Coleção pessoal de monalisa_1

1 - 20 do total de 23 pensamentos na coleção de monalisa_1

⁠No silêncio profundo da noite escura, tudo é densidade e ausência. Cai a noite cortante, como uma faca a cortar amenidades. Eu no meu quarto sou apenas um instrumento da noite que pode ser música ou ruído. Quando olho sua imagem em um retrato, penso quão longe estamos um do outro. É inútil insistir. O tempo nos distanciou como a noite e o dia, que se encontram fuzgamente na aurora e no crepúsculo. Já não cabe questionar quem errou. Não há erros. A natureza cumpre seu ciclo. E o nosso destino é estar separados. Isso me dói, mas me impele a aceitar os fatos como os fatos são. Com tantas pessoas no mundo, porque o universo ia querer nossas mãos entrelaçadas? Recolho-me a minha condição humana. Eu posso querer o que quero, mas não posso ter o que quero. Isso me impele a uma aceitação dolorosa dos limites do eu. Fico com a lembrança terna do teu ser tão grave. Na sua gravidade encontro respostas para o meu silêncio. Agrada-me mais a sua seriedade do que o seu sorriso, porque em seu rosto sério encontro contrastes e inquietações. Mas você para mim é lembrança em palavras. E ainda assim me alimento do ser que um dia amei. Falar de amor é sempre um solo delicado, dividido entre a prosa e a poesia. A prosa fria, desmistificada. E a poesia buscando o cadenciar de palavras que exprimem verdade. Eu não ia falar de amor. Falaria sobre o universo e suas complexidades. Mas me vi mortalmente terrena, e o peito é a ausência do seu. A eterna incompletude. O amor idealizado encontra sempre as melhores palavras. Tem uma potência maior que o amor concretizado. Ao concretizar, somos humanos demais para manter a chama. Mas digo isso ao meu coração, e ele se nega a aceitar a verdade. Ele quer você aqui presente, seus pelos e sua pele. Seu jeito sério que me faz querer decifrar o que tanto te cala. É um poema de amor. E o amor flerta sempre com o ridículo. E é ridículo amar uma imagem que nunca mais verei. Mas o amor tem esse talento inato de desconhecer fronteiras. É noite e pesa em meu ser essa ausência. E te amo, sem nada esperar.

⁠Cansada do eu, dispo-me do ego e me entrego nas palavras subconscientes. Posso ser uma pedra preciosa, bela e inquebrável. Mas essa imagem bonita diz pouco quando escurece e a noite traz sons do universo. O dia foi longo como um trem rasgando a estrada. E se escrevo é porque transbordo do eu farto de mim. E me entrego a imagens. A flor é bela e delicada, mas além de seu aroma não sinto mais nada. Depositei em você sonhos de unificação, mas o amor resultou inútil. E me sinto uma pedra, que não simboliza nada. A pedra pode ser o instrumento de uma força descomunal que busco em mim. Uma rocha imutável, sujeita aos ventos, ao sol, E a chuva. O que fazer para aliviar esse desaninimo que me exaure? Talvez pintar um quadro, mas a pintura resultou inútil, se a olho e nada sinto. Esse é uma prosa poética que fala sobre energia, aliás, a falta dela dela. Então como palavras repetidas, imagens gastas e você que é ilusão. Se pelo menos o amor batesse a porta com suas mil promessas. Eu acreditaria, pois tenho fome de ideais. Mas na poltrona de minha sala só encontro vazios e um cansaço de existir. Se ao menos o tarot falasse a verdade, mas sou de touro, e isso não diz nada. Quero promessas, materializações. Eu farta de inventar motivos, significados. Eu não me basto. É como dizer para o universo 'por que tantas estrelas se não posso tocá-las e nem compreendê-las. Noite escura, vento que sopra. E nada me diz.

