Coleção pessoal de RafaelSorano

Encontrados 17 pensamentos na coleção de RafaelSorano

É chegado o momento do fim da transição. Há 30 anos esperamos por uma ruptura que nos eleve a outro patamar, ao próximo estágio. Há 30 anos essa ruptura é prorrogada pela pasteurização do debate político vendida com o nome de governabilidade. Uma mentira que criou e alimentou a ditadura das maiorias parlamentares, sem as quais nenhum governo poderia de fato governar na frágil democracia púbere. Uma mentira que tornou a peemedebização da política numa verdade inarredável e disseminou a prática delituosa da cultura fisiológica trambiqueira em ofício comum no exercício do poder no país. No lugar da cidadania plena, a lógica hegemônica estabelecida pelo capital e seus interesses tornou-se a medida exata a ser obedecida pelos partidos do pós-ditadura e implementada pelos governantes da Nova República. É essa práxis política, que se fortalece governo após governo, a mãe das relações incestuosas entre o Estado e o setor privado. Que caia finalmente a Nova República e que se instale a Verum Res Publica.

No senado brasileiro, inversamente aos valores, premissas e significados do sufrágio universal, não existe impedimento, nem legal nem moral, para que um cidadão que não recebeu nenhum único voto exerça um mandato parlamentar.

Se gente como nós não começar a mudar as coisas no Brasil, nada jamais irá mudar.

O que nos interessa é construir uma consciência democrática, uma referência democrática. Mostrar nessa democracia um projeto político distinto, de valores distintos.

Pelo censo brasileiro de 1872, os escravos eram cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas. Hoje, não existem dados oficiais de quantos “escravos modernos” há no Brasil, mas aproximadamente 4 mil pessoas são resgatadas todos os anos do trabalho escravo no país.

O financiamento público deve ser reservado ao desenvolvimento de uma economia social, solidária e ambiental e privilegiar as micro e pequenas empresas.

As necessidades dos menos favorecidos devem ser atendidas em caráter prioritário, sobrepujando qualquer outra necessidade social, econômica ou política.

O uso da terra e a produção agrícola devem priorizar a alimentação humana e cumprir sua função social, com a proibição da monocultura de commodities.

Nessas horas em que a política tradicional e seus fiéis representantes estão em xeque-mate, é sempre bom relembrar o passado e colocar definitivamente no lixo da história o que não se deve nem cogitar como alternativa.

Construamos uma grande nação, façamos uma grande nação. Temos duas maneiras de atuar: ou tratamos de buscar os culpados para apenas dizer-lhes insultos nas ruas, ou aceitamos a quota de responsabilidade que cabe a cada um de nós como membros dessa sociedade e disputamos o poder contra eles.

reconhecimento ao favor do amor


Obrigado por existir
Por aceitar sua existência
Por me emprestar sua presença
Por me amar

Sou-lhe grato por tudo em mim
Pelo que me permite sentir
Pela delicadeza do que sente
Por consentir te amar

Agradeço-lhe a entrega
Ter vencido as dores
A coragem de suportá-las
Por coabitarmos a superação

Sou-lhe agradecido pela gentileza da fatalidade
Sou-lhe grato pela promessa do que há de vir
Obrigado por existirmos juntos
Por irmos além

Sem Você

As noites são longas e as madrugadas são frias
O corpo dói
A alma cansa
O sentido se esvai na inexistência do motivo
A vontade acua
O gesto recolhe
O reencontro refugia a esperança
A incerteza do instante
De Beijos loucos de paixão
Aflige
As tardes são lentas e os dias são quietos

Esconjuntado


Vontade de avessar o feito

desestruturar o acaso

emendar o impedido



Verdadeira dor de todos os erros

inexato sentido do sentimento

do amor derrotado no acuo



Vazia via outrora plena

de largas promessas não declamadas

em transe experimentadas



Saudade de uma lacônica presença

da veemente vida vivida com ardor

ora morta pela cólera



Desvalimento do perdão

inerente martírio do não realizado

desperdiçado na implacável ausência



Aceito indulgente a despedida

conformado com o que me pertence

a dor doída do desunido

Liturgia Diária


Não me importa que conheça outras pessoas

Quero que conheça todas as que queira

Me importa que nessa liberdade

Todo dia siga elegendo a mim



No traslado à vida de casal

Defendo a eleição diária

Creio que habite nisso, na verdade

O espírito da relação



Não creio em frases como “para toda a vida”

Creio no trabalho que implica ser casal

Que é diário



E que um nunca saiba se no outro dia será igual



E nesse mistério

Na confirmação diária

Está para mim o segredo do amor

Duradouro

Sólido



Embora pareça exatamente o contrário



Não suporto obrigações

Nem que ninguém as tenha comigo

Quero é que adore estar comigo

Não que seja um acordo

Tocá-la com meu olhar
Vê-la com meus dedos
Ouvi-la com minha boca
Cheirá-la com meus ouvidos
Contorná-la nos inversos sentidos
Em sentido contrário
Rematerializando o subjetivo oculto
De mulher subjeto

Amaldiçoada Incerteza

Quem sabe um dia os corpos celestes se descuidam e nos experimentamos.
Hoje, rios caudalosos, montanhas, dúvidas, quilômetros de estradas sinuosas nos arredam.

Como essa conexão censurada pode conformar-se? Confirmar-se? Exaurir-se?
Não sei... sabe?
Teme?

O que ficaria para trás?
E o que nos poderia vir?
Serão esses os estímulos... ou as hesitações? As hipóteses?

É aflitivo como a profusão de vida pode ser pior que a escassez.
A incerteza como ventura é a certeza da propensão.

A vida é uma só?
Quantas podemos viver em uma?
Qual valerá? Todas?

Dúvidas! Duvidas?

Houve quem pensasse que nunca chegaria ao fim de tão grande. Eles mesmos pensaram. De certos que estiveram, nunca mais se olharam de verdade. Aquele olhar que enxerga dentro, no fundo d´alma. O tempo passara e já não eram eles. Desfigurados, indeterminados, não sabiam quem eram. Na história que viveram, cada um se tornara coisa sem importância de ser, de ver. Esqueceram até quem foram para ser do outro. Como que fundidos num, um não foi sem que o outro fosse. E foram, então, juntos, além. Os sonhos eram únicos, assim como mesmos eram em si. Não conseguiram saber onde um queria e o outro não. Indignaram-se, querendo, que uma porção pudesse não querer. Deixaram de querer para quererem. Quiseram tanto mais do que quereriam. Ou menos, outras vezes. Assim, sem se reconhecerem insatisfeitos, indivisíveis, viveram sós. Decompondo-se, viveram combinados, fatalmente compostos. O tempo passara e já não eram eles. Não eram eles. Contornara-se um outro no lugar. Renderam-se ao outro como se dispuseram à disposição um do outro. Chegara o tempo quando o outro, esse sim, se tornara a quantidade exata deles. Naquele tempo, ainda pensaram que não chegaria ao fim de tão grande. De tão grande, não se contiveram em nenhum. E insistiram mais. Estruturara-se na fragilidade deles um outro que não era ninguém, que anulara os dois. Não se viram e não se sentiram até que não se tiveram por completo. Não se tinham há muito. Nem sabiam mais o que era ter. Nem pensaram nisso. Só reconheceram e tiveram e eram um outro. O outro que se tornaram sem eles.