Coleção pessoal de Passaroverde

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Senta-se no vento, ao som das nuvens toca o peito; pouco a pouco extrai o coração - lança-o no ar para amor espargir: derramar, espalhar em gotas, borrifar, difundir.

Por tanto pensar o poeta perdeu razão. Sua escrita escorre do corpo como suor: devaneios descabidos, molhados e estranhamente salgados.
O corpo no todo não é puro, cheiros estranhos o possuem, como também desejos esquisitos de cores distintas. Há oxigênio no que se tenta compor tendo o corpo como condutor.

Ao olhar os teus olhos de longe me vejo neles. Vejo-me caminhando dentro de ti. Cada passo dado por mim é como uma pisada de elefante que esmaga os teus órgãos lentamente um por um. Eu te amo e não consigo sair de ti sem antes não te marcar, esmagar por inteiro até me ver escorrendo dos teus olhos feito água salobra.

Arrancar a pele, a carne, tem se tornado uma constância na vida deste humano que vos escreve. Procuro asas ao invés de ossos.

Beijar o vento por vezes refrigera a alma. Beijar a boca de um beija-flor faz nascer borboletas no estômago. Cair de um abismo é leve, se ele não tiver fim. O fim mata o corpo, come sua carne e vomita os despojos no mar.

O corpo precisa comer borboletas verdes e beber água de cachoeira, só assim, preencherá seus lugares vazios. Quando preenchido, lança-se no fogo em busca de aquecer o próprio coração feito de madeira.

Debruçados na aurora nossos corpos irradiam amores de cores claras e declamam silêncios utópicos. Nossa pele desliza uma na outra exalando aroma de melancias frescas e alecrim. O nosso amor está suspenso no horizonte esverdeado sem tempo, sem fim, sem mais. Os pássaros deslizam no céu desanuviado.

O tempo nunca se perde. Dá voltas e mais voltas até desmanchar-se no ar e cair sobre os corpos como chuva quente. Ao escorrer pelo chão, o tempo-chuva emana cheiro de pele derretida.

Sigo sinuoso e veloz. Desejo muito ver os teus olhos de perto se você deixar, vai, tira os óculos. Por vezes sinto-me torto, isto é estranho. Tenho pausas constantemente. O tempo ajuda-me a entender um pouco os atravessamentos que sofre o corpo. As vezes me calo quando quero te dizer alguma coisa. Não costumo calar. É "tempo de pipa". Existe uma canção com este título. Lembra das mãos? Ei, você não pode esquecer. Meus olhos estão fechados, minha garganta seca, meus pés na cabeça... Vixe! alguém caiu depois de tropeçar no beija-flor. A chuva quando desce do céu pela manhã é transparente - sinto-me invisível. Invento muito sobre nós dois, sobre o castor e a tartaruga. Ouvi falar que as tartarugas duram muito tempo. Tenho medo do tempo - ouço o piscar dos teus olhos. O tempo ajuda-me a entender os atravessamentos que sofre o corpo. Ops! acho que já mencionei isto. Antes de dormir penso em lugares fora de todos os lugares - estou contigo neles. Acho que devaneio quase sempre. Cadê a nuvem? Poxa! acho que alguém a bebeu.

Atento para os pensamentos com os quais flutuo. Acolho os que em mim produzem devaneios, sonhos, fantasias...Tais pensamentos forçam-me, conduzem-me na invenção de castelos, borboletas, macacos verdes e sem pele; como também - lágrimas doces e nada molhadas - isto tudo no ar, lugar onde flutou com atenção.

Há memórias que aprisionamos para revisitá-las por alguns instantes enquanto há vida. As guardamos bem no fundo, lá onde fica os nossos segredos mais secretos. Tais memórias fazem o corpo se desfazer nos instantes que as revisitam.

Os olhos ardidos de sono avistam o movimento percorrido pelo vento matinal. Tenho desejo de cama diz o corpo, de coberta, de ser coberto por sua cálida pele.

Desordem
[...]
Pedaços de corpo dispersos sobre a grama verde. Noite de respiração ofegante, de desejos como mel deslizante. A boca se lambuza a degustar o mel que do corpo vaza.

Tenho percebido ultimamente que a minha poesia tem entrado em estado de carne. Seu cheiro já não é o mesmo de outrora. De quando eu exalava aroma de terra molhada, limão fresco e alecrim.