Coleção pessoal de meustextos2

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Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesma seja sempre obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a vontade de paz e o desejo de viver.

Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Tô me aproximando de tudo que me faz completo, me faz feliz e que me quer bem. Tô aproveitando tudo de bom que essa nossa vida tem. Tô me dedicando de verdade pra agradar um outro alguém. Tô trazendo pra perto de mim quem eu gosto e quem gosta de mim também. Ultimamente eu só tô querendo ver o ‘bom’ que todo mundo tem. Relaxa, respira, se irritar é bom pra quem? Supera, suporta, entenda: isento de problemas eu não conheço ninguém. Queira viver, viver melhor, viver sorrindo e até os cem. Tô feliz, tô despreocupado, com a vida eu tô de bem.

Apronto agora os meus pés na estrada. Ponho-me a caminhar sob sol e vento. Eles secam as lágrimas, vou ali ser feliz e não volto.

Mas a lição que eu aprendi no sábado é que não vale a pena consertar um carro pela décima vez. É mais fácil comprar um novo e fim de papo. Afinal, eu bem que tentei consertar meu relacionamento com todas essas pessoas e só ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas é viver mal assombrado.

Eu não espero que você seja o grande amor da minha vida, parei de acreditar nisso… Não quero que você me faça chorar. Não quero que você seja um motivo ruim na minha vida. Você é motivo de sorrisos, razão pra eu acordar num dia de chuva e tomar banho e mudar de roupa porque eu sei que você vai passar aqui… Não quero te odiar. Não quero falar mal de você pros outros. Pras minhas amigas. Quero falar mal de você como quem ama. Pois é, ele nunca lembra de desligar o celular antes de dormir e sempre alguém do trabalho liga. Sabe, eu quero dizer isso. Que o máximo de irritação que você me provoca é me acordar de manhã cedo falando bobagens que parecem ser importantes no celular. Não quero que você me largue. Não quero te largar. Não quero ter motivos pra ir embora, pra te deixar falando sozinho, pra bater o telefone na sua cara. E eu não tenho medo que isso aconteça (eu nunca tenho), eu fiz isso com todos os outros. É só que dessa vez eu queria muito que fosse diferente. Dessa vez, com você, eu queria que desse certo. Que eu não te largasse no altar. Que eu não te visse com outra. Que eu não tivesse raiva. Que você não passasse a comer de boca aberta. Que você entendesse o meu problema com chãos de banheiro molhados pra sempre. Que você gostasse e cuidasse de mim como disse ontem à noite que cuidará. Eu quero que dê certo, não estraga, por favor. Não estraga, não estraga e não estraga. Posso pôr um post-it na sua carteira? Mesmo que a gente não fique junto pra sempre. Mesmo que acabe semana que vem. Nunca destrua o meu carinho por você. Nunca esfrie o calorzinho que aparece dentro de mim quando você liga, sorri ou aparece… Mesmo que você apareça na porta de outras mulheres depois de me deixar. Me deixe um dia, se quiser. Mas me deixe te amando. É só o que eu peço.

Eu odeio não ser correspondida. No abraço, quando eu dou “Bom dia” pra alguém que finge não ter ouvido, quando eu amo, me entrego e não recebo nada ou quase isso. Não suporto e não sei lidar com a falta de reciprocidade. Quando eu considero e não sou considerada, respeito sozinha, quando eu vou falar com alguém, morta de saudade e sou ignorada ou tratada friamente. O que me deixa louca, inconformada, com raiva de mim, não é o pouco ou as coisas ruins que eu recebo em troca. É o desperdício de tudo que eu dou de bom, assim, de bandeja, pro cafajeste convicto, pro trocador mal humorado, pra tanta gente rasa e ingrata. E nada desfaz esse nó na garganta, só porque eu podia ter feito diferente, empatado o jogo e transformado tudo no clássico “chumbo trocado não dói”. Porque é isso e me alivia demais essa coisa de pagar na mesma moeda, receber seis e dar meia dúzia ou menos, só pra não arriscar o prejuízo. Eu volto pra casa com a sensação doce de dever cumprido, justiça. Como se eu tivesse gritado pro mundo “Meu bem, comigo não! Presta atenção.” Mas quando eu vejo, quase sempre e meio que automaticamente, tô dando “Bom dia” pra outro cobrador mal humorado e recomeça o ciclo, como uma bola de neve. Porque, mesmo que sem querer, por impulso, eu sou superior a eles e a isso. De verdade, do jeito mais puro que se pode ser superior, naturalmente, nada planejado. E deixo minhas esmolas de coisas boas por aí, porque não me faz falta, eu tenho de sobra e também tenho a certeza de que eles precisam bem mais do que eu. Podem ficar!

Sou tudo que os meus vinte e poucos anos me trouxeram. Sou uma coleção de erros, que se aglomeraram e construíram minha essência, minhas certezas, ideologias e caráter. Já fui a prepotência de pensar que sei tudo da vida, hoje eu sou a senhora só da minha razão. Aprendi, aos trancos, a importância da flexibilidade, porque a verdade é só um ponto de vista.

Aprendi também a conjugar o verbo ceder, principalmente na primeira pessoa do singular e confesso que esse é um exercício diário. A cada dia aprendo mais e sei menos. Sempre que me aprofundo demais nas coisas, penso automaticamente na frase “a ignorância é uma bênção”. É mesmo. De longe tudo é tão mais bonito e nada dói. Mas sem a dor, talvez eu ainda fosse a garotinha de laço cor de rosa, no pátio do intervalo, tendo certeza que uma gota é o oceano. Eu já teria sido engolida pela imensidão que é viver.

Há pouco tempo atrás eu tava planejando a minha vida adulta e, de repente, já não posso mais transferir minhas responsabilidades e culpas pra amanhã. E foi muito difícil conseguir me posicionar pro mundo. Pra todo mundo tão viciado em apontar o dedo, ignorar os acertos e te crucificar pelo resto da vida pelos erros, mesmo se forem pequenos.

Já me apaixonei por caras desinteressantes e jurei que eram os amores da minha vida. Já acreditei em promessas absurdas, em absolutamente tudo que me era dito, porque nunca entendi a necessidade de mentir. Mas as pessoas precisam e é isso, não tem porquê. Fiquei desacreditada. Foi complicado aprender a dizer “Não” e pareceu impossível prolongar a sentença: “Não, assim eu não quero. Isso não me faz bem, então não vou deixar que me faça mal. Tchau.” Depois ir embora ficou tão fácil, que a dificuldade era ficar. Virei impermanente.

Tentei segurar as mãos de pessoas que tentavam segurar o mundo, fiquei sem forças, odiei a liberdade. De vodka em vodka, vazio em vazio, me vi abraçando o mundo também. Virei libertina. Com o mesmo discurso de desapego e vida breve que eu sempre detestei, mas começou a fazer muito sentido e me parecia muito justo levando em conta o gosto de cada lágrima que eu já senti. Voar não doía, viciei.

E no céu, entre as nuvens, é muito fácil confundir valores, embaralhar as prioridades e se perder. Eu também quase me perdi. Amigo de balada não é amigo. Meus amigos de verdade são parte de mim e merecem o topo das minhas prioridades. Amores não são necessariamente pra sempre e quando acaba, não quer dizer que não deu certo ou que não foi amor. Histórias inesquecíveis e lindas podem ser curtas. Minha família é o meu chão, o bem mais precioso que eu tenho na vida. Não vale a pena se fechar pro mundo, porque as coisas boas são tão maiores que as ruins.

Por fim, tô aprendendo que desapego é uma dádiva, de fato. Faz milagres, mas exige uma certa precaução e medida. A gente tende a querer desapegar de Deus e o mundo, quando deveria desapegar só do que faz mal. Felicidade não é uma utopia ou um amanhã que sempre fica pra amanhã. Felicidade é agora, é cada minuto com quem quer meu bem, quem tá do meu lado. Felicidade é ser quem eu sou, quem eu me transformei, em meio à tanta esquina errada e gente querendo me puxar pra trás.

