Coleção pessoal de naenorocha

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FULGOR

Inquestionavelmente tu
Rosa sobre as outras rosas,
Que sol e vento beijam primeiro
Que à minha boca bate certeira
E os meus olhos, ainda longe,
Avistam-te fulgurosamente
Desta beleza soberba.
Quando te abocanho
Não vejo espinhos
Mas eles já estão mordendo a minha carne.
Trabalho de nada, coisa feita à toa,
De saborear teus lábios
Jamais me cansaria,
Que assim a vida fica boa.
Fico mais, como quem ficasse
Rente a esta imagem linda,
Cativo teu.
De tocá-la enlevam-se minhas mãos
E te colho, lançando dentro de mim
Uma profusão de amor.

VINTE E QUATRO HORAS

Ontem as vinte e duas horas e quarenta minutos
Horário oficial de Brasília
Eu estava ardendo em febre, suando.
E na tiragem dos meus uis, contados
Uns vinte e tantos mil, falei, quietei
Aos teus ouvidos.
E de febril, de puro amor, o meu remédio
Tomei por tantas horas, em tantos goles
Que me embriaguei. Caí sobre o teu corpo
E amando-te voluptuoso, transpirei
E a febre não passava, passavam as horas
Já pela madrugada, ainda eu te amava.
E pela manhã, à hora da voz do Brasil
Eu te amava.
Em meu delírio, uma poldra branca
De crinas alvas e esvoaçantes
Carregava-me sobre seu dorso.
E eu galopei vinte e quatro horas
Sobre um leito de areia fina.

E nas esquinas por onde andei
Espantava-me o medo, de cair
Por tua cabeça,
Quando te inclinavas a me beijar
Fazendo. Aproximadamente
Um tempo impreciso e gigantesco
Sem que o espólio se passasse.
Eu na tua crina seguro,
E tu em meus flancos grudada.
Amar faz a gente ganhar a medida do tempo,
E se tem ciência dos espaços
E não se perde o tempo, se acha,
Mesmo que estando no silêncio mais escuro,
Como eram as grutas por onde passamos,
E vimos dentro animais atônitos,
Encontrávamos-nos,
Permitíamos-nos
Como os ponteiros dos relógios,
Ora encima, ora embaixo,
Ora não se distingue o prazer do bom,
Quão bom é o prazer das horas.

UMA TENTATIVA

Revolva-se o bom do tempo,
Todo silêncio.
Estanque-se os batimentos dos corações,
As pancadas das águas no fim do mar,
Silencie a abelha em sua arquitetura
Doce, doce.
Clareia e o mundo guisa, e faz barulho.
Quando não se emudece com o teu grito.
Tempo, para o silêncio,
Ou dá uma trégua
Da comoção de se estar vivo.
Vivo e só.
Morto e vivo, uma contracena,
Mentiras reveladas ao vento. Deus,
Feridas sem o vermelho rubro,
Tampa que não cobre a extinta morada.
De vertentes escorra, repúdio –
Tal como acostumaram a morte.

FAZ TEMPO

Tanto tempo faz,
Tempo já demais
E este tempo jaz
No meu coração.
Tempo que eu nem conto,
E este contraponto,
Dado em minha vida,
Sem mostrar saídas,
Tempo que me assusto
Dava tanto assunto,
E eu nem sei ligar,
Uma coisa a outra.
Se a vida é autora,
Desse meu penar,
Se a vida tem
A ver com esse desfecho,
O preço é muito mais,
Do que avalio e penso,
O tempo não se ausenta,
E eu larguei de contar.
Contar as desventuras,
Minhas amarguras,
Vou te suportar.

SABE AMOR

Sabe, amor
Sem ti, a vida espera
Num canto esquecida.
Os meus olhos só se alegram
Quando te vêem de perto
Colada aqui em mim.

Sabe amor
Pense em toda armadilha
Em todas me alcei
Querendo te encontrar
Como faz um bicho displicente
Levado pelo cheiro
Da inconfundível flor.