⁠A dor me escapa e se esconde para além de mim mesma. Liberta da opressão, posso expressar com lirismo todos os sentidos ofuscados. Sou calma e a calma é o meu jeito de estar no mundo. Prezo passos mansos, mãos delicadas e palavras sussuradas. Nada que desperte a natureza, tão coerente em seu ritmo. Posso ser um pássaro, uma flor, um fruto. Posso ser um ser integral em comunhão com tudo que me cerca. Admiro a paciência das árvores, crescendo lentamente. Não quero ferir o silêncio. Por isso meus dedos são suaves e não fazem alarde.

⁠Chove nas folhas que molham. O chão escorre a água E a cidade cala. Somente a chuva fala. Os carros se curvam ao mandado do céu. E somos criaturas de um universo que comanda. Ontem fez sol naquele velho sertão. O mandacaru ardeu no solo árido e as vacas magras pastavam como entidades do século passado. A velha casa de adobe resistia ao tempo e se dizia que ali moravam famílias centenárias. Mas na cidade de hoje chove. Caiu assim bruscamente. Ver a chuva caindo é tão aprazível. É até possível sentir alegria. A chuva é tão antiga. Chove e caminho nessa cidade imponente demais para minha alma tão alheia a concretos. Dou-me mais com as árvores do cerrado. Acostumei-me com seus caules contorcidos, eu que nunca tive a alma em linha reta. Nesse dia de chuva, sinto-me líquida, escorrendo do céu.

⁠Havia uma árvore no meio da janela. Não havia nenhuma comida na panela. Só a multidão se esfacela no ônibus lotado rumo à favela. Choveu muito e há lama na rua. Os pés se sujam como em uma gravura. As sombrinhas se dobram como em uma pintura. Mas os transeuntes não acham graça. Pagam caro a passagem de cada dia. A alta carestia da vida. Mas é preciso viver por que o sangue pulsa. E as crianças pedem pão. E pedem circo. E pedem amor. Os homens querem respeito, querem ser chamados de senhor. As formigam tem fama de que muito trabalham. Carregam folhas. E ignoram a extinção das abelhas. Nos conventos existem freiras que não se casam. Os franciscanos fazem voto de pobreza. Enquanto outros preferem a realeza. Há quem ame os felinos. Há quem mostre os caninos. O mar é um lugar misterioso. É cheio de água. O humano é um ser muito peculiar. Toda hora enche o peito de ar. E eu tento memorizar quantas vezes o beija flor bate as asas quando está parado no ar. Essa vida é um sopro. É uma galinha que nasceu antes do ovo.

⁠Crianças de todos os sonhos. Alimento intergeracional. Terra mãe de peito generoso, acolhendo todas as criaturas em seu manto protetor. Lá vem a luz violeta, com suas frases encantadas, moldando o planeta, o desejo de todos os cometas. A história nos filetes dos troncos das árvores. Nossas impressões digitais. Reino das plantas. Reino dos animais. Terra sagrada, eu te reverencio, nos cantos urbanos, nos casebres do sertão. Cuidai de nós, dos olhos dos teus filhos, que te olham com Divino amor.

⁠Como um antigo museu, com seus achados e descobertas, assim também é minha linguagem. Palavras que desvelam pensamentos ocultos, em que palavra puxa palavra e dançam na busca de significados. As palavras são peixes dourados, escorregadios, habitantes da nevoa marítima. Questiono e eu mesma respondo, como o sol que nasce na serra. Eu sou uma pessoa curiosa e conheço os frutos de cada árvore. Sou simples e clara como um feixe de luz.Caminho estradas em que desconheço o seu fim. Apenas caminho, porque tenho pernas e desejo de descobrimento. Posso me aquecer ao sol e esquecer toda complexidade do meu ser. Hoje o dia está farto e caminho entre entre a paz e a malemolencia. Busco imagens traduzam meu estado de espírito. E seria algo fluido como a massa de um pão, que alimenta e perpétua a tradição. O pão que nutre o corpo é a história. Sou eu assim leve e densa, mas busco água profundas que me desconstruam e me mostrem outra fase de mim mesma. Mas o tempo passa suave e não vejo o caminhar das horas. Sou como um relógio, que gira e volta ao mesmo ponto. Mas transcendo é destruo o tempo na palma da minha mão. Posso assim viver o eterno que há em mim. Eu, dona de mim. Num tempo paralelo, em que só existem letras e palavras.

⁠Meu melhor remédio é a palavra. Através dela eu me liberto de pensamentos rígidos e encontro soluções que saem de meus dedos. A palavra é para mim uma flor delicada, cujo aroma energiza o ambiente e torna tudo possível. Aquela dor pesada que comprimia o meu peito é agora parte do passado. Sinto-me bem como um pássaro fluindo no ar. Observo a natureza e sua grandeza e me sinto grande, porque sou também natureza. E tudo transborda em mim, prosperidade, paz, energia. Tudo segue seu ciclo. Silenciosamente agradeço esse estado de espírito, que me transporta para o que há de melhor em mim. Percebi que não sinto mais tristeza. Sinto o coração aconchegado. E uma gratidão suave envolve meu universo. Evoco símbolos como árvores. E me vejo frondosa, proporcionando grande sombra que alivia o sol ardente. Sinto-me ave, porque voo em meu inconsciente e a serenidade é uma realidade palpável. Assim, posso escrever sem ferir as palavras, sem evocar sentimentos ardilosos. Tudo é paz em mim e a paz é uma força poderosa, que com delicadeza anuncia que tudo está bem. Estou viva e isso me basta. Não anseio e nem me desespero. Apenas sinto que a vida está completa e a vida em si basta. Sinto amor, porque é um sentimento. Mas não necessito do amor, se ele brota de mim mesma. Vou andando pela estrada é conhecido, mas novamente penso e reflito. Quão grande é o universo que piso. E se falo de paz, é porque a paz está em mim.

⁠Cai a noite e a noite é sempre um tempo que volta em meus versos. Cai uma noite densa e fria, refrescante. E acnoite hoje não me amedrontador. Acostumei-me com o seu jeito de estar no mundo. O coração está claro, sem grandes sobressaltos. E me despeço daquela dor antiga que me acompanhava como pertencente inerente do meu ser. Hoje sou contemplação e tenho as estrelas como companhia. Quando eu estou feliz eu não escrevo. Fica aquela impressão que vivo em estado de sofrimento. Mas hoje faz luz em meio peito e registro esse momento de serenidade, antes tão raro, mas hoje já uma presença constante. E agradeço, porque sei reconhecer. Cai a noite densa e sinto uma grande paz. Nada a pedir. Nada a ansiar. Somente sorver o momento presente, cada instante inerente, imanente, que sobre sobre o infinito. Sinto paz e a paz é por si só um poema.