Hoje eu sou livre. E não tô me referindo á status de relacionamento não. Sou livre porque me despi dos meus medos, das minhas culpas e armaduras. Porque me desculpei por não ser perfeita e parei de me cobrar isso. Sou livre pra escolher meu destino, mudar de opinião e me reinventar sempre que achar necessário. Sou livre e aceito as minhas consequências, porque aprendi a ter e viver meus vinte e poucos anos.

Saber sofrer é um dom que a gente adquire quando alcança um determinado nível de amadurecimento. Saber sofrer é lindo! Eu admiro muito quem admite que não, não tá nada bem, mas vai passar, deixa estar. Sem nenhum tipo de apelação na timeline. Bato palmas pra quem não pinta sua dor de cor-de-rosa e grita, repetidamente, pro mundo todo que tá feliz como nunca esteve em toda a vida. Mentira! Todo mundo vê e sente pena da lágrima pesada que você não deixa cair, enquanto conta vantagens de baladas vazias. São ridículas as fotos divertidas, com legendas provocantes, porque todo mundo tem certeza que a alegria passou longe dali. Todas as mulheres das suas redes sociais especulam sobre seu momento deprê no banheiro da boate e elas acertam, não é? É um papel patético, trash. E eu tenho plena consciência que todos nós nos prestamos a isso, alguma vez na vida. Mas tem gente que não cresce. Tem gente que não aprende a se respeitar. Respeitar seu próprio tempo, seu próprio sentimento, vontades, seu processo de luto. Gente que vive amargurada, porque não sabe deixar passar. Deixar o nó desatar. Moça, a gente sabe que você é maravilhosa, que tudo vai ficar bem e você vai viver coisas muito melhores. Mas a gente também sabe que chorar é a única coisa que te dá algum tipo de alívio, por enquanto. Seja numa festa maravilhosa ou debaixo do cobertor. Então se preocupa menos em provar alguma coisa pro mundo e se concentra em esgotar a dor. Vê se não se ridiculariza, nem banaliza o fim do amor.

