Coleção pessoal de Prjardelcavalcante

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Quando me senti tão fraco a ponto de pedir perdão é tão forte a ponto de perdoar , entendi que em mim havia conversão. Hoje entendo que pedi perdão me faz forte e perdoar não é nada mais que oferecer aos outros o que mais preciso deles

SEJA FELIZ

Tô aqui , descascando amendoim e no voar das peles vermelhas que desnudam os meus amendoins vou com meus pensamentos imaginando que não temos a obrigação de sermos os melhores em tudo e nem pra ninguém que tenha um só modelo de melhor , de ideal ou de correto . Ser o melhor em tudo ou pra alguém seria como ser perfeito e a perfeição é como dá nó em pingo d'água, aliás, tô achando que " derna " que Adão era boneco de barro até o filho de de Irineu , que nasceu ontem , e é a última pessoa que eu já ouvi falar que nasceu , que todo mundo se mete a "picialista" em criação de regra e conceitos
inatingíveis, e besta é quem compra essa idéia e depois padece com a prenda que "adiquere".
Me escute , eu sou um disleriado que já atravessou muito tempo nublado, chuvoso e de trovões desses que botava rezador de joelho no chão ; Mas eu "desanuviei" de todo tempo ruim e num é que encontrei a felicidade em mim mesmo !!! , Tava guardada , presa e amarrada nas etiquetas dos que defendem o socialmente , parte dela já tava mofando na cadeia das proibições descabidas com suas correntes de pudores e suas maquiagens de exemplos que deixava uma palidez quase cadavérica no rosto da minha felicidade .
Hoje eu consigo rir de boca toda , de gaitada e dor de pé de barriga , porque descobri que a minha felicidade não tá nos outros , nem nos que eles tem e muito menos no que podem me dar. A felicidade tá no amanhecer do dia , quando eu decido me fazer feliz , sem colocar na receita dessa felicidade nada que precise de mais ninguém .

Ei, PERAINDA...depois eu espalho conversa , agora vou descascar mais uns amendoins.

PR JARDEL CAVALCANTE.

Todo fui foi sou !

De repente o que sou se torna fui
E o tempo do verbo é trocado
A maneira que agora é conjugado
Nem sequer me entristece ou diminui

Eu me alegro em saber que um dia fui
De alguém o amor que dei de graça
Fui ferido , fui corte e já fui faca
Eu fui breu , lamparina , gás e luz

Só uma coisa eu não queria ter sido
Por quem amo um dia esquecido
Pois quem amo nunca deixo de amar

Eu SOU eternamente apaixonado
E esse " SOU " nunca será mudado
Eu ensino a conjugar

PR Jardel Cavalcante

Querer Bem.

Todo querer bem deixa a mente aérea,
É uma balieira que no peito atira
Pedra acertadeira que não erra a mira
Atravessadeira de alma e matéria

Amedronta mais que a besta Quimera
Com a híbridez de sorrisos e iras
Mas é vulnerável a desprezo e mentira
Que é veneno ópio que obstrui artéria.

Se quem quero bem meus passos não segue,
Mesmo assim carrego pois seu fardo é leve
Sigo caminhando minha cigania.

Talvez MEU querer seja um dia NOSSO,'
Carregar eu quero , esperar eu posso
Pois te querer bem meu cansaço anestesia


PR Jardel Cavalcante

São memórias que habitam o peito meu
No cenário poético do Sertão.

Vira lata no quintal sem coleira
Vigiando um burrego desnutrido
Um boi velho cantando seus mugidos
Carcarás nos farpados da porteira
Uma lebre fugindo nas carreiras
Um tum tum de batidas no pilão
Se mistura ao estampido de um trovão
Passar vela nas mãos de quem morreu
São memórias que habitam o peito meu
No cenário poético do Sertão.

Pés cansados calçando uma alparcata
Em fragelos os punhos de uma rede
Lagartixas desfilam nas paredes
No coreto matuta enfeitada.
Com perfume Almíscar perfumada
Um casal namorando no portão
Um vaqueiro , uma espora e um gibão
Procurando uma rês que se perdeu
São memórias que habitam o peito meu
No cenário poético do Sertão.

Um bruguelo chorando desgosto
E um velho tocando realejo
Faz comércio de doce quebra queixo
sacudir o pirrai que tomou o choro
Procissão de boiada dando estouro
Benzedeira vendendo oração
Lapeadas de folha de peão
Ver visagem de alguém que já morreu
São memórias que habitam o peito meu
No cenário poético do Sertão.

Pr Jardel Cavalcante

FÉ NA GARUPA

Meto espora no cavalo e vou em frente !
Levo fé e coragem na garupa
Como bom sertanejo vou a luta
Sem ter medo de frio ou do sol quente

Enfrentando largatos e serpentes
No sertão que dentro de mim se esconde,
Me ensinando que uma coisa só é grande
Quando grande se faz dentro da gente !