E se eu chorei
Não cabe a ninguém
Não choro por alguém
E se a vida passa vagarzinho
Eu fico no meu ninho
A proteger meu amor

INFÂNCIA

Quando eu era menino
A vida era minha namorada.
E foi o tempo da melhor amada.
A vida também era menina,
E brincávamos de viver,
Desfazíamos tudo
Só para acomodar de novo.
Tínhamos tempo para tudo,
Até que a vida e eu fomos mudando
Eu me esticando
E ela se encurtando.
E por desavença, numa dessas brincadeiras,
Bati nela com uma cadeira,
E desencadeou-se um desencanto.
Duas caras de espanto.
Do meu lado, eu a desfazia,
Do seu, ela me agoniava
Com seus achaques de pura raiva.
E nunca mais nos demos bem,
Embora nos abracemos todos os dias,
Não passam de normalidades,
Um fala e o outro responde.
De mim, não há um amor que volta,
Dela recebo beijos à toa,
Acho que nos esquecemos, um do outro.

CHEGADA

Apeio do caminhão de paixões e sonhos
Possivelmente conduzido por Deus.
Senti uma tristeza cobrindo os telhados
As cigarras tecendo a tarde murada
O trovão quietou as cordas do piano.
Aparece repentinamente o arco-íris
Pacto aleatório entre Deus e os homens
Sem a confirmação da benzedura divina
Paira sobre os apenados, mendigos, marginais
Sobre os desenganados tristonhos..
De todos os cantos de mim
Rebenta um dedo terribilíssimo a me apontar
Porque sem os notar não faço conta
Das sobras terminais do mundo.
O céu agora se transfigura, em branco puro.
Céu pintado, que escorria tinta.
Céu sempre futuro e desesperançoso
E como são necessários
Estes sofrimentos de planos desiguais.
E do que mesmo eu me lembre?
Só destes puxados caranguejos da vida.

Naeno

MEU PEDRO

Meu filho

Pedro, naturalmente tu nascestes lindo
Principalmente
Os teus olhinhos rindo
Pedro, tu ris quando choras.

São tuas a fauna e a flora brasileira
Deus te deixou este legado inteiro.
Da mata em canto os pássaros trigueiros.

Ele espera agora que inventes a paz
Ninguém mais sabe, e os que tentaram jazem.
Mas tens de sobra, amor, vontade, faz.

Está escrito que seria mesmo tu este menino
Que criaria os versos e as rimas
Tocar as alma com este cavaquinho
Feitos por mim, bom só um sonhador.

LINDEZA

A vida é bonita
E é luminosa a rosa no seu cheiro e sua cor.
A borboleta é estrema
É de uma boniteza a mata
No dia entardecedor.
É lindo o amor demonstrado, puro
Como são belos os olhos que o constata perto.
É pulcro o nascer de cada estrela
E é esplendoroso quando chove serenoso.

É bonita a naturalidade de uma mulher
O que se põe num pedestal sob sua medida
E é linda a ave cantando na copa da árvore.
Como são lindos os africanos na sua cor noturna
Envolta de vestes vestes estampadas
da mesma beleza ver-se o ocidental sobre seus saltos altos.

É de encher os olhos uma criança nascendo
É de merejar os olhos o rosto da mãe, preparada para amar.
É notável o verde de quem os olhos se enchem da mesma cor
A relva naturalmente exalada verde
E é abissal a beleza dos animais quietos pastando.

É bonita a consistência da força de Deus,
Como são lindos os seus anjos benfazejos.
É bonito se olhar a fundo, que em tudo tem beleza
E a lindeza está em se olhar e ver tudo bonito.

E bonito tudo
Como é lindo o nada em seu momento
Porque dele tudo é originado.
É bonito o cheio
E o vazio explícito, depósito de algo bom
É bonita a pureza com que falam os homens, dizendo a verdade,.
E é linda a verdae esclarecedora do homem íntegro.

É bonito o terço
É linda a ladainha
E é lindo o sermão do padre versando Deus.