⁠As palagras não se esgotam. Muitiplicam-se. E encontro solo fértil para plantar minhas insanidades lúcidas. Vagueio e minha escrita é pluma flutuando no ar. Todos os meus eu se encontram nesse instante. Não preciso buscar as palavras, elas brotam no misterioso caminho das ambiguidades. Posso falar do tempo, posso falar de amor. Nada se esgosta. Pelo contrário, tudo flui magicamente. Então escrevo porque tenho palavras na minha boca e emoção em meu ser. Eu que tanto amo vivo longe do amor em carne, porque meu amor é fluidez e não encontra sólido caminho de realização. Mas eu não me queixo. Deixo-me levar pelo dia como um carrossel. Vou girando como brincadeira de criança. A criença que nunca morreu em mim. Mas sei falar sério. E lanço filosofia metafísica transmutada de perguntas sem responta. Minhas palavras acompanham meus sentimentos. Se estou triste, meus versos escurecem. E a dor se transfigura como um sentimento universal. Mas hoje estou em paz, e posso fluir esse sentimento. Criar. Tirar de minhas entranhas palavras que desconhece e florecer um versos assim tão natural com o resplandecer de uma escrela. Hoje te amo. Amanhã já não sei mais. Se te amo no dia de hoje, desejo seu sorriso e seu peito aberto. Se não me corresponde, por uns instante entristes, mas logo me volto para o mistério de vida e trasnscendo o amor carnal em vagas palavras que alimento. Seu amor desperta em mim um alegria etéria, uma força magnética que me ergue. Mas se você já me esqueceu, nego-me a acreditar, se esse amor tão vivo vibra em mim. Escreverei a você mim poemas de amor, mesmo que talvez você não os leia. Então transmito para o universo o amor que é um sentimento compartilhado. O amor é sentimento puro, correoi o ódio em suas beiradas. Eu queria falar de vida metafísica, mas seu amor entrou em meu poema. Talvez nunca mais eu te veja, mas meu amor ficará como testemulho de algo belo que existiu. Admirido seu jeito sério, e sua seriedade me sorre e me enche de significado. Desejo ardente que não será realizado. Talvez o tempo amenize essa força com que te sinto. Você será lembrança. E eu continuarei a ser eternidade, se falo, e me ouçam. Para você guardei as melhores palavras. Mas você me responde através de enigmas. E eu queria sua pele aquecendo a minha. A vida é assim, podemos quer tudo que queremos, mas não podemos ter tudo que queremos. Então me resigno. Esse poema não era de amor. Você entrou por entre as frases e transformou o que pensei escrever. Mas sinto alívio se falo de você, porque o sinto e calo. A ninguém falo. Se você me encanta, encanta o mundo. Então te desejo inteiro cumprimindo suas obras de arte e de paz. Se um dia você me ler, sentirei grande satisfação. Ainda que haja grande distância de um beijo, que os lábios correm mundos diferentes. Você lerá e saberá que foi amado, gratuitamente amado. Difícil escrever poema de amor. Dá uma sensação de incompletide e banalidade. Eu escrevi sem rota. As palavras foram escritas quase que sozinha e agora colho ums declaração de amor. Mas esse amor, eu bem sei, nasce em mim e se esvai, na medida de sua incompletude. Agora acordarei serena e talvez não ame mais. E me entregarei ao momento presente, como um feixe de luz. Minha vida basta, é bem verdade. E se te amo é pelo prazer de divagar, mas o sentimento é honesto. Ame-me até o fim, que é o destino dos grandes amores. No final, o que restam são palavras. O amor perde o encanto e a mente questiona com pode ir por caminhos tão frágeis. O amanhã se demora. E prometo de intanste de agora te amar imensamente por hoje. Amanhã amarei o sol e a natureza. Entragarei-me a vida, que é muito mais ampla que o amor carnal. Mas por hoje eu te amo e desejo que você sinta aconchego em seu peito, sentimento único e que te transmito na humilde poltrona do meu quarto. Você para mim é a inspirição que me fez escrever essas palavras. Amanhã, talvez será nada. Sonhamos.

⁠Na superfície das palavras não se vislumbra águas profundas. Um oceano de mares desconhecidos. O subconsciente integralmente inalienável. Onde não cabem mentiras nem falseamentos. Em um modo extremo de alheamento. O corpo se movimenta para além dos comandos da mente. A mente ludibria. E pensa ser nós, quando na verdade é algo muito maior. Trago um sorriso aberto no fundo do peito. Lágrimas persistentes não tiram de minha alma a vontade de ser. Existir para além das aparências. E quando penso ser o fim, renasce mais um dia. E me alegro, porque a alegria é minha, está marcada nas palmas de minha mão. Então suspiro e vejo o remansear do rio que é a vida. E a vida se estende como um oceano profundo, com suas ondas suaves. Hoje é dia de ser dia. E o dia se faz como um milagre. Alguma ideia vaga de um passado distante se pinta no agora e uma nova pintura da vida se faz no rosto que brilha. Centelha divina. Somos como um campo e sua vasta plantação a perder de vista. Tão grande é a natureza e esses olhos que observam. Se te amo, é porque o amor mora em mim. E você é aquilo que transborda do ser iluminado. Faria juras de amor, quando te juro, juro a mim mesma. E a explicação é sempre uma forma serena de apresentar os fatos. Tudo aquilo que transborda em mim em te dou gratuitamente, sem esperar reciprocidade, porque nada perco se tudo é abundância em meu peito. Escrevo palavras aleatórias que se juntam buscando significado. Talvez não o encontre realmente, mas fala porque há palavras como peixes em um ria. Te olho e encontro encanto. O encanto está em mim ou está em ti? É uma sensação plena de simbolismo. E minha alma não se apequena se acho graça em seu sorriso. E acho graça em sua gravidade, como se a vida fosse séria de arder, quando na verdade é só um deixar estar do tempo que chamamos de agora. O presente, no instante exato em que fito seus olhos. É imensidão. E se demora em ampla contemplação. Isso me prazer alegria, a alegria que há tanto mora em mim. Se mesmo quando me sinto triste, eu escrevo. E se escrevo, é porque há esperança. A esperança de a vida ser cada vez mais longe tudo aquilo que sonhamos. E então observamos os frutos de nossas mãos e colhemos abundância de afeto e prosperidade de sentidos.

