Coleção pessoal de MIssias
As ilusões de sua vida
Sangrada pelas trilhas nascidas
Entre o mar de solidão
e a praia de pensamentos
Corroe a alma e o coração..
Tronco de Solidariedade
Da pedra bruta ao bloco bem talhado,
Erguemos templos de amor, de lei e de verdade.
Mas no mais puro rito, no ato alado,
Nasce a essência: o Tronco da Solidariedade.
Não é só o metal, o que se deposita,
É um gesto mudo, de alma rara
Na mão que acredita,
Uma estendida e a outra ampara.
O tronco que gira, na penumbra branda,
Não busca aplausos, nem vaidade vã,
Mas o sustento a quem mais demanda,
O alívio a quem geme, ao cair da manhã.
É a viúva em luto,
O órfão sem norte,
O irmão que tropeça,
O fardo que oprime
Neste ato que se espressa
É a chance de vida, de sorte, em sorte,
O preceito que a cada um exprime.
Que a mão que recebe, ao abrir o obstáculo,
Não veja só o ouro, a moeda que cai,
No ato que faz sem báculo,
Do amor que une, que nunca retrai.
Mãos
Que lava
Que arruma
Que apruma
Que lava
Que passa
Que toma na taça
Que lava
Que passa
Que segura a taça
Que lava
Que cura
Que faz bravura
Que lava a outra
Que passa despercebida
Que é atrevida
Que faz outra vida
Que lava a borda
Que pinta e borda
Que faz um ninho
E quer carinho
Que tricota
Que faz chacota
Que cozinha
Que rebenta a linha
Que limpa a cozinha
Que adormece
Que coça o pé
Que colhe o fruto do pé
Que apaga a chama
Que arruma a cama
Que não faz drama
E cobre quem ama
Que limpa o olho
Que olha pra trás
Que traz a lembrança
Daquilo que faz.
Até o final
Um destino certo e sombrio
Medo do desconhecido
Corroído pelo ciclo esquecido
A alma e o coração vazio
Os olhos que pouco acompanha
Menos impulsivo estou
Se a idade me preocupa
Feliz pelo que passou
Se devagar ainda Caminho
Mais ou menos
Merecido
Quem ira dizer o que farei
Viajo pelo abstraido
Tento fugir do transpasso
Ainda o que me resta não sei..
Onde
Tenho contado com muita sorte
Com o tempo aprendi
Traçar na pedra o necessário corte
Como fez Miquelangelo na estátua de Davi
Muitas pancadas foi dada
Segurando em outra mão
O cinzel que me ajudava
Assim seguia a construção
Necessário manter o plumo
A parede no mesmo rumo
Uma luz sempre me guiava
Hoje vejo essa escultura
Que não falta nem moldura
Mas onde que será pendurada.
A Pedra Bruta
Vindo das trevas mortais
Despojando seus metais,
Em que todo profano nasce e precisa ser saciado,
Esta pedra e disforme e aparentemente inerte,
Buscando sempre a Luz
Onde ela se converte ;
Por três golpes se fez a luz, como deste modo lhe foi dada;
Modificando o áspero mineral
como prelúdio de uma obra adiantada .
Aprendendo os ensinamentos da Iniciação,
Absorvendo conhecimentos de todos os irmãos,
É depois de purificada,
Ganha e esplendor de uma
de uma pedra negra que hora foi calcinada;
Um fulgor de alvura e pureza,
Jamais visto na natureza,
Pronto para conhecer simbolos devagar com tolerância e calma,
Renascendo a partir de agora um irmão com nova alma.
Missias.’.
Veneno, placebo ou remedio;
Se desalenta ou exorta,
Tudo pouco importa,
Se os versos são de amor
ou contemplação,
Todos Alimentam o coração,
Até curar o seu tédio
Banco do meu Jardim
Num banco ao lado de um toco,
Que um dia foi jatobá,
Esta era de muita idade,
Dela ficou saudade,
acabou -se em uma tempestade,
Deu lugar a um lindo e florido manacá
Sentados naquela
Bancada
Em noites de lua cheia,
ofuscada pela nuvem branda que a margeia
Quase a gente não a via,
Lá tinha muita magia
Eu e minha amada,
Para que falar de vida alheia.
Mãe
Um choro no ventre surgia
Buscando a primeira carência
Na busca pela sobrevivência
No âmago ainda sorria
Um segundo choro então veio
Um grito de dor enlouquecia
Alimentado com o leite do seio
O sustento eu agradecia
Com seu carinho e doçura
Ensinou-me a educação
Controlei minha loucura
Aliviei o coração
Um castigo por meu engano
Fui muito orientado
Mudei meu cotidiano
Fez-me um afortunado
Seu esforço me incentivava
Por onde quer que andava
Sua ira me causava dor
Percorri vários caminhos
Machuquei em vários espinhos
Criei um Imo de Amor
Obrigado minha mãe
Remédio da vida
Vencer a relva da mata
Carregue o triunfo na manga
Ambular na corda bamba
Procure ser um acrobata
Matar a saudade do beijo
E curar a sua sede
Descanse numa rede
Espere passar o desejo
Lapidar a pedra bruta
Persistência, força e luta
Arroste na escuridão
Vasculhe o remédio da vida
Abolir a dor da ferida
Deixada no coração!
Ademir Missias jan/21
Botina amarela
Na fazenda espinilho
Num lindo salpicado rosilho
Como regalo de criança
Guardarei essa linda lembrança
Uma boina de gaiteiro
Com seis anos muito faceiro
Um Galdério bem pilchado
Naquele corcel sem alguém do meu lado
Sorriso de jacaré esparramado
Um piá mais que arretado
Ganhei essa prenda singela
Trotando com estilo num embalo
Controlando o pomposo cavalo
Uma vistosa botina amarela
Explicação
Ó linda que nasce da terra que sai das ranhuras com tanta bravura do pé desta serra,
Pedi tanto para não perder sua formosura, teu cheiro, sua textura.
Pedi para juntar-se uma a uma formando um montão, caminhar mais um pouco formando turbilhão
Pedi para guanandi, sanca d'água, imbaúba, pinhão do brejo, agarrar-te aos teus pés, para dar-te firmeza até chegar ao seu destino
Ó bebida amarga que provo todo dia
Em dias de calor e em noites frias
Quero uma explicação !
Porque tornaste tão amarga ?Levando nossas casas, meu arreio, meu cavalo
Minha tralha de montaria
Destruiu tanta beleza
Carregou nossa esperança
Nossos sonhos de criança
Ainda estamos de pé
Não levará jamais a nossa FÉ.
Leve o que no caminho achar
E não se esqueça do abraço, mas deixe minhas lágrimas no mar.
Tragédia
Que barulho assustador
Que grande explosão
Que fumaça que tragédia,
Grande destruição,
Quantas mortes, quanta dor
Cidade fantasma
Terra arrasada
Casas derrubadas
E até edifícios
Um terremoto, tremor de terra,
Fogos de artifício;
Vidas que lá se encerram
Coisa de demonio;
Nitrato de amônio,
Tragédia anunciada,
Estava ali armazenada.
Amor Verdadeiro
Um amor de verdade
Não tem segredo nem distância
Tem carinho em abundância
Não tem vaidade !
Um amor sem vaidade
Não tem tristeza e amargura
Tem delicadeza e doçura
É muita sinceridade
Um amor pra ser verdadeiro
Tem que ser gentil cavalheiro
É ter solidariedade
O amor gentil e cavalheiro
Não necessita de muito dinheiro
Pra durar uma eternidade.
Missias
Quero arrancar as grades da minha janela,
Tocar as flores! sentir a brisa singela,
Dormir com a porta aberta
nas noites de verão!
Quero a honestidade meu irmão!
Ainda que seja rara
Quero a vergonha na cara,
Mas pra dizer a verdade,
Quero a solidariedade
Quero a esperanca,
a alegria e confiança!
Onde exista amor a fraternidade.
Soneto Vida
O grande mistério da vida
Com toda a docilidade
Uma conduta mais atrevida
Nos oferece a crueldade;
A criança alegria e liberdade,
Juventude um encanto e doçura,
Nos brinda com amargura
A sua tão fragilidade,
Ensina - nos a ser forte,
Entendemos que não é sorte,
A felicidade com trabalho merecido;
Dores aprendemos a suportar.
A velhice o amargo esperar,
Num canto talvez esquecido.
Set/01/10
Missias
Sementes levadas pelos pássaros, não caem a sombra de suas árvores mas distantes de onde esperavam ser semeadas, que germinam e crescem.
Sala de reflexão
Uma vela reinando como uma luz,
Mesa, caneta,
papel tinta e pena,
Uns escritos que rouba a cena,
Retira-te! se curiosidade te conduz ! ;
Entraremos no teu coração!
Clama-te pelo ingresso,
Seus defeitos serão descoberto
Se fores capaz de dissimulação,
Conte os teus segredos l
Se tua alma sentiu medo,
Desista e vá embora!
Senão, serás purificado
Sem abismo com luz e acrisolado,
Renascerás a partir de agora.
Ó linda que brota da terra
Que sai das ranhuras,
Com muita bravura,
Do pé desta Serra,
Bem precioso, sustenta-te primeiro!
Não perca sua formosura,
E tampouco o teu cheiro,, Mantenha o seu cristalino,
Até chegar ao seu destino,
Junte-se uma a uma e serás um montão,
Caminha-te mais um pouco e formarás um turbilhão,
Encontrarás muita beleza
Mas também muita tristeza;
Ó Sanca D'água protejei-a,
Segura-a com teus pés!
Mantenha-se firme, junte se a
Guanandi, Embaúva,
Mulungu, Pinha do Brejo,
Despeça -te da tua amiga,
Que viajará muito até outra saida,
Seu caminho será longo, verás pedras e penhascos,
Tempestades, e até dejetos,
Não desista da sua missão
Por todo o seu trajeto.
E quando lá chegar
Não esqueça que mandei um abraço pro mar!
Missias.
