Coleção pessoal de marialopes45

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Desconexos

Se murmuras, censuras,
A pedir-me canduras
Futuras, silábicos sussurros...
Amargos, cochichos, de tristes que estás!?
E eu, que não paro, não quero,
Deparo com teus lastimares
Enganos, enfados, nas naus deste cais
Principais e silentes
Envolventes, teus ais...
Revolto em teus dons
E outros tons
Sobrenaturais,
Retrocedo meus nãos
Todos vãos e retomo os anais...
Desiguais...!
Não estamos, nem somos,
Opomo-nos, tão sentimentais,
Um doce e tão seco,
Contrários demais
O seco que é doce,
Ama intensamente,
O mel de lirismo, já bem reticente
Nem sente o que o outro
Mendiga o seu ser
Padecer, desiguais
Imortais... Nada mais!
Tanto faz.

Quantos assistiram ao enterro da nossa última quimera?

Estamos numa ponte da qual se pode vislumbrar a próxima paragem. Será tranquila? De construção institucional e interpessoal? De harmonia? Que surpresas nos aguardam, se é que ainda possam existir surpresas nessa terra de Deus, onde cada um tenta ser seu próprio deus ou dos poucos servilóides que o cercam.
Tentanto parafrasear Augusto, talvez até com tristezas e azedumes similares, repito para mim mesma: “acostuma-te ao caos que te espera”, porque tácitos e inertes, agarrados ao seu suposto quinhão ou de saco vazio e doidos pra enchê-los, silenciaram todos na proposição do enterro de muitas quimeras.
Acho até que não seja saudável estar-se a lamentar quando se tem a facilidade de transmutar receios em poesia e, à baila, exaltar o poeta que, embora tenha contemplado o sepultar de sua última quimera, soube, com inigualável aparelhamento poético, rimá-lo com “a necessidade de ser também ser fera”, reconhecendo que se vive, miseravelmente, no meio de feras.
Parando para mergulhar nos versos ‘dos Anjos’, que não denotam terem inspirado esse vulto sagrado da literatura, vamos refletir e, sem delongas, revestirmo-nos com o que der e vier , sem que invertamos as coisas...
Tentarei navegar mais e me confundir com o mar de Cecília Meireles, olhando para um dos seus barquinhos* cujo nome sugere alternativas e isso alivia: ou ISTO ou AQUILO. Pelo menos existe a alternativas dos poemas.

INSENSATEZ

Imaginação, puro poder!
Posso a qualquer momento me enroscar em teu corpo,
Ouvir tua voz, som imortal, maravilhoso...
Afagar –te, afogar-me,
Dizer que és meu.
E és, no meu mundo de encanto!
Conheço teu gosto, tua fúria dengosa,
Tua vontade de enlouquecer,
Teu vôo incerto nas asas sonâmbulas...
Minhas asas, tão apaixonadas!
Quero-te e peço-te para que fiques,
Deixe-me manter essa chama acesa!
contudo, se quiseres, vou aquietar-me,
Enterrar meus vesúvios,
Latentes, intermitentes...
Hipótese para a qual não atino.
Desejo-te! Único refrão. Quero-te!

Se quiseres, sim, vou aquietar-me...
Não creio em acasos, meu amor!
De forma peculiarmente esquisita,
Na caminhada, cruzamo-nos na via crucis,
Tive que chorar e atravessar mares dedor e lama
Chegar a local tão estranho
para enxergar uma flor em forma de paixão,
Você, que tanto quero!

Sinto teu calor, tua mente... tua boca, pele...
E nem conheço teu gosto, tua fúria dengosa,
Tua vontade de enlouquecer,
Teu vôo incerto nas asas sonâmbulas...
Minhas asas, tão apaixonadas.

Ode à alma-lua

Ouvir-te, meu desalinho
Em desejos, converti-me!
Sua voz tem o uivo de uma rajada de vento
Que refresca o árido deserto
Sua voz, metal das sólidas rochas.
Seu sorriso desperta para a vida
Suas palavras... Não!
São o ponto de atrito entre o que sinto e o que recuas
Seu silêncio, meu luar de cinza
As barreiras, nuvens que encobrem
A prata das noites.
Nuvens, todas passam!
Luares acontecem como estações
E eu vou viver de outono a outono
Cada folha caída se fará húmus.
Como hidra minha emoção renascerá
A cada lua fria
Que as nuvens persistem em ocultar.

DESASTRE LITERÁRIO NOS CONTEXTOS ATUAIS

Estive pensando na devassa axiológica que as obras infantis fizeram, e ainda fazem por aí.
Imagine, caro (a) leitor (a), uma criança de quatro anos ouvindo a história da Branca de Neve, uma garota órfã, anêmica (embora tivesse lábios vermelhos), talvez até de porrada da madrasta que mandava e desmandava em tudo.
É, porque a estorinha deixa claro que o pai da garota de nada sabia das maldades da esposa, a madrasta, a algoz de sua única filha, que chega ao ponto (motivada pela inveja, “pura torpeza”) ordenar a um capataz (espécie de servo) do reino a levar a criança para uma selva e nesse local abatê-la, como se a menina fosse uma franga ou um porquinho cevado. Pior, a sádica ainda pediu como prova do crime, um pedaço do fígado da menina. Ainda bem que o carrasco decide por não executá-la de uma vez, entregando a rude missão às cobras, às onças, sabe-se lá a qual bicho selvagem, até que a branquelinha, doida de pedra, a correr na mata, encontra uma casa onde viviam sete anões (provável que fossem raquíticos...) e, embora ela vivesse antes num “palácio”, soube varrer a morada, arrumar camas, lavar roupas, fazer comidinha, enfim, todas as prendas domésticas de uma senhora precoce.
Adotada pelos piturruchos, passa a sorrir e achar que tinha se safado da maligna que, por meio de um espelho fantástico e dedurador, obtém a revelação do esconderijo da enteada (Branca de Neve). Caso mais sinistro!
Encontrada e enganada, a menina, talvez faminta por comer em pratos tão pequenos e porções tão insuficientes, mete os dentes numa maçã envenenada que a cachorrona lhe oferece, e cai dura que nem um cabo de vassoura no chão.
Anos se passam e aparece o necessário príncipe que, encantado diante de tanta brancura (racismo) e “beleza”, cata-lhe o fragmento da fruta que envenenou a mocinha, reavivando-a e depois, pedindo-a em casamