Coleção pessoal de Patyvieira

Encontrados 2 pensamentos na coleção de Patyvieira

Decepcionante

Decepcionante é ser melhor que todos e ainda assim não ser o suficiente... o que você procura então? Decepcionante é guardar o maior dos segredos e ainda assim não ser confiável... mais do que isso eu não sei fazer. Decepcionante é acreditar no que não existe e existir pra quem não acredita... um dia a sorte passa perto de mim. Decepcionante é ser tão gentil que chega a confundir os outros... não posso ser bobo pra sempre! Decepcionante é pensar no futuro enquanto querem mesmo voltar para o passado... isso não vai dar certo! Decepcionante é ser verdadeiro e ouvir apenas verdades que machucam... a verdade dói, pode acreditar! Decepcionante é sentir saudade do que nunca foi seu... coitado de mim. Decepcionante é acreditar demais nas pessoas quando nem elas mesmo acreditam em si... eu pensei que fosse diferente. Decepcionante é ser bom e ainda assim sofrer... onde estará o Senhor nessas horas? Decepcionante é se decepcionar com alguém que você gostou, e talvez ainda goste muito, por tão pouco... eu juro que eu não fiz por mal. Decepcionante é deixar tudo perder o sentido por um orgulho cedo...ai to mal mesmo. Decepcionante acaba mesmo sendo tentar ser feliz junto, ninguém se importa com seus sentimentos...o mundo ainda vai se acabar no seu individualismo e congelar na frieza das pessoas que aqui vivem. Eu espero que pra mim, que não sou melhor nem pior... mas muito diferente do que eu vejo existe algo melhor reservado. Eu tenho certeza. Decepcionante não pode ser a vida... tão complicada pra não ter sentido algum.

A Alegria na Tristeza

O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.

Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.

Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.

Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.

Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.