PEDIDO

Uma coisa peço a Deus, e peço incessantemente,
Ser na minha velhice o mesmo moço que sou
Não com o mesmo viço, os olhos no mesmo brilho,
Não com a desenvoltura física,
Com as mãos pesadas de agora,
Com os mesmos cabelos na mesma cor,
Não com a mesma voz altiva,
O andar desenvolto, com os mesmos anos que conto,
Tampouco que o tempo pare para que eu permaneça só,
Com o mesmo olhar malicioso,
Com as ambições que alimento,
Não quero ser o velho renitente contra os feitos da vida,
Não ser jovem ardente, de sonhos imediatos, meus,
Nem desejar que o mundo me veja como um prodígio,
Alguém que rompeu as leis e permanece,
Incólume às intempéries do tempo.
O que peço a Deus e já faço inconscientemente,
É ser capaz das mesmas boas ações,
Dos sonhos, do bem querer, da alegria
Que sinto com a alegria dos outros,
É ser este mesmo moço formoso,
Preparado pra declinar.

O TEU OLHAR

O tu olhar tem a mansidão do dia
Nas derradeiras horas do poente
Amarelando o céu de repente
À beira do abismo de uma note fria.

As horas passam vagarosamente
Em teu olhar onde mora a nostalgia
De um fim de tarde pleno de poesia
No qual o sol recolhe-se cautelosamente.

Em teu olhar agoniza o segredo
Que o silêncio esconde e guarda do teu medo.
Como se o resguardasse sua própria sorte.

São teus olhos ternamente enamorados
Carinhosos, tristes, brilhantes e apaixonados
Que inventam até esta paisagem forte.

TEMPO

O tempo tece a roupa que vestimos
É o destino suas mãos habilidosas,
Que em tudo muda os feitios, as aparências.
E o acabamento, a amarração firme
Dos pontos atravessados, ponto a ponto.
É este denominado assim porque,
Não é sujeito e também sujeito a nada
Mas tudo rege elevado da gente
E de cada um sente tirar, sente faltar.
Não é preciso um tratado de filosofia
Pra se chegar à conclusão efusiva
Que uma tesoura corta uma lágrimas
E que uma agulha segura a mão
De acalmar, de diminuir a enxurrada
O tempo urde, enquanto o tear manipula
E a catapulta armada investe-nos
À vontade é atravessar desertos,
Sobrevoar mares, ir mais que o tempo
Dele se iludir, e se enganar de novo.
Caçadas dentro de mim, já risquei fósforos
Iluminado o teu olhar me aquieta
Quando me diz é por ali a estrada,
Sinto-me desmotivado, me sinto imortal.
Se o tempo esconde os presságios bons
Os alentos das dores, que não nos põe na mão,
As duas feridas, de uma ferida a outra
Quatro chagas dissipando-se nos dois lados.
O tempo impune, não sei o quê,
Aprendi chamá-lo com este nome falso
Mas que existe e na passagem rouca
Pensa-se tudo, se corre da estrada.

O POETA

Como não! Ser hoje mesmo
Me agarro nesta caneta
Para um poema dançar
É porque há muitos anos
Você levantava os olhos
Olhou com força pra mim
Depois levantou os braços
Me abraçou tão carinhosa.
Como não... se nem um dia
Pude esquecer-te quimera
Se a função sair batuta
Deveremos a você.
Se assente aqui, faz favor
Neste luar destinado
Às pessoas de destaque
No lugar de honra mesmo.

FESTA

O amor quer fazer uma festa
E não vê espaço onde possa
Espalhar mesas e cadeiras
E deixar um espaço para os que dançam.
Seu corpo solto, de um amor criança.
O amor quer brincadeira, quer fuzueira.
Deixar cair de sobre os ombros
Os encargos da dor, do ressentimento.
Pudesse o amor ter calma e só amar.
Batuca os dedos no granito frio
Das encostas do parapeito
Perto da veia que trinca o coração.
Aqui o amor tem morado.
Quando se sente dono, mas tem demorado
Em amar, o exercício dos calejados.
O amor quer a festa, que já comece
O ritmar da dança.
Bate coração faz força na mão.
E começa por uma sonata de Mozart.
Mozart que fica quarto em quarto.
O salão da festa, ganha espaço, avança
Mas o amor não gosta, não queria amar.
E se contrai mais que se esvai
E o coração quer a alegria dele
Já riu sozinho, até o espelho
Já se barbeou ainda cedo.
O amor madrugou fazendo planos
Para no dia seguinte juntar-se
Aos todos amantes,
E ensinar-lhes de entusiasmos
O que está em voga
Fora e dentro, pelos corações.

