Coleção pessoal de ozimpio

Encontrados 17 pensamentos na coleção de ozimpio

Posso pintar? Ou Índigo

Azul, azul, raso
Vai meu dedo deixando
Rastro
Branco

Dois dedos
E outros
Rastros brancos
Azulejos

Imagino amarelo
Vejo Vermelho
Faz toda tinta
O que penso

Tinta aquarela
Escorre mesmo
Nem dura
Um século

Fugaz tintura
Fumaça branca
Resoluta
Resolvemos
Resolvemos
Ozimpio

Epitáfio:

Quedei-me aqui inconformado
Caguei-me sempre da morte chegar
E se houver outras vidas e mundos
Estou lá buscando meios de voltar

Ozimpio

Andar, corramos!
(para os manifestantes de hoje)

- Andar, corramos!
- Para onde?
- Que importa, corramos!
- Mas quem são estes
Correndo?
- Somos nós, eu e você
Que lá vamos, olha...
- Não, não os conheço,
Por que se revoltam?
- Não sei, mas por que
A gente não se revolta?
- Não sei, deveríamos?
- Aquela multidão
Se parece comigo
E com a minha revolta...
- Mas não tem líderes,
A quem seguimos?
- Não importa, seguimos
Porque estávamos dormentes.
- E o perigo?
- Não importa?
- E o sentido?
- Está no caminho,
Vem comigo?
- Vou sim,
Andar, corramos!
Ozimpio

"Veja um homem como eu: controlado. Mulher pra me pegar só com receita azul"
Ozimpio

Ridículo

Que não parece muito ser poeta
Que ninguém respeita este tipo de gente
Que fazer poemas não desperta
Consideração verdadeiramente

Que quase todo moleque é poeta
E arrisca versos apaixonadamente
Mas perde esta inspiração com a época
Em que se descobre ridículo e reticente

E para quem a época não passa
E para quem permanece doente
E para quem continua em versos
Aos vinte, trinta, quarenta e sempre?

Que tarefa dura essa
Reconheço assustadoramente
Que conservei em min a pecha
Achando-me poeta ridiculamente
Ozimpio

Vá ao velório sem medo.

As cerimônias funéreas fazem parte dos eventos sociais que nos obrigam, mais ou menos, a frequentá-las cotidianamente, ainda que contra a vontade. Não obstante que involuntário, mesmo no próprio velório, podemos causar constrangimento.
Neste compendio distribuirei conselhos guardados ao longo de vasta experiência pessoal. Espero que sirva aos vivos. Posto que, os velórios, são para os vivos mesmo.
Perguntas e respostas para quem não quer pagar mico em velório.

- Esses conselhos só servem para velório de estranho?
- É claro. Se for um parente muito próximo, você não terá tempo de ler nada disso.
-“Descansou”! É uma resposta que serve em todos os casos?
- Não. Só para defuntos maiores de 50 e que estejam sofrendo de doença crônica há muito tempo (nunca use em caso de acidentes).
- Se eu for ao velório, sou obrigado a me aproximar do defunto?
- É. Afinal você foi lá para isso. Mas não é obrigado a ir ao velório.
- Quando alguém entra em crise de choro ao nosso lado, fazemos o quê?
- Qualquer coisa, menos entrar, também, em crise de choro.
- E se a pessoa desmaiar?
- Se afaste um passo (mais ou menos um metro) da pessoa, olhe para ela e conte (em silêncio) até três. Se ninguém vier socorrê-la ofereça-se para ajuda-la.
- Quanto tempo devemos ficar próximo ao caixão?
- Até que a pessoa (a viva é claro – parente, colega de trabalho, vizinho, etc.) que te levou a ir ao velório te veja.
- E se eu quiser ficar mais?
- Problema seu.
- Quando estou próximo ao caixão e alguém que não conheço chega e pergunta (sobre o defunto): “Está inchado, não está?”
- Faça cara de estátua e responda baixinho, no ouvido da pessoa: “Você achou?” e já saia de perto.
- Quando damos crise de rir em velório, o que fazemos?
- Se já é um hábito, não vá. Mas, se vier de repente, pode fingir que está quase espirrando, e sair logo, sem empurrar as pessoas. Não pare até estar fora do velório. Não volte.