E assim vou trilhando cada estrada ,
Dando graças a Deus pela jornada
Mesmo as vezes caindo do cavalo .

Mas desfruto de trilhas serenadas
De galopes em noite enluaradas
Lá vou eu com minha fé agarupada !!!

PR JARDEL CAVALCANTE

O tempo é um pintor disleriado
Esculpidor de munganga
Deixou meu rosto enrugado
E a barba toda branca

Tempo, jumento empacado
Não enconomiza açoite
Dia e noite dando coice
Sem permitir ser montado

Nas cangalhas que tú traz
Pregadas nas tuas costas
Levaste minhas memórias
Do meu tempo de rapaz .

Vai jumento , vai…

PR JARDEL CAVALCANTE.

Uma cama ele fez de papelão
De um jornal ele fez o cobertor
Travesseiro a sandália se tornou
Na calçada frienta de um galpão
As estrelas sua televisão
E a fome era sua companhia
Esperando o amanhecer do dia
Sem ajuda de ateus ou de um cristão
Um cachorro lhe alegra o coração
Lhe servindo de amigo e de vigia.

PR JARDEL CAVALCANTE

O tempo a velhice nos condena
Com sentença de ruga e cicatriz
Sem ter advogado que defenda
Nem aceita habeas corpos de juiz
O cansaço ao corpo fragiliza
Pra doença a saúde perde a briga
No lugar da alegria vem saudade
O sorriso no rosto se desbota
E se escuta o batido de uma porta
Da partida cruel da mocidade

As lembranças são 5 mil ogivas
Vez por outra no peito uma explode
Sua força dos olhos quebra as vigas
Nas trincheiras do rosto a lágrima corre
Sem trégua nem atender apelo
A frieza do tempo traz um gelo
Pouco a pouco o vigor fica dormente
E do ego a visão se torna cega
A tristeza tão pesada nos enverga
Impiedosa , implacável e inclemente

A saudade executa uma chacina
Dos projetos e desejos tão queridos
Pistoleira , cangaceira e assassina
Torturante de sonho adormecido
E depois da chacina vai-se às pressas
E a velhice cumprindo suas promessas
Envenena a esperança do futuro
No acerto de contas da idade
Toda dívida que vem da mocidade
O presente agiota cobra juros

PR JARDEL CAVALCANTE

Em um canto do engenho
Da cana vi os bagaços
Por moendas , lenha e tachos
Espremida em pouco tempo
De cana se fez melaço
De cor , sabor e textura
A tornando rapadura
O doce que mais desejo

Pois quero ser o teu engenho
E na força de meus dois braços
Ser moenda , lenha e tacho
Ser só seu por todo tempo
E provar desse melaço
De tua cor e textura
Em gosto de rapadura
Que vou provar no teu beijo

Tu és menina alfinim
És puxa-puxa aderente
És melaço em tacho quente
Tu és calda de pudim
Tu és a própria doçura
Tu és caninha Caiana
Made in Itabaiana
Mascavo de rapadura

És bolinho entala gato
Discípula de nego bom
Mel de engenho é teu batom
És cascão do fim do tacho
És bananinha amassada
Doce de leite de caroço
Tú és o meu alvoroço
Copim de água gelada

És um doce Carolina
És caramelo Embaré
Chouriço de Catolé
Um Dindelar de menina
Um quebra queixo de côco
És um cavaco chinês
És tudo de uma só vez
Me deixando quase louco .

PR JARDEL CAVALCANTE.

Se tu vê anjo na igreja
Bola de fogo e espada
E gente necessitada
Tu não consegue enxergar
Teu espírito tá mancando
E você tá se enganando
Mas eu quero te avisar
Ser Cristão é padecer
A dor que outro sente
Como se fosse na gente
Sem nunca se esconder
Nem negar a mão amiga
Pra quem de mão estendida
Pede ajuda pra viver

Não adianta língua estranha
Se você não estranhar
A criança mendigar
Sem ter um pão pra comer
Sem ter água pra beber
Sem um teto pra morar
E tu sem nada fazer
A não ser uma oração
Fale menos , dê um pão
Um cobertor pra repouso
Não seja religioso
É bem melhor ser Cristão

PR JARDEL CAVALCANTE

Tô maginando um domingo
E meu martelo quebradeiro
Pra quebrar meu miaêiro
De meus sonhos de menino
Pra de posse das moedas
Meu sonho realizar
Numa budega comprar
As coisas que vi faltando
E feliz sair comprando
Que é pra nunca mais faltar

Vou comprar um moi de chuva
Pra no sertão derramar
Que é pra nunca mais faltar
A fartura no roçado
Vou comprar ração pra o gado
Pra nunca morrer de fome
E pra cara de alguns homens
Eu quero comprar vergonha
E sem muita cerimônia
E sem economizar
Também óleo de peroba
Pra outras caras lustrar

Compra sandália havaiana
Pra o descalço calçar
Mas que sirva pra usar
Na correção do menino
Também vou comprar tecido
Pra o quase nu vestir
E que sirva pra cobrir
A honra de uma menina
Pra não parar numa esquina
Ou no açougue humano
E que os botões desse plano
Só o amor possa abrir

E por fim , por derradeiro
Comprar o direito a vida
Da criança na barriga
Que só pede pra nascer
Ter a chance de crescer
E sem defesa ser morto
Na mazela que é o aborto
Que matou no mundo inteiro
Tantos outros como eu
Tantos outros miaêiros

PR JARDEL CAVALCANTE

Muitas vezes foi munguzá queimado
O sabor que provei na minha vida,
passei coisas que até mesmo Deus duvida,
Dei abraço , recebi punhal fincado

Fui alpiste pra cocheira do esfomeado,
Tive as cascas pelo vento esbaforida,
De caninos minha alma foi mordida
Por arames traidores fui farpado

Pelas solas de botinas fui pisado ,
De veneno tive a canela invadida
Teu Maracá se fizeste emudecida
De teu bote eu não fui nem avisado

Já graveto em coivara fui queimado
Minhas cinzas pelo vento sacudida
E mas telhas de uma igreja fiz guarita
E no Cristo minha alma foi curada

PR JARDEL CAVALCANTE

... E já depois de tanto tempo você descobrirá que não adianta viver nem morrer pra ser o melhor pra alguém. Então seja o melhor que você possa ser pra você mesmo, ainda que isso seja ser o melhor pra outros, mas não espere nada em troca pois isso será uma queda livre que vai te destruir internamente.

Há uma sutil diferença entre desejar e querer, a primeira se impossibilita diante dos obstáculos, já a outra passa por cima de tudo.

Os outros pensem o que quiserem de você, te desenhem e te pintem como melhor desejarem , te construam com peso e medidas que queiram, será assim , mas seja e nunca deixe de ser quem você decidiu ser, porque os outros podem te roubar a aparência mas ninguém pode te tirar a essência.

Observe como as pessoas se sentem e reagem perto e longe de você e depois permita a elas a aproximação ou a distância, afinal de contas alguns de nós nasceu gaiola e outros passarinhos.

E lembre, se as pessoas se sentem melhor sem você seja o melhor pra elas mesmo assim. Permita a distância, permita a felicidade sem você , até porque nós não nascemos nem morremos muleta de ninguém. Provavelmente, aliás , certamente o que pra um é lixo pra outros é luxo.

Se você sabe o que sente, o que faz, o que é, então isso é tudo.

Inspirado nas jóias de Jessier
Eu fiz :

Zelminha pano de chão.

Eu sempre fui aloprado
Invocado e cabuloso
Ignorante e destimido
Da bomba fui estampido
Veneno da Cascavel
Só tinha medo do céu
Fui dor de dente e de ouvido

Fui fio desencapado
Fui arqueiro no menino
Batata quente , pepino
Fui mira de lampião
Não tinha medo de nada
Talvez fosse o próprio nada
Nunca tive namorada
Amor , carinho ou paixão.

Nunca conheci ciúme
Eu era só azedume
Laxante , rince e limão .
Mas numa noite frienta,
Um cheiro me veio as venta
Botei as armas no chão
Era o cheiro de Zelminha
Morena cintura fina
Um pilãozim de menina
Filha de Cormo e Zefinha
Que lá na beira da linha
Perto da estação do trem
Morava em casa singela
E a riqueza dentro dela
Jazida nenhuma tem

Penugem de espiga nova
Os cabelo da danada
Era laço, era cordão
Era chave de cadeia , prendia qualquer Cristão
Boca carnuda e uma pele tão lisinha
De bochecha rosadinha
Picialista em tentação

E ela pra me lascar , a casa tava varrendo
E aquele balé eu vendo
Em instante analisado
Pensei eu tô arrumando
Se essa doida me quiser
Vou ter um show de mulher
Bonita e trabalhadeira
E nos meus sonhos de pluma
De noite eu arrumo ela
De dia ela a casa arruma

Casamos de ligeireza
E eu tava no próprio céu
Zelminha lua de mel
Zelminha pano de chão
Zelminha casa arrumada
Zelminha não gasta nada
Zelminha roupa passada
Zelminha café com pão
E eu pra me amostrá
Mudei Zelma Itabaiana
E de mudança cigana
Vim morar na capitá