O SILÊNCIO

O momento esperado, o silêncio das ondas.
O sobressalto que o mar não tem mais para agora
Enseja com a minha coragem e minha própria tormenta
De navega-lo, remando o meu amor
Singrando, faltando-me a visão do porto.
Ainda não me digas
Se pernoito ou sigo
Deixa-me ver teus olhos na manhã
A minha pressa são a claridade nova
A tua boca falando por mim
E o mar não me diz nada assim
Do modo impenetrável
Como via a minha alma
Que já se alenta e se acalma, e se detém
Fintando a tua face docemente
Do que já virou fagulhas
O mar é só um refletor
Uma lembrança mais perto
De todas as manhãs que vão chegando
De todos os sins que de tua boca
Correm no vento e vão se espalhando
Pingando este céu de águas
Molhando os meus olhos de esperança.

O AMOR QUE SOBE

O céu se lança sobre mim como o teu vestido.
Um arrepiar de amor, correndo em nós.
Chega o sol e segue para a lua.
Grito o teu nome por todo o espaço
Para te acordar quando dormes.
És quem traz o meu ar
És tu quem floreira a terra
És tu quem desvia do fogo
És tu quem murmura nas águas.
És tu quem respira e vive por mim.
No teu corpo revive a estrela extinta
A água dos rios, dos mares é a tua saliva
O fogo se abranda nos teus cabelos.
Quando te abraço, estou envolto da única mulher.
Lua e Sol,
Origem berço, espaço.
No teu corpo ando da terra ao céu
Ele é um estandarte da desejada vitória.
Teu nome reconcilia todos os mundos.

Naeno

Falar com Deus é muito simples. Consiste em ficarmos diante dEle, apenas O contemplando, pois tudo o que queremos falar Ele já sabe no silêncio e na mesma calma Ele se fará ser ouvido, entendido por ti.

EU E DEUS

Se me lembro alguma coisa pedi a Deus,
Que me deu a boca e antes de abri-la prometeu,
Que quem pedir mais leva, os cofos
Que se teceu.

Se me anina esta proximidade dele,
Muito mais me santifica pisar seus mesmos rastros,
E quando só, penso está sozinho, deste.
Eu me aceno, na pressa de Deus.

E o que me anima é o mesmo acima.
Autoriza o sonho, relaxa com a rima,
Deixa-me à vontade, para ser saudade.

Para ser da terra, o passo que eu escolher
Se quero viver, terei de morrer.
É só valer a vossa vontade.

BICHO

Chamamentos de amor pelo silvo
Deixa o coração em polvorosa
Ficam os nervos de flor em pele
Com as mãos estiradas, em oferta.
Uivos de amor, quando é saúdo
Um cio de ardores pelo olhar
Um raio imprevisto, um pasmo
De não se querer acordar.

Amor será te amar, vitória!
Ou se volta a mão sem nada
Ou se fica aí por dentro
Latejando desarmado.

Quais das feras, a mais temida,
A onça no seu grunhido,
O cravo no escuro sumido,
Quem mais te bota medo?
E quem mais tira
Da nossa coragem inconsiderada
Dos nossos jeitos arquétipos,
Terá um mais presente e omisso,
Mas à mostra e invisível,
Que o amor.
A dor que queima e abrasa,
Um ferino que não cala
A ponta perto, o arpão.
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naeno

FAROLEIRO

Eu faço versos como quem
Num farol, um plantonista,
Vê o céu muito além
E perto de mim uma vista.

Se vestem meus versos de espumas,
Uma nudez quase mostrada,
E os barcos que olho enfumam
Suas velas na alvorada.

Quanto mais claro vejo o amor,
Quanto mais densa a letra escoa.
Amor tem de ser motivo, uma dor.

Quanto mais turvo olha-me o vazio,
Mas me transformo em amor,
Meus poemas são desvarios.