⁠Eu queria escrever um poema que falasse da vida, sua complexidade, mas eu queria falar mesmo de felicidade. Sim, hoje o meu dia foi feliz, encontrei meus familiares, amei e me senti amada. Dias assim a vida não precisa de sentido, precisa apenas ser sentida. Compartilhar. Ser importante para alguém. Sentir que minha vida importa e que minha ausência seria sentida. É mais do que ego. É um sentimento humano ao se relacionar e sentir que pertence a algo mais. Coração em paz. Sentimento de plenitude. Dá vontade de cantar, mas está tarde e para não incomodar os vizinhos, eu canto debaixo da coberta. É uma cena meio esdrúxula. Mas sinto vontade de cantar. Dizer ao universo que eu estou bem. Que meu dia foi bom. Sei que a vida não é retilínea, dias alegres e tristes se revezam. Mas hoje não quero pensar em tristeza. A tristeza hoje me parece uma velha corcunda, sempre reclamando da vida. Hoje a felicidade me encontrou e sinto que quero vive-la imensamente. Por isso me recuso a dormir. Não quero perder nenhum segundo desse sentimento. Então canto, canto. E o meu canto é uma reverência ao universo, diriam os ateus talvez, mas eu canto para Deus, ainda que músicas profanas. Em minha pequena jornada de fé, descobri Deus em meu coração. Não tenho religião, mas cada sofrimento superado eu agradeço humildemente a Deus, esse Deus ainda tão frágil em minha alma, mas a quem me entregou profundamente. Em um poema anterior eu pedi a Deus que me desse a sua paz. Hoje estou em paz. E sinto que Deus me ouviu.

Entre os dedos vagueiam pensamentos e silêncios.
O que a tecla registra se torna uma verdade.
São dados, são fatos.
Hoje a noite também está escura e densa,
Mas o coração está em paz.
Vida nossa que nos leva de um lado a outro.
Escrevo e minha escrita me escreve.
Não falarei de dor, esse sentimento
Que rouba momentos de alegria, de criatividade.
Estou em paz e a paz fala por si só.
É um sentimento silencioso,
Que transforma em calma tudo que a rodeia.
É preciso apreciar momentos assim.
Nunca se sabe o que o futuro reserva.
Estou em paz e escrevo.
Escrevo para registrar que a vida tem solução.
A mesma vida que nos faz arder também
Proporciona-nos momentos de completude,
Em que tudo vale a pena.
Poderia dizer em que tudo faz sentido.
Mas sentido evoca pensamentos filosóficos
Que extrapolam os meus objetivos.
Vim registrar a paz como uma pomba branca
Anunciando o fim de uma guerra.
Por que meu barco me leva
De um lugar ao outro assim sem explicação?
Porque saio de uma dor insuportável
E entro em um momento meditativo de serenidade?
Difícil entender.
Talvez o dia me levou a esse estado.
Dia tranquilo, sem sobressalto.
Presença de pessoas significativas.
Nós como seres sociais, ansiamos
Por trocas com nossos pares.
Trocas profundas, acolhedoras.
Feliz aquele que ama e é amado.
Digo em um sentido mais ampla.
Não apenas o amor carnal,
Mas sobretudo o amor fraternal.
Hoje eu estou em paz e escrever não doi.
É leve, como leve me sinto.
Sinto uma força que me impele a querer ajudar.
Como dizer a alguém que desconheço:
Vai ficar tudo bem.
Você não está sozinho.
Somos humanos compartilhando essa sociedade
E todos os sentimentos afloram.
Sinto vontade de pegar na mão do leitor e o levantar.
Dizer: Olha, temos o mundo pela frente
E cada passa a mais é um passo em frente.
A dor que já senti um dia,
Eu daria o mundo para que ninguém mais sentisse.
Então escrevo que a vida é vida, mas a vida é boa.
A vida é complexa.
Dores e alegrias se misturam no espaço.
E só por hoje eu gostaria de te transmitir a minha paz.
Ver a calma tomando espaço em seu peito.
Olhar para trás e pensar: sim, eu fui muito feliz.
Dores existiram, mas eu fui feliz.
E agora o presente se monstra
Como uma oportunidade de continuar a caminhada,
Até que quando velhinho ou velhinha,
Você olhe para trás e sinta que muitas vezes doeu,
Mas foi uma linda história.
Hoje eu estou em paz
E posso transmitir essa paz para o universo.
Que assim seja.