A história começa em 1980, ano em que nasce um menino de olhos verdes e - meses depois, em outro extremo do estado - uma menina de pele clara. Mais de vinte e sete anos depois, o encontro.
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Ele e sua rinite se mudaram para a capital aos dezoito anos, sozinhos. Viveram e se viraram bem, obrigada, sozinhos. Ele era um apaixonado por propaganda, música, guitarra, contos eróticos, violão, blues, dias com muito sol, vinho, café com três colheres de açúcar, all star, livros, festas, pudim, cinema, amigos. Teve apenas um namoro sério - quando era adolescente -, aqueles de levar a pessoa em casa e apresentar para a família, almoçar aos sábados e conviver com os pais. Gostou de algumas pessoas, mas nunca se envolveu com ninguém em níveis mais profundos. Talvez porque as pessoas logo ficassem desinteressantes, talvez porque ele bloqueasse o próprio interesse. O certo é que ele não queria saber o motivo; tudo muda um dia, alguém disse. Um dia ele começou a ficar cansado de beijar muitas bocas, interagir com muitos corpos e não possuir nada, nada, nada além disso. Uma ou muitas noites, uma ou muitas mulheres, nenhum coração com a mão esticada, presa, grudada.
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Ela e sua rinite se mudaram para a capital aos seis anos, com a família. Viveram no colinho de mamãe e bem, obrigada. Ela era apaixonada por versos, letras, frases, Caio Fernando Abreu, tintas, cachorros, frio, bergamota, dias com muito sol, vinho, café com seis gotas de adoçante, all star, livros, chocolate, cinema, amigos, gente esquisita. Nunca teve aquele tipo de relacionamento considerado de verdade, aqueles de levar a pessoa em casa e apresentar para a família, almoçar aos sábados e conviver com os pais. Quando era adolescente gostava a cada hora de um moçoilo, se apegava e desapegava com uma facilidade tremenda. Até gostou de algumas pessoas, mas nunca se envolveu com ninguém em níveis mais profundos. Talvez porque, por pura proteção, se envolvesse sempre com o mesmo tipo de homem: complicado. Comprometidos, psicopatas, com oito filhos, cheios de cacoetes, com risadas de hiena manca, enrolados, divorciados, cafajestes em último grau, cafajestes em tratamento, cafajestes na condicional, cafajestes no corredor da morte, cafajestes sem solução, isso sem contar os preciso-de-uma-mãe-pra-tomar-conta-de-mim, os por-favor-vamos-fazer-terapia-todos-os-dias-sou-um-maluco-carente-cheio-de-problemas e os só-tô-sorrindo-pra-você-porque-quero-te-comer-gatinha. Um dia ela começou a ficar cansada de gostar de forma errada, de gostarem dela de uma forma não desejada. Então ela desistiu, pelo menos até aquele domingo à noite.
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Há quem chame de coincidência, acaso, destino; há quem diga que certas coisas estão escritas, que o que tem que acontecer, querendo ou não, acontece. Prefiro dizer que, não importa se foi um motivo de força maior, superior, divina, se foi uma mãozinha de Deus, Buda, Alá meu bom Alá ou um empurrão das estrelas, cometas, alienígenas, gnomos, fadas, anjos, o que importa é que o encontro aconteceu. Não um encontro de olhos, mãos, bocas, braços, mas um encontro de corações cansados. De procurar sem achar, de achar só o que era descartavelmente vulgar.
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Existia também o medo. Medo de se jogar de precipícios, o amor é renúncia. É preciso dar um tchau para a vida antiga, reciclar emoções, quem sabe rasgar velhos padrões de comportamento e pensamento. Medo de ser bom, pois somos burros, temos medo de fazer dar certo, de riscar a palavra sofrimento, desencantamento, desilusão do nosso dicionário sentimental. Medo de não ser quem o outro quer que sejamos, pois o mundo, meu amigo, é feito de máscaras, imagens, maquiagens, escovas, chapinhas e sou-bonita-assim-quando-acordo-que-nem-as-atrizes-da-novela-da-Globo. Medo de amar, pois o amor é uma incógnita, é preciso que ele entre e se instale para que você realmente perceba e sinta a presença dele. Medo de que tudo não passe de uma grande mentira, pois o mundo hoje em dia é repleto de gente enganadora, cínica e sem vergonha na alma.
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A menina de pele branca se transformou em uma mulher sardenta, que teve todos os seus medos arremessados pela janela pelo menino de olhos verdes, que se transformou em um barbudo de cílios compridos e olhar cheio de sorrisos e pureza. Uma pureza de criança, uma sinceridade que ultrapassa a barreira da mesmice e do tenho-medo-de-dizer.
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Faz algumas horas que meus olhos se encheram de lágrimas, não aquela lágrima amarga, mas uma lágrima diferente, quente, feliz. Li o texto lindo que você me escreveu, no mínimo, vinte e três vezes. Meu nariz ficou vermelho e, você sabe, chorei na quietude solitária, porém adocicada pelo calor que o que nós temos provoca lá dentro do coração. Não aquele calor passageiro, mas o calor que é silenciosamente acolhedor. Já que a data permite a pieguice excessiva, farei bom uso dela: há exatos oitenta e um dias eu tive a sorte de te encontrar - e, de alguma forma, me parabenizo por isso. Se o medo tivesse sido mais forte do que eu talvez nós não estivéssemos aqui, agora, juntos, unidos, felizes, achados, encontrados e perdidos no meio de um sentimento que, até então, eu desconhecia. E, que bom, eu fui valente. E, que bom, a tua valentia deu um chega pra lá nos pseudoreceios que foram surgindo e desaparecendo pelo meio do caminho. E, que bom, te amar faz com que você se ame mais. E, que bom, o teu amor faz com que eu me ame mais. Há quem diga que no-começo-é-tudo-lindo-assim, mas isso não importa: quem sabe da gente é a gente. E eu duvido que algum dia deixe de ser lindo, pois a nossa criatividade ultrapassa a barreira da beleza do início - seja lá o que isso queira dizer, ainda assim, eu digo que duvido.
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Oitenta e uma vidas. Até que nada nos separe.
Feliz dia dos namorados.