Pronto , A minha nêga mudou
Zelminha internetizou
Virou Zelma facebook
Zelma Insta , Zelma look
Zelma shopping, Zelma Sky
Zelma almoça no Mangai
Nem cuscuz ela num faz
Comprou uma tal Brastemp
Nem passa a roupa da gente
Não usa pano de chão
Vive socada em salão
Tem sobrancelha da nike
Gelo ela agora chama aice
Toda metida a inglês
Num sabe nem português

E agora a vontade minha
Voltar pra beira da linha
Numa casa em Itabaiana
Pra tomar caldo de Cana
Pra vê se Zelma se sara
E deixe esse tal de zap
Porque lhe digo cumpade
Se isso é evolução
Eu troco e não quero volta
Essa Zelma megabaite
Na Zelma pano de chão

PR JARDEL CAVALCANTE

Plantei um sítio
No sertão de Catolé
Acredite se quiser
Mas eu posso inté jurar
No meu roçado não tem cova de semente
Vou contar daqui pra frente
O que plantei no lugar

Plantei as pernas de uma cobra corredeira
Um 30 de fevereiro
Os ossos de um aruá
Penugem nova da orelha de uma freira
A buchada de um siri
E o coice de um preá

Plantei tutano do mocotó da traíra
Metade de uma mentira
O cheiro bom de um gambá
Honestidade de um político das antigas
O não de uma lagartixa
E neve do Ceará

Plantei esmalte dos dentes de um banguela
Duas pilhas de uma vela
E a dobra de uma esquina
Plantei os lábios da boquinha de uma noite
230 volts da luz de uma lamparina

Plantei chulé vindo do pé da barriga
Os motivos de uma briga
De Tamy Gretchen a fimose
Plantei o fêmur tirado da borboleta
Marcha ré de uma lambreta
E motor bom de um scort

Jardel Cavalcante

Calvário de saudades

E eu sangue Catolé
Quero jogar o meu Balde
No cacimbão da saudade
Em fumaças do café
Minha lata remendada
E o cacimbão tão distante
Lembrança arame farpante
Outras vezes cafuné

Memória que aprisiona
Desejo estaca fincada
Semente em peito plantada
Alçapão de passarinho
Imbira , tramela e espinho
Noites frientas as claras
Corte taio de navalha
Palhas, gravetos e ninho.

Saudade tum tum pilão
Desejo casco de boi
Memórias doce de leite
De sonhos baião de dois
Fiz guerra no peito meu
Pra findar esse desgosto
Um dos três vai sair morto
A saudade, o desejo ou eu.

De chicote lapiante
Imbiras de amarra cruz
Lembrança coroa espiante
Vinagre e lança cortante
Calvariante sem luz
Sem túmulo e ressurreição
Lembrar de alguém que se quer
E não se ter como quer
Calvário deste cristão.

Plagiando o mestre Vinícius de Moraes no seu Soneto de Fidelidade eu criei o meu :

Soneto de Fiadolidade

De todo freguês serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em carderneta o fiado anotando
Que não me escapula do pensamento.

Quero lembra-lo o dia do pagamento
E se não pagar espalho nos quatro cantos
Vou cobrar com juros , tirar os descontos
Pra freguês veiaco não dou cabimento

E assim, quando mais tarde me procure
Com a boca pensa dizer Deus me livre
E me der razão , pegar minha grana

Eu possa esquecer a raiva que tive :
Meu desconfiar não seja imortal, feito muganga
Mas que seja infinito enquanto dure.

PR JARDEL CAVALCANTE

Quatro estações .

E eu que te vi pé de manga
sem nunca te apedrejar
eu desejei tua sombra
Pra nela me sombrear
Mas eras mangueira orgulhosa
Tua sombra me negava
Tu metida a manga espada
E eu te quis manga rosa

Te aprimaverastes de flores
Pra eu não te manguezá
E eu me veraniei
Pra meu calor te esquentar
Depois me outonizei
Tuas fores desnudei
E serei chuva de beijos
Te molharei de desejos
E serei teu invernar.

Jardel Cavalcante.

Se eu pudesse ter de volta às coisas que já perdi
As falas nunca faladas
Cheganças nunca chegadas
A vida que não vivi

Esqueceria os entojos
As caretas, as mugangas
As ciumeiras, minhas zangas
Fogo que o fogo apagou
Paz que a raiva enraivou
Jogava tudo no bojo
Dava descarga de nojo
E vivia o que não vivi

Teria um olho pidão
Gastando córnea a pedir
Um olfato cheirador
Um beiço mais beiçador
Uns dedos mais dedilhantes
E um retrato na instante
Emoldurado em um coração
Da vida que não vivi