⁠Três vezes questionei. Três vezes tive mais perguntas. Três vezes cheguei a conclusões diferentes. Afinal, três é só um número. E não um significado. Poderia passar três séculos pensando. E passo, quando percebo que o tempo é infinito. E somos imortais em nossa busca por respostas. Posso dizer verdades questionáveis. E mentiras verossímeis. Posso dizer: É Deus. Mas isso me diz pouco. Quando penso que o divino é imensurável, reconho-me a minha condição humana. Se sou limitada, como chegar ao alto se sou apenas pó do pó que serei. Mas isso também diz pouco, se posso vislumbrar uma realidade inatingível. Só por hoje viverei um dia.

⁠O negrume da noite traz uma dor ácida que aperta o peito e acelera o coração. A vida em eterna corda bamba. Quisera eu ter a vida em linha reta. Mas os astros me quiseram assim, pulsando freneticamente, buscando respostas, fazendo perguntas. Dói e a dor é uma velha companhia minha. Chega suave e lentamente me tira o ar da boca. Busco no ar a vida que não encontro. A dor, como areia movediça, suga-me para as entranhas da terra. E sozinha aguento o peso que assola o peito e me faz ser resistência nesse solo em que a mente não oculta a verdade. Dor velha, antiga, que me visita nas noites escuras. Minha cova eu cavo mais tarde. Hoje permanecerei viva e ao acordar talvez sinta alegria. A esperança que nasce do sofrimento.

Minha escrita é sobre como traduzir com palavras o silêncio. Como traduzir um instante vago, pleno de lembranças e memórias. Aqui nesse espaço eu falo o que a realidade me apresenta. Falo sobre a dor, mas falo também em esperança. Esperança de dias melhores, de saúde e afetos. Meus versos são livres e seguem os meus pensamentos. Sou honesta. Escrevo o que é real para mim. Escreve o que eu sinto, sem tentar mascarar o mundo que me cerca. Falo sobre saúde mental de forma lírica. Falo da força humana para continuar viva e pulsante. Todos os dias a vida me apresenta desafios de sofrimento, mas eu respondo com palavras e versos. É assim que eu proteja das falácias da mente.

⁠No ciclo da vida, novamente é noite e me proponho a escrever sobre a escuridão, interna e externa. É na noite escura que podemos ver as estrelas. E é na escuridão interna que percebemos que somos mais fortes do que pensamos. Da dor nascem flores. Nascem saídas e belezas. Apenas quem cruzou a dor pode apreciar as pequenas delicadezas. Selecionar o que vale a pena. Conviver com a dor, para supera-la. E ser luz celestial para aqueles que não sabem apreciar o belo no mundo. A dor me mostrou que sou mais forte do que eu pensava. A dor fez com que eu me amasse mais. Somos poeira cósmica, na imensidão do universo. Somos também estrelas que cintilam. Hoje o dia foi sereno, ocupado por pequenos afazeres. A alma esteve calma. Lembro-me do passado, quando eu tive mais energia. Agora amadureci e me aproximo da velhice. Duas etapas, a juventude que passou e a idade que se apresenta. Se eu pudesse voltar no tempo, eu cuidaria melhor dessa estrelinha que sou. Teria me amado mais e não teria permitido tanto desrespeito. Daria e receberia o amor que eu mereço. Teria autocompaixao. Aquela menina bonita, sincera e determinada. Mas o tempo não volta. Hoje consigo ver com mais clareza meus erros e acertos. Agora na maturidade meu coração é mais calmo. Minhas emoções estão mais estabilizadas. E percebo que minha estrela nunca se acabou. Estava apenas piscando alta e resplandecente. A estrela que sempre fui.

