Coleção pessoal de priscila_blume

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Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?
O mar da história
é agitado.
As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

Nos outros eu sei onde fica o coração. É no peito. Comigo a anatomia ficou louca. Eu sou todo coração!

Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.

O coração tem domicílio no peito.
Comigo a anatomia ficou louca.
Sou todo coração.

Nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração.

Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.

⁠“Copiosas vezes
mais ganhamos
quando vencidos.”

⁠“Sem valsa
quero-te tango
antes do samba.”

⁠“Tuas carnes tácitas
instigam sabores
como se tanja um jambo
na carambola sapoti.”

⁠“Na física da paixão
a razão é absorvida
pelo empuxo
de uma breve história
do tempo.”

⁠“Liquidou-se o romance
como uma ideia vendida
num desconto de fadas.”

⁠“Sabem tudo o que revelei
não tudo o que sou.”

⁠“Nas conjecturas políticas
tudo pode escorrer
inclusive nada.”

⁠“A política dos amigos por último
privilegia quem jamais
estará no fim.”

⁠“O poder abomina o vácuo
assim como o ótimo
é inimigo do bom
na arte do possível.”

⁠“Como Madame Bovary
sem marido nem amantes,
morreu com olhos abertos
quando do fim da ficção.”

⁠“Cem conversas
há de ser sua cura.”

⁠“A promessa do Engodo
é tudo mudar
para tudo ficar
como está.”

⁠“São perenes
as palavras dóceis
no jogo bruto
pelo efêmero.”

⁠“Nas entranhas do olhar
estamos a poucos poemas
de distância.”