Coleção pessoal de regina_maria_braga

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⁠A vida não é linear, e o outro não te oferece sempre o mesmo rosto, o outro te oferece um rasto hoje, e um novo rosto amanhã, e por aí vai. Nesse caso, se você quer manter o seu casamento, há os acertos que precisam sempre ser feitos... Então, você puxa um pouco para cá, puxa um pouco para lá, eu te ofereço isso, você me oferece aquilo, segue para aquele lado, segue para aquele outro. Dito assim parece uma negociação fria, mas não é

⁠A verdade é que as relações humanas, na maioria dos casos, passaram a ser descartáveis. Em geral, as pessoas não trabalham as relações entre si, e não trabalham internamente. Hoje, as pessoas se separam, muitas vezes, porque cada um está mais interessado em si mesmo, não dá para cada um investir no outro. E numa relação amorosa e afetiva, nós temos que prestar atenção no outro e sair do nosso centro de gravidade

⁠Minhas narrativas são desestabilizantes? Ora, a vida é desestabilizante, não vê e não reflete quem não quer. Os momentos históricos brasileiros têm sido continuamente desestabilizantes. O que é o período em que estamos vivendo agora? Eu apenas copio e transfiguro a vida real. Nada mais. É tão simples. Diga, é estável um país que tem um ministério com oito titulares envolvidos em processos de roubo, suborno e propina?

Escrevo para não enlouquecer. Para me divertir também, e para ter prazer. Tenho um prazer imenso em escrever. Escrevo para me salvar. Mas me salvar do quê? Será que alguém sabe por que escreve, por que faz música? Porque alguma coisa empurra a gente.

⁠Para a sobrevivência do livro, é fundamental que a tecnologia seja aliada, mas ainda assim no futuro, a alma humana não mudará, e o livro continuará sendo o maior companheiro do homem, pois o livro é um convite à reflexão.

⁠A criança não pode ir para o computador sem passar pelos livros. Elas devem aproveitar as dádivas que a leitura pode proporcionar.

Olho a casa inteligente estampada na página do jornal, destacados em vermelho os pontos da automação. E não a quero. Abrir as cortinas do meu quarto ao levantar é um gesto que inaugura a manhã. O mesmo que a minha mãe fazia quando eu era criança. Afasto as cortinas para receber a luz, olho as montanhas, estudo o céu e suas nuvens, rego meus gerânios na beira da janela. E o dia começa.

⁠Os gestos, os gestos todos que a automação está dispensando, têm mais funções além daquela imediata. Fazer uma cama não é só esticar lençóis e cobertas. (...) E não se trata apenas de exercício muscular. O cérebro também é convocado para lembrar a sequência certa dos gestos, a sua finalidade. (...) Os gestos são lembranças de gestos anteriores, nossos e alheios, são parte do repertório gestual que amealhamos ao longo da vida.

Os seres humanos precisam narrar. Não para se distrair, não como uma forma lúdica de relacionamento, mas para alimentar e estruturar o espírito, assim como a comida alimenta e estrutura o corpo.

O que mais me doeu (...), além da dor da ausência das pessoas queridas, é perder os interlocutores das minhas lembranças mais remotas.⁠ (...) Recordações partilhadas são uma necessidade. (...) Nosso passado não passa, é um pretérito que mantemos vivo a poder de lembranças.

Mas a leitura da vida não se faz só com os próprios olhos, entram na receita a sensibilidade e os conhecimentos que se têm.

Não existem vidas insignificantes. Cada vida é um universo estrelar em que outras vidas orbitam com seus temores e seus amores. E para cada vida, todo dia, do passado ou do futuro, vale muitos anos luz.

Cozinhar não é apenas uma sequência de gestos, é um seguir-se de escolhas, uma doação, uma cerimônia em que se transformam e se combinam elementos, para criar um produto que abençoará a mesa.

Entre cada gesto consignado às redes sociais ou flagrado pelas câmaras onipresentes, restam ainda largos espaços livres, e frinchas, frestas, portais por onde se pode escapar. A discrição é possível, o silêncio não perdeu sua função e nos acolhe.