⁠Paira em meus dedos de pássaros, viagens longínquas. Em minha mente de águia, prevejo o futuro. O futuro que já entardeceu enquanto estamos ainda em plena manhã. Que saudade eu sinto do futuro. Tudo novo de novo. Posso então me entregar ao instante, presente inerente. E me libertar das dores que me oprimem. A medicina divina me libertará de cada passo doente. Com a saúde restaurada, viajarei por todo o mundo. E tudo será novo para mim. O presente requer paciência e a tão falada resiliência. Quero ser livre. Quero te asas. Quero abandonar o ninho e voar como uma gaivota. Tanto quero e tanto será. É só esperar.

⁠Como uma pluma, meus sentimentos flutuam no ar assim como uma folha levada de um lado a outro. A dor se dissipa lentamente e já não reconheço palavras lançadas no ar. Vida minha, que tanto me dá e tanto me tira, tira dos meus pensamentos as perguntas e me deixa flutuar. Eu quero a leveza da carícia de um gato. Eu quero o canto dos pássaros. Estou cansada da minha dor, desse peso inútil. Estou cansada do meu peito carregado. Deus meu, tire-me o peso de viver. Tira essa angústia inútil que desfaz os meus mais belos pensamentos. Eu quero a paz de uma coruja, silenciosa, com seus grandes olhos. Dai-me a graça de sentir o mundo como uma árvore que brota, anunciando que mais um fruto promete fartura. Queria a paz de tudo que é belo no mundo. Senhor, dai-me sua paz.

⁠Às vezes eu não sei até quando eu vou aguentar. Minha cabeça me tortura vertiginosamente. Meu coração parece ter mil toneladas o comprensando. Esse vazio que ressoa como uma música hipnotizando o ambiente. Música que não é mais que ruído. Eu estou me rasgando de dor. E ninguém se importa. Lágrimas negras escorrem no meu rosto e as pessoas fazem anedota. Eu estou doente, profundamente doente e não há ouvidos que me ouçam. Não há mãos que apertem a minha. Não há palavras. Não há ninguém. Apenas eu sozinha à noite me contorcendo de dor. Faço mil orações e me pergunto onde está Deus que parece não me ouvir. Transtorno bipolar. Duas palavras e um trator atropelando minha alma. De onde virá a ajuda. Estão todos envolvidos com seus lares. E meu lar, que é minha alma transborda como em uma enchente. Por que dar um fardo tão pesado para mim que sou tão frágil. Deus meu, que mora nas estrelas, abrande essa dor carnal. Tantas vezes eu tentei partir, mas continuo aqui como rocha. Eu sou frágil na superfície, mas sei quantas noites escuras eu superei. Peço um fôlego a mais. As vezes me pergunto porque sou tão resistente. Poderia partir leve como uma ave que some no céu. Partir como um peixe que se esconde em oceanos profundos. Sinto dor. Uma tristeza asfixiante. Mas só por hoje eu não vou partir. Beberei um copo d'água e dormirei. Em meio a meus pesadelos eu vou me contorcer. Ao acordar não vou querer me levantar. Mas levantarei, tomarei um café e pensarei que sobrevivi, sem nenhuma empatia alheia. Eu me olharei no espelho e pensarei em esquecer os tolos e os insensíveis. Eu resistirei e dessa terra só parto quando meu tempo acabar. Eu sou rocha, pedra de ribeirão. Eu suporto a dor, porque em mim mora um flor delicada, prestes a desabrochar.