No próximo post trarei outros conselhos (são páginas e páginas). Espero estar prestando algum serviço.

Ozimpio

Quem cospe no cinzeiro suja o rosto

Pedras?
Com as que me atiraram vim me construindo
Com as que ainda faltam me porei de pé
Ozimpio

Natal em flor

Ninguém prestava atenção
Por nada eu estava vendo
A rama deu um botão
Eu vi ele florescendo

Trouxe alma ao meu coração
O amor singelo crescendo
Fui um pouco José então
Que assistiu Jesus nascendo
Ozimpio

A diferença é que antigamente a comparação era com a vida dos artistas e das celebridades, e hoje é com a dos amigos, parentes e vizinhos na internet. A inveja é a mesma, essa não se modifica.

Hoje é bom o quanto basta. Ainda que eu creia que o melhor está no porvir não espero, no entanto, a alegria futura. Antes, brindo com o bem que tenho agora. Quando o futuro melhor chegar há de me encontrar comemorando as felicidades que eu já tinha, ora bolas.
Ozimpio

"Ser derrotado com a consciência tranquila dói e passa. Já a mentira amarga sempre, até na vitória."

E o mundo acaba

Que coisa interessante é a ideia do fim do mundo. Parece tão ancestral, recorrente e improvável como a própria concepção de um deus. E como qualquer fé defende sua divindade, toda doutrina tem seu cataclismo, o final, apocalipse, armagedom.
Isto é certo, é consenso, é comum. Em qualquer raça, crença e tempo todos estão de acordo que há um “acabar” que se aproxima. Pouco importa o que um e outro dizem sobre antes e depois da vida. A condição humana é finita.
Curioso é perceber que ante a certeza do fim individual o ser humano parece alcançar conforto na possibilidade de uma morte coletiva. Parecemos acreditar que a dor de não existir é menor quando não resta a possibilidade de que alguém fique e sofra, de que alguém vá e se perca ou de que existam lugares piores e de pena.
Pensamento egoísta. Razão mesquinha. Que mau, esquivar-se da própria dor apostando no colapso da beleza da vida.
Não é o mundo, que julgam termo, pó de estrela? Este que fica menor na proporção que alargamos o poder das vistas.
De nada importa a crença que cortejas: padre, pastor, cientista. Não acaba o mundo, nem a vida. Termine antes esta nossa individualidade um dia, que só nos faz egoístas, presunçosos e chauvinistas.

De ano novo

Aposte no ano novo, isso não é ridículo
Ridículo seria não crer em nada
Quando a vida essencialmente é risco

Viver é aventura e aposta
Pensar é buscar lógica para isso
Nenhum profeta nos deixou resposta
Antes, encheram-nos de pergunta e abismo

Não vejo mais razão na física de Einstein
Do que nos estudos da minha avó
Para o jogo do bicho

Eu branco

Sabe aquelas janelas,
as paredes, os muros, as coisas
Estão todos brancos novamente
Caiei tudo e me repus
na rede

Fiz de propósito esperando
Que venha colori-los mesmamente

Meu encanto, quais pincéis são estes
Que é você ir passando para
As flores surgirem de repente

Só sei rir vendo teus cabelos
Estampando minhas roupas,
cadernos e pertences
Mais feliz de ver quando
Meus olhos ficam todos verdes

Nem precisa eu ficar pensando
Põe neles sempre verde diferente

Antídoto

Estou morrendo aos pouquinhos
E de um remédio eu preciso
Que só existe em seus lábios
E que se chama sorriso

ozimpio

Inter urinas et faeces nascimur.