Coleção pessoal de PedroPotter

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⁠A solidão faz presença a meu lado
De olhos cansados, animada a vejo cantar
É insensível, de tanto que me faz sentir
Desesperado, iludido. Mas não abandonado

Não, solitário. Solidão inquieta espreita
Calma, volátil, às vezes dançarina
Traz consigo o desejo, e a aspirina
Semeia o desinteresse, e vai embora.

Vai porque é covarde, tal como eu
Vem porque tem saudade, até do que não é seu
A solidão ambiciosa me quer, mas não pode ficar
Porque quando me tiver, mais nada terá

Sou solitário, não esquecido
Do sentir arbitrário, de sofrer desmedido
Sou hoje fruto de quem não quis me livrar
Sou hoje a semente, tão descontente, a solidão semear

⁠As noites são mais tristes
Os dias são mais cansados
Se esconde sombra aos prados
Da mesma luz que vistes

Há noites não tão tristes
Dos dias mais agitados
De versos inacabados
Do mesmo amor que vistes

Nasceu como nasce poder
Invólucro do que precisa pensar
E não do que precisa ser

Fadado era então a fracassar
Desnudado de quem se recusa a crer
Que poderia o amor falhar

⁠Existira na esquina três senhores
Dos quais só ouviu falar
Riam apesar das dores
Choravam em mesa de bar

Na fazenda ao lado corriam
Vacas, cabras e crianças
Já no seu campo vazio
Sobrava trigo e faltava esperança

Por andar e não correr
Por chorar sem sorrir
Por ouvir sem ver
Por existir sem viver

A boca, então, parava de dizer
O que o coração queria gritar
O olho continuara a ver
O que disseram para não desejar

"Liberdade é um fardo"
"Liberdade é doentia"
Mas no fundo ele sabia
Valia a pena buscá-la

Noite
E dia.

⁠Flor do campo,
De leveza desleal
Ainda lembro bem do cheiro
Como alecrim, doce, descomunal

Flor do campo,
Em tuas pontas rosadas têm beleza
Ternura infinita ao olhar
Há maresia em meus olhos, só por te admirar

Flor do campo,
Que me dizes de seres só tu em meu jardim?
Como teu protetor, te venero e cultuo
E como A Flor do Campo, te darei amor sem fim

⁠Por hoje, eu existo
Eu ainda falo, eu ainda sinto
Sorrio para a noite tempestuosa
Grito um sussurro de estridente quietude

Por hoje, eu vivo
E já vejo o amanhã
Virá numa manhã, igual ontem
Isso se os olhos fecharem

Por hoje, eu canto
Oxalá fosse canção de amor
A voz só há para exalar o terror
Terror discreto, terror esperto

Mas sei que amanhã haverá esperança
Haverá voz para cantar
Haverá vida para viver
Haverá existência para existir

Então, por hoje, eu existo

⁠Inquietude,
De poder destrutivo é palavra
Em maldição maligna revive rancor
Agita o vento na estrada
Enverga a alma ao pavor

Inquietude é irrequieta
É feroz, é explosiva
Surge na vivência, calma ou discreta
É planejamento vazio, fútil descoberta

Inquietude não some.
Ela fica.
Destrói, consome
E por fim,
Mistifica.

⁠⁠À noite, quando cai o sol, esqueço-me.
Esqueço quem sou, porque não me convém.
Esqueço o que tenho ao pensar no que vem.

Me choco ao futuro, e o futuro é mau.
De tão mau é novo, ao encará-lo chovo.
Uma chuva fina, de razões perdidas, de amores em falta.
De tristeza contida, de descrença em alta.

Perdido em alguém que já não conheço mais,
Pensando em tempo que ficou para trás.
E quando acaba a chuva, fica o vazio.
A ele me apego, de olhar cansado e inquieto.
Quente,
E frio.

⁠Poema é a expressão de um grito calado
É a arte do exagero e também a do pecado
É a verdade miúda e desnuda do querer
O que se perde e ganha, a cada alvorecer
E sobretudo é o primor de uma história escrachada
Onde metade se aumentou, e a outra foi inventada.

⁠Não ponho-me à alegria, porque ao final do dia, serei só eu e a tristeza velada.

Serei eu e a certeza de que tentei, sofri e chorei, e que o pouco que ganhei, no fim não valeu nada.

Serei eu e a noite, que como um açoite, irá me machucar. Mas não com couro, e sim com a verdade.

Serei eu e a mentira, de que findando o dia, deixarei de ser metade.

Mas o vazio não muda o fato, a verdade não muda o vazio, e o vazio não muda o homem.

E na vindoura manhã fria, em meio à nefasta agonia,

Serei eu então um nome.

⁠Ainda é manhã, mal acordei, mas já me sinto cansado
Fadado a viver, mas com a vontade da vida longe de mim
Ontem jurei que hoje não seria mais assim. Menti.
Apostei a minha alma com o vento, que ia melhorar. Perdi.

As pessoas vão saindo, prontas para cumprir compromisso
Imaginar ter um dia tal rotina, me afeta como alimento cediço.

