Coleção pessoal de NeiriLima33

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Ainda hoje andando pela rua me deparei com um motor homes antiquíssimo.
Apesar de ser um objeto deteriorado pelo tempo, ele ocupava um espaço naquele lugar. Mesmo não iluminando mais, os seus faróis eram originais e estavam alí.
A placa apesar de ilegível, ainda o identificava e permanecia no seu lugar específico.
Suas janelas por osmose viviam abertas. Através delas corria o vento, a corrosão do tempo.
Os pneus apesar de desgastados, ainda o sustentavam.
Conquanto "ele" chamou-me a atenção por seu detalhe singular, por seus cortes únicos, pela segunda capa que o protegia: A poeira.
Assim devemos seguir...
Apesar do descontrole dos dias e da mudança do tempo, ora produtivos, outrora temíveis devemos estar observando, sendo observados e deslumbrar a quem nos olha.
E mesmo que para muitos estejamos passados de fase, ultrapassados no ciclo de vida, digamos:
Muito prazer! Eu existo!

O Viver Pelo Olhar

Em meio ao imenso vazio dos altos montes
Ela alí está
Divinamente se faz presente
Mesmo opaca, reflete
Faz o andarilho imaginar
Com quem viveu
A quem protegeu
Quando teve fim o seu apogeu

E nessa estrada
Chão, barro
Cheiro de mato
Quem dera
A sua porta não aberta adentrar
Chegar, cumprimentar
Fazer sorrir
Dizer sim, ficar

Quando anoitecer
O céu azul contemplar
E se chover
Correr
Embaixo dela me proteger
Esperar amanhecer e reconhecer
Que toda a sua beleza existe Independente do sol nascer.

Você chegou
Estive a esperar por esse dia
Com a pontinha do meu indicador
Desenhei o seu nome no espelho
Já nublado
Não permiti que o tempo apagasse

Te protegi do descontrole do vento
E enfim te gravei em mim
Passaram as estações
Você pairou por outros hemisférios
E hoje retornou
Cedo me acordou

Trouxe chuva, preguiça
Uma sensação de "você"
Ergueu a grandiosa nave
Se convidou a me proteger
De junho a setembro
E depois, novamente voltar
Trazendo flores, primavera
Um buquê de tulipas amarelas.

Amo sentir o seu cheiro
Inconfundível como a flor
Flor de laranjeira
Café na chaleira
Pimenta-do-reino
Chocolate amargo, cravo
Branco lírio, genipapo.

Lua nova, foi você
Que mesmo estando pela metade
Aquele caminho iluminou?
Disfarcei, nem quis te ouvir
Pois sei que brilhaste não para alumiar
Mas sim para tornar notável a sua presença
E fazer todo ser sensível te contemplar
Olhar pro céu e contigo sonhar.

Um foco. Dois caminhos

A mesma entrada
O mesmo ponto de partida
E assim para um seguir
Precisa com o outro estar em sintonia
Início, chegada

Se na frente um lado parte
De imediato o outro atrasado
Corrompe, entorta, amassa
Desanda, estraga
Fere a arte.

A Garota do Inverno

Ela não é triste
Apenas introspectiva
Percebe a vida como um passaporte, lenta
Segue sem ser notada
Timidamente passa
Seu olhar sério, disfarça

Intuitiva
Ela aguça o pensamento
Do menino que se ofereceu
A vir te encontrar
Junto ao frio tempo
Por ela se fazer encantar

Mas tijolo não revida
E ele tolo
Tão mal pensou
Achou que ela
Por ti se interessou

O seu desejo congelado
Em água se transformou
Acordou, não era o "tal"...
Por si só se convenceu
Que nem sempre tentar
É a melhor forma de conquistar
Mas quem sabe se deixar o inverno passar...

Assim ele surge
Mesmo seguindo um destino congelado
Mantém-se firme em sua jornada
Sobre os trilhos encobertos
Sem medo de trepidar
E por fim descarrilar

Preparado não desiste
Segue radiante
Deixando para trás paisagens Passagens dos que perderam a hora Saudades dos que ficaram
E acenaram pra ti antes da aurora.

Desafio Inóspito

Quem te plantou, oh semente
Te percebi andando por aí
Parei e não pude deixar de observar
A sua força, a sua intrepidez
Os desafios que a vida te fez enfrentar
Tentando a sua timidez aguçar

Nascida, crescida, hoje você é vida
Desafiando as percepções
Contradizendo as razões
De quem em ti não acreditava
Achando que jamais seria notada.

Hoje te vi nascer
Junto com os pinguinhos da chuva
Era manhã, cedinho
Na companhia do mar
Maresia
E em meu percurso
Com a frieza batendo na face
Você me contou
Te trouxe sorrisos
Detalhes do meu mundo
Onde muitos por mim passam despercebidos

Estar tão longe
Em outro lugar
Andando em asfalto
Ou estático no decolar do avião
Esse pedaço de ti em mim
Vestido, capa transparente
Enraizado, protegido
Insuprimível
Nos explica o bom da vida
Paz, amor, realização.

