Coleção pessoal de Raimundo1973
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Estava tudo selado — na ausência dos meus sonhos extraviados, naquela noite de insônia e tormentos — para que eu enfim te esquecesse. Era como se um feitiço antigo, uma magia sombria, uma bruxaria silenciosa invocasse o esquecimento. Despertei sem noção do tempo, sem vestígios de você — da mulher que um dia acendeu minha alegria. Acordei oco. Acordei sem você...
Diziam os antigos: o segredo da vida é viver um dia por vez, sem se perder nas sombras do ontem nem correr à frente do amanhã...
Foi você quem destilou veneno na minha existência,
quem sacudiu meu juízo — já frágil desde o berço.
Mulher ardente, escandalosa, insolente e devastadora,
rainha sensual que governa meu ser.
Teu feitiço rasgou o véu da minha timidez
e revelou o doce refúgio do teu acalanto.
Bruxa encantadora,
tua extravagância me arrasta
ao êxtase de uma felicidade absoluta...
Alcança quem poucos conseguem chegar quem tem a coragem de seguir por caminhos que quase ninguém ousa trilhar.
Quando amamos, não é uma escolha nem uma decisão da vontade.
É o amor — puro e intenso — que nos domina,
Mais forte que qualquer desejo, o amor transcende toda escolha.
Depois de tudo que te disse, depois de abrir meu coração,
você chegou fria — pediu que eu não te amasse.
E nessa recusa silenciosa, meu mundo inteiro desabou,
meus sonhos se dissolveram no vazio.
Mas meu amor, mesmo ferido, não se rende:
ele transcende barreiras e vai até você —
mesmo diante do seu olhar que diz, não.
Comentam que a saudade não tem idade —
mas, afinal, de qual idade falam?
Da infância que ficou perdida no ontem-menino,
ou do hoje, que se esconde em silencioso desapego
no velho sonhador?
Dizem ainda que recordar é viver...
Mas viver o quê,
se as memórias do passado já não exalam
a alegria que um dia tiveram,
e o presente apenas as contempla em silêncio —
sem resposta de felicidade,
que nasceu e morreu noutra época.
Roubaram minha infância com mentiras, enganos, ilusões,
escravizaram meu mundo, deixando-o em desilusões.
Hoje, nada restou, só a continuidade do mesmo ciclo,
um sistema podre, repetitivo, envolto em um véu de brilho artificial.
O mundo não mudou, o sistema insiste em sua prisão real camuflado em beleza morta,
e o povo, manchado, mergulha no pântano da decomposição.
Está na hora de definir o nosso futuro — se é que ainda temos um.
Vejo-o amordaçado, acorrentado, impossibilitado;
caído, lastimável, lamentando, clamando, implorando...
Mas ninguém o ouve, ninguém responde.
O passado jaz esquecido, morto;
o presente, triste, carrega o peso da indiferença.
Quem aborrece está caído,
quem agrada perdeu o respeito —
é fantoche da própria imoralidade.
E aquele que ainda sente,
que conserva razão e paixão,
afunda no lago dos arrependimentos,
em lágrimas sofridas, silenciosas,
clamando por um grito de misericórdia.
Os dias se sucedem, idênticos e sem variação — repetitivos, desprovidos de novidade e transformação.
Não há espaço para sacrifícios; apenas a monotonia que engana quem vive alheio à passagem do tempo.
A vitória não confronta a batalha; no final, cada um segue caminhos distintos, transformados, para se encontrarem outro dia no mesmo combate.
Após o confronto, os tempos mudam — passam a ser repletos de atrativos que exigem cautela, equilíbrio e paciência, pois, no fim, tudo é aceito como está.
Tantas palavras gastas só para revelar que me perdi em devaneios...
Onde se esconderam os planos que um dia desenhei?
Voaram nas asas do vento,
restando vivos apenas na memória,
os dias felizes que um dia sonhei viver.
Quem para para descansar à sombra de uma árvore e olha para o céu, contempla a maior de todas as telas — onde as pinturas mudam de forma com o sopro do vento. As paisagens de Deus estão no alto, onde não há nenhuma colunas de sustentação.
Tolice minha insistir em seguir adiante —
a vida sempre me traz de volta,
pela mesma estrada sombria, sem retorno.
O que eu aprendi na vivência na vida vivida, é menor que tudo que eu ignorei com o passar dos anos vividos.
Muitas vezes, a vida nos ensina mais do que conseguimos compreender em cada momento, mas o que deixamos de lado ou ignoramos, ao longo dos anos, também tem seu peso. Parece que você está destacando a ideia de que, apesar do aprendizado acumulado, o que deixamos de aprender ou perceber, muitas vezes, se torna maior do que as lições que realmente absorvemos. Isso ressoa com a sensação de que a vida é uma constante jornada de descobertas e esquecimentos.
