Parece até que tá fugindo.. - ele se manteve sorrindo e com a caneca no ar.
"Parece que tá fugindo, comentáriozinho sem vergonha esse."
Aceitei a caneca, não tinha mesmo planos, essa era a vantagem, essa era a grande mudança, o que fazia tudo ter sentido, sem explicação alguma.. Nada de planejar, nada de saber, estava no ínicio do dia do primeiro mês do resto da minha nova vida..

não pensar

Quem nunca sonhou em encontrar uma lâmpada mágica "a la" Aladin? O gênio, os três desejos e blá-blá-blá.. Pois bem, digo o que faria, mandaria ele dar os outros dois desejos pra quem bem entendesse ou até usasse se quisesse, sempre me perguntei se os gênios das lâmpadas tem poderes para realizar os próprios desejos.. Talvez não, se tivessem provavelmente não morariam numa lâmpada, né? Enfim, com o desejo que me restasse eu pediria simples e absolutamente controle sobre meus pensamentos.. Absurdo? Não, totalmente plausível, juro! Estou totalmente certa das minhas idéias quando afirmo que seria a solução de muita gente poder escolher quando pensar, no que pensar e como pensar! Mas a idéia não é pensar melhor, bem pelo contrário, é pensar menos..
Pensar menos no que teria acontecido se tivesse dito isso e não aquilo, pensar menos em por quê as coisas acontecem assim e não assado, pensar menos em por quê as atitudes certas só ocorrem depois de ter tomado as erradas.
Pensar menos em por quê's, em como's, em motivos, em explicações, em desculpas, culpas, medos..
Pensar menos em se's, em quando's, em amanhã's..
Pensar menos em coisas que lembram tristezas, saudades, vontades que independem de nós para acontecer..
Menos em o que pode acontecer se fizer e se não fizer, qual a reação das palavras e do silêncio..
E então viver mais! Falar mais, sentir mais, se permitir mais.. Permitir que as coisas aconteçam e aceitar a maneira que elas vem, se entregar com a mesma intensidade, sem jamais comparar passado com presente, jamais sonhar demais com o futuro e deixar o hoje em segundo plano. Enquanto eu não encontro minha lâmpada, vou continuar pensando em você .

Saia de pantufas!

Hoje eu fui de pantufas até o mercadinho, e olha que não é qualquer pantufa! São patas de oncinha de um laranja vivo, com tudo que tem direito, manchinhas, unhas pretas e bãrãrã, nossa, que ousadia a minha, hein? Foi uma sensação indescritível! Fiz três pessoas, que eu nunca havia visto, sorrirem, podia ser de mim e não para mim, mas eu sorri de volta, afinal, que diferença faz, né? Se pra você, isso é pouco, reveja as coisas que realmente valem a pena..
Não tem pantufas? Ok., não tem problema! Saia de casa quando a chuva começar, sente de frente pro mar num dia de ventania, pegue mais sol, dê mais oi's aos desconhecidos, sorria mais para as pessoas na rua, mesmo aquelas que te olham com a cara amarrada, beije mais as pessoas que você gosta, no rosto, na testa, na mão, no ombro.. Quem disse que beijo é só na boca ou na buxexa? Abrace mais! MUITO mais! Poucos gestos na vida demonstram tanto carinho, um abraço vale muito mais do que muitas palavras e ajuda bem mais do que um silêncio conveniente. Dê mais risadas de si mesmo, dê gargalhadas mais altas, e daí que outras pessoas possam ver e não entender? Tire os sapatos toda vez que chegar perto da areia ou da grama, sinta, energize-se, suje-se! Sente em frente ao espelho e converse consigo mesmo, loucura? Loucos são os que não conseguem nem estabelecer diálogo com si próprio. Reserve um tempo para conversar com a sua mãe, descubra a mulher fascinante que ela é! TODAS as mães são. Tente ter um pouco mais de paciência com o seu pai, a maioria deles tem um jeito meio torto de amar, mas serão sempre eles que estarão lá quando você precisar.. Cante no chuveiro, o cara que disse "quem canta seus males espanta" não tava de brincadeira! Cozinhe mais para as pessoas que gosta, a culinária tem uma magia toda única que aproxima muito mais do que conversas intencionais.. Escreva mais cartas, mesmo que nunca as entregue, escrever sobre sentimentos é o mais próximo da compreensão que alguém pode chegar. Telefone mais, mesmo sem saber ao certo o que dizer. Diminua distâncias! Saia da cama mais tarde no domingo, tome um banho ao acordar, demore no banho! Ou não faça nada disso, pense apenas nas coisas pequenas do seu dia que te fazem um bem enorme..
Ah, e.. acredite em mim quando falo nas pantufas!