Voar ou andar?
Usar os olhos ou o faro?
Ter leves penas ou ser encoberto por pelos?
Não importa! O importante mesmo é ter coragem para enfrentar os desafios lançados pela vida.

É ter um voo lúcido e firme diante de um mar de impurezas alheias
Andar com os pés descalços e não sentir ardor ao pisar nos pedregulhos do desamor

É ver transparência ao olhar pela janela nublada a chuva incessante da ingratidão
Farejar as melhores essências nos maus-gostos da vida

É ter a suavidade ao tocar o "nu" dos desalmados
Usar o céu como cobertor para acalmar assim o desconforto e o peso da dor.

Qual o Desafio do Século?

Para muitos é controlar um vulcão em plena erupção, diminuir o desejo das lobas fêmeas em pleno cio, tornar retornar à torneira os pingos d'agua desperdiçados.
Já para outros, seria ter um dia de aconchego em seu lar, acalentar os seus filhos e pô-los para dormir, tomar uma xícara de chá com um amigo no final da tarde, sentar-se no sofá e uma fileira de chocolate degustar.
Assim, temos feito os nossos dias improváveis, não querendo calçar sapatos para não ser necessário justificar os calos nos pés, evitando sorrir para não fazer esforço em vão, afinal devemos viver para ganhar dinheiro e não permitir "perdas de tempo".
Diante de tanto caos, estamos eliminando de nós o racional, desfalecendo o "pensar" e desesperançando o se perceber como ser humano: cabeça, corpo e membros.

As Chaves de Fendas Que Não Desapertam os "Nós"

É o dedo que aponta um deslize de quem se ama
A mágoa que insiste em permanecer após um pedido de perdão
O tapa na face do filho que chegou tarde e não avisou
O receio de novamente errar e o não querer mais tentar
A conspiração sobre o menino que ainda não aprendeu a ser "grande"
O descontrole ao traçar o próprio destino
A desculpa de não ter tempo para caminhar
O não querer dar, com medo de não receber
A insistência em lutar contra o que realmente se quer de verdade
A permissão dada à mesmice para que não seja necessário mudar o time perdedor.
Assim seguimos, levando nas costas uma caixa de ferramentas insalubres, alimentando o improvável sonho de consertarmos os desajustes da vida.

O Machucado Que Ofende o Sabonete

A justa razão de alguém nascer já justifica o esperar por acontecimentos, por isso muitas vezes não devemos dar tanto valor ao caos inevitável.
Nascer, crescer, viver. Fatores que contribuem para o "mal necessário" existir, estar alí.
Mas o que é mesmo necessário para que não xinguemos o sabonete que cai das nossas mãos? Penso o quanto é irracional culpar o outro pelos nossos desmazelos, pois se esquecemos de orar, enfiamos o pé na lama e permitimos as escoriações nos sabonetes da vida, a culpa é exclusivamente nossa.

Eu te Levei Comigo Amor Amigo


Quando você foi visitar o Japão
Me senti tão frio
Uma folha caindo
Sopro do vento
Levando o barro
Vivi um tormento

Aquele pingo de tinta que cai
E não se vê parte da pintura
Um navio a beira mar
Viajante acenando pra quem lá não está

Só fui alí
Iluminar o oriente
E comigo te levei
Bem, grande bem
Desde a temporada das flores
Até a grande geada
Lá na imensidão do monte.

Ele delirou sem ter febre
Quando olhou no espelho
E viu a imagem da sua fada

Era noite, quando ela iluminou a sala
O seu reflexo tinha pressa
Te trouxe uma frase escrita
Um beijo, descrevia um certo cuidado
Flash de coração envolvido
Marcas de pneu, gritos incontidos

Anos, viagem, passado
Luar, sessões, cinema
Batom, sorrisos
Sinceras lembranças, saudades

O minuto final chegou
Ela enfim, partiu
Cantando aquela canção
Deixando aquele vão, as coisas, o então...

Amor em Lugares Submersos

Ao mesmo tempo inspira e assusta
Como um suave toque
Que de repente se torna forte
Necessário, preciso
Na determinante braçada final do competidor
Aquilo que não se conta
E ainda nem está escrito.

O Que Vem de Ti


Você, lindo menino
Botânico, tão natureza
Decorado ambiente
Fino, colorida estampa

Contigo segue o baile
Me convidas para uma dança
Mas não sei dançar
Aproveito pra te olhar

E me vejo em ti
Nessa íris caramelada
Mel, amêndoa, laranja adocicada.

Contemplar e Viver ou Desesperar-se?


A paisagem é a mesma faça chuva ou faça sol, mas o que vale a pena mesmo nessa vida é aproveitar o que há de melhor nos "riscos eminentes". E eu prefiro mesmo é contemplar, sabe? Às vezes, viver desafiando os medos, as fragilidades e os possíveis desmoronamentos nos torna bem mais atentos e dispostos a não mudarmos de lugar, mesmo quando o anúncio das tempestades sobrevêm.