ORGULHO MATA

Um amigo acaba de morrer em mim
Foi morrendo assim, devagarzinho
feito vento meliante que espreita madrugada,
quando percebi, já não respirava mais.

Não tinha percebido que a amizade estava doente,
e quando a amizade fica doente,
se você não tomar semancol, humildol ou desculpol,
o vírus da mágoa se alastra pelo corpo todo.

A mágoa é como lepra, primeiro apodrece a palavra,
o brilho nos olhos e depois o respeito,
é quando você dia olá querendo dizer adeus.

O amigo quando fina não vai para o céu,
fica vagando feito alma penada
no inferno da lembrança.

O finado amigo
é um espírito que fala através de outras pessoas,
e ainda que ele grite, você já não escuta mais.
Um amigo falece por vários motivos,
desde falta de açúcar nos olhos e
a fraqueza no abraço.
Mas o pior de tudo é o enfarte na admiração.
A admiração pelo amigo é o sangue que bombeia a amizade.

Sem esses glóbulos brancos, negros e amarelos
o amor acaba. E se você não ama teu amigo... jaz.
Amigo a gente não divide, se ele é menos a gente multiplica,
mas quando ele morre a gente já nem conta mais.
O amigo quando cessa
é o como se o passado cometesse suicídio
com um tiro na saudade, ou uma corda pendurada na lembrança.
Isso quando você mesmo não o mata,
atirando na testa um desprezo de pedregulho.
Quando a amizade começa a tossir... É bom medir a pressão.

Meu amigo está morto,
na autópsia consta que foi envenenamento: cianureto de orgulho.
O Funeral foi agora pouco, sem flores, sem lágrimas, no meu coração.
O enterro segue sem alarde em respeito aos familiares.

SERGIO VAZ

Eu sou tarada por poá branco e preto. Fundo preto, bolinhas brancas. Cada bolinha é um elemento, um tempero, uma parte do conjunto, uma peça, um passo, uma evolução, um aprendizado. Cada bolinha é um símbolo. Cada símbolo é uma conquista. Cada conquista é suada, batalhada. Porque o amor é não querer desistir, pelo contrário, é resistir, não arredar o pé, querer ficar, querer tentar. O amor é uma eterna tentativa. É a busca por mais uma bolinha. É querer preencher os espaços, o vazio, o fundo de uma só cor. O amor é poá. E a gente completa ele do jeito que quiser.

Para mim, o amor é poá. Tenho certeza que você sabe o que é poá. Escolha uma cor. Lilás, pode ser? Então, o fundo é lilás e as bolinhas são brancas. Poá, lilás e branco. Que bonito, que delicado. O amor é o fundo, o lilás. Cada bolinha é uma palavra: convivência, companheirismo, afeto, delicadeza, respeito, paciência, admiração, carinho, tesão, intimidade, amizade, lealdade, sinceridade, fidelidade, e por aí vai. Cada um tem o seu amor, sua forma de amar, seu amor poá.

É doentio ver que algumas pessoas criam todo um mundinho, acreditam nele e mentem descaradamente para os outros. Mas eu acredito muito que o que a gente faz volta de uma forma ou de outra pra gente.

Ah, quer saber? Eu desisto de você. Desisto de tentar te levar pela mão, de insistir em te fazer algum agrado, de buscar um sorriso para seu rosto triste, de querer afogar seus medos em vão. Não dá mais, não tem como amar alguém que não quer ser amado, que não se permite, que não se abre.

Nascemos puros, livres, ingênuos. Com o tempo, as decepções e os aprendizados, vamos formando uma casca, um escudo, uma armadura, uma couraça emocional. Quando encontramos alguém que faz nosso coração bater mais forte, é preciso ter a coragem de se despir, de tirar toda e qualquer coisa que nos cubra, nos proteja, nos envolva. Para amar é preciso estar de cara limpa e peito aberto.