Saudade vale a pena!

Conhecer é bom, se envolver é bom, ter momentos é bom, se apegar, gostar, se entregar, conviver, se acostumar, confiar, perder é bom.. ÊPA! Como assim? Perder é bom desde quando Renata? Desde sempre.. Não que eu goste ou que qualquer outro goste de perder, mas sem perder uma vez aqui e outra ali, ninguém, jamais, valorizaria todas as outras etapas de antes..
Estamos lá, pra baixo, atiradões, desiludidos, com cara de cachorro que caiu do caminhão da mudança quando surge aquela pessoa divertida, magnética, misteriosa, atraente, compreensiva, super parecida contigo e que, ainda por cima, tá dando papo! Sem nem pensar duas vezes, ou, já meio manco e caleijado, com um receio e uma certa resistência, vamos nos soltando, nos mostrando, nos deixando descobrir e descobrindo o tal 'presente-que-caiu-do-céu-diretamente-na-tua-porta', quando vê já tem apelidinhos, música tema, filme que lembra, texto que lembra, cheiro que lembra, tudo que lembra e notamos a importância e a proporção que tudo tomou..
Damos risada sozinhos, achamos tudo lindo, pintamos o mundo de cor-de-rosa! Coisas corriqueiras que antes irritavam, hoje? Nem cócegas! Só queremos mais e mais e mais e.. acaba! Rápido assim, e então, espraguejamos, xingamos, colocamos (invetamos) mil defeitos na pobre criatura - que, tudo bem, nem sempre é tão pobre assim - e dizemos que nada presta, nada dá certo, enfim..
Sozinhos, lembramos, choramos, sentimos aquela dor sobre humana que damos o nome de "saudade", e então é tudo culpa dela! Sobrecarregamos a coitada de todas as nossas dores e a odíamos por isso.. Mas, um dia, ainda ou novamente sozinhos, nos damos conta de que nada faria o menor sentido sem a saudade..
Quem não sente saudade é porque não tem nada de bom pra relembrar, nada que tenha se permitido viver, nada para dizer que valeu ter vivido..
Quem não sente saudade é porque nunca sentiu verdadeiramente nada, nunca se doou a nada, nunca conheceu ninguém que ensinasse que só vale a pena ter e viver quando compartilhado..
Quem não sente saudade é fraco, é covarde, é "virgem de coração"..
Pois mais vale a dor da saudade do que o vazio de não ter vivido.

resquício

eu me impenho em esquecer
o teu jeito de falar,
a segurança que senti no teu abraço..

eu tento deixar de gostar
do carinho do teu toque,
do cheiro seu, que de mim não sai..

armo minhas defesas,
ensaio as saídas de emergência,
fujo, finjo, findo.

eu te pressinto voltar,
assisto minhas armas caírem
e o meu sorriso, fácil, a te acompanhar..

eu me esforço pra me interessar
em outro cara qualquer,
um alguém mais concreto,

um alguém que eu não quero..

fujo
da tua facilidade em me ganhar
finjo
que falta tua só é resquício, o que sinto? passa já..
findo
voltando sempre ao mesmo lugar..