Não.
A viver sem emoção, prefiro não ter alma, que pelo menos não sinto.
Escrevendo isto com dedos jovens e doloridos, acompanhados de fumaça e vinho tinto, me pergunto:

O que estou fazendo?

⁠O homem mediano era um sujeito um tanto assaz
Em muitos sentidos podia-se dizer que era capaz, quiçá até audaz
Trazia no olho brilho mágico, que o tempo não desfaz
À frente dele andaram vários, e um bocado foi atrás

Nunca foi gênio, mas sempre foi muito cordial
Trouxe consigo uma bagagem de capacidade medial
Muitos grandes foram os sonhos, mas razoável sendo ele, os baixou a tal
Média foi sua beleza, seu fulgor, e até mesmo seu tamanho, é claro

Viveu viver simples, pode-se até dizer satisfatório
Queria ser poeta, mas seu talento era irrisório
Trabalhou, amou, casou e família boa criou
Outros amigos médios em alegria formou

Foi-se ele embora na primavera, em morte ordinária
Não foi senhor formoso, mas também não foi um pária
Partiu com as marcas do trabalho, que tanto tempo o tomou
E apesar de médio ser, seu sorriso era belo, talvez até etéreo

Foi enterrado entre as palmeiras, sob o canto dos pássaros
Amigos e familiares compareceram ao velório
Que, à rigor da sua vivência, não foi deslumbrante, mas também não foi inglório
E, ao fim do dia, a estatística foi tudo que restou. E tão mediana foi a vida que na média, enfim, ficou.

⁠É manhã e eu caminho sobre a areia e sob o sol
Vendo a maré-cheia, pensando no canto do rouxinol
Lembrei da pergunta, que jurei nunca esquecer
"Como pode falar do amor, se nunca o pôde viver?"

Um tanto consternado, assumo sem temor
Nunca fui apaixonado, mas sei coisa ou duas sobre o amor
Sei que vem na primavera, com a ascenção das flores
Corre, brinca, se diverte, e se esvai em muitas dores

Afinal, se o amor fosse bom não haveria sofrimento
A amar prefiro a vodka, que me dá entendimento
Pela praia vou andando, passeando e bebendo sem demora
E vejo que o amor é como o mar, chega, molha, e vai-se embora

A lua já subiu, e eu continuo a andar sem pressa
O amor é como a criança atrevida, teima, corre e tropeça
Mas, afinal, eu não sinto o amor para que dele possa falar
Não sei mais o que digo, sinto muito meu amigo, já estou bêbado demais para acabar

⁠Eu esperei tanto o amor perfeito vir
Que, pouco a pouco, acabei me deixando ir
E minha alma virou a rima desse verso
Que, triste confesso, ainda espera o amor chegar

⁠Aquela que sou

Ontem mesmo fiquei acuada, talvez até incomodada, quando me perguntou: quem tu és?
Minha cabeça girou, mas logo retruquei: a mim responder isso é como pelas mãos meter os pés

Afinal, pudera eu, que sempre tudo tentei ser, ter algo específico a responder?
Não, é claro que não, afinal sou delirante
E por tal agravante eles me dão remédios

Já fui imperatriz amada, dona de casa atarefada, meretriz e também vilã
Pelas ruas abandonadas, fui namorada dos cantos, poeta dos bancos
E até mesmo rainha dos bares, onde cantei as mais belas canções
Hoje uso camisa de força, e apesar de boa moça, me jogaram aos leões

O essencial para ser grande é poder ver o bem no caminho mais pérfido, a luz no abismo mais escuro. E se engana quem acha que é ingenuidade ver o que há de melhor nas pessoas. Seja bondoso, e serás do tamanho do universo.

⁠A minha esperança desponta entre nuvens de anil
Sempre quando vens, no marmoreio que tens, em teu sorriso tão gentil
Me aquece o coração sempre que te vejo, tão alegre, a cantar
E percebo de repente que teu seio é meu lar

⁠A paixão é um sentimento vivo, e quente. Mas o amor... Ah, o amor, como é diferente. É vívido, alegre, e um alento ao coração. A paixão você sente no toque, o amor você sente na alma. É o carinho e o cuidado, a felicidade das pequenas coisas e o júbilo nos grandes momentos.

⁠O amor é como o vento: se sente sem ver, chega sem você saber e quando perceber, já foi embora.

⁠Quem ama não esquece. Supera, talvez, mas não esquece. Porque o amor é uma chama profunda na alma, que quando já não mais inflama deixa uma marca que nem o tempo é capaz de levar. Você pode ter uma vida feliz, colecionar bons momentos, mas quando olhar o céu azulado vai se lembrar de como davam formas às nuvens com sorrisos no rosto, dos abraços silenciosos que tanto tinham a falar, ou das brincadeiras incessantes, mas que cessaram. E, quando lembrar, o amor vai brilhar mais uma vez dentro de você, no lugar onde sempre esteve e sempre estará, guardado no canto mais afável da memória.

⁠O tempo passou, as coisas mudaram demais
Eu acho que superei, não o amor, mas a dor que ele deixou
Acho que é assim que as coisas funcionam, afinal
O vento leva o calor e dá a tudo um ponto final, enfim
A ti declaro todos os poemas que não pude escrever
Combinando com este amor que senti, mas não pude ter