Tomei uma decisão importante e que te envolve, quer ouvir? Não quero mais querer você. Você me estralhaça toda vez que sai por aquela porta. Queria que alguma coisa mudasse aí dentro, que algo te motivasse a ficar. Não tenho mais forças para te pedir para não ir. Por isso, se quiser ir, vá. (e não volte mais, pois é melhor sofrer tudo de uma só vez do que ficar sofrendo um pouco a cada partida)

Admirada, percebo que certas pessoas ocupam lugares rapidamente. Trocam de romance como quem troca de brinco. Mudam de amizades como quem muda um par de sapatos. É um comportamento assustadoramente estranho, como se os outros fossem descartáveis.

Meu lado quinta série ri mentalmente de algumas palavras. Meu lado orgulhoso não gosta de dar o braço a torcer. Meu lado chato gosta de tudo do "meu" jeito. Meu lado fofoqueiro repara que a vizinha recebeu visita tarde da noite. Meu lado vadio gosta de curtir uma preguiça em dias frios e chuvosos. Meu lado gentil segura a porta do elevador e ajuda pessoas mais velhas com sacolas de compras. Meu lado pentelho se irrita com quem quer parecer sempre legal. Meu lado ruim não gosta de gente simpática demais, fofa demais, solícita demais, efusiva demais. Ou seja: em alguns dias nem eu sei quantos lados tenho.

A fuga, a volta, a espera

Já fugi de alguns lugares, pessoas e situações, mas nunca consegui fugir de mim. Posso já ter me ausentado, ter dito ei-volta-amanhã, ter trancado a porta, ter esquecido a chave do lado de dentro, ter deixado as luzes apagadas, ter perdido a hora, ter desligado o despertador, ter esquecido de esquecer, ter fingido um sono profundo ou uma preguiça boba, mas nunca soube fazer as malas e ir embora da minha alma.

Ninguém vai resolver a minha vida, pagar as minhas contas, me colocar no colo e dizer não-te-preocupa-que-vai-passar, me servir um chá com biscoitos, deixar a casa em ordem e a mente equilibrada. Se eu não arregaçar as mangas, der um suspiro fundo e andar para a frente a minha vida vai ficar empacada. Até o fim do mundo.

Não vou negar que por alguns momentos fiquei vendo momentos da minha vida passarem pela janela. E eu ficava ali, observando, atônita, paralisada, sem coragem de agarrar as oportunidades com determinação. Mas uma hora alguma coisa me chacoalhou por dentro, me balançou, me fez abrir os olhos e entender que tudo é passageiro. Hoje eu sou uma e amanhã posso ser outra. A gente vai aprendendo com o tempo, os dias, as marés. E esse aprendizado vira marca, vira tatuagem, vira história de vida.

Nunca quis que me vissem como a pobre garotinha indefesa. Tenho muita força, garra, vontade. Muitas vezes me perco no meio dessa teia de pensamentos, sonhos, anseios. De vez em quando não sei o que fazer pra sossegar o coração, aquietar a alma, tranquilizar a mente, que tanto me desassossega. Então pareço perdida num labirinto interno e secreto, tentando desesperadamente achar a saída mais próxima e me desfazer do que atormenta e aflige.

Carrego no peito todos os sorrisos e lágrimas que já distribuí. Levo na alma todos que me são fundamentais. Trago comigo as boas lembranças e algumas marcas e cicatrizes que não se desfazem com o passar do tempo. Sei que um dia tudo vai ficar mais claro, mais tranquilo, mais cheio de harmonia. E torço para que todas as pessoas consigam perceber que não importa o que elas façam ou da onde elas venham, no fundo somos todos iguais. Querendo ou não.

As reticências surgem, numa tentativa de descobrir qual será o meu próximo passo. E a decisão fica ali, no meio das minhas mãos, esperando. Só que muitas vezes nem eu sei o que fazer, fico um pouco perdida no meio de tantos pontos de interrogação. Ao mesmo tempo, aquela urgência em resolver o que precisa ser resolvido. Às vezes as coisas só esperam um ponto final, mas a vida (essa danada!) resolve colocar um ponto e virgula. E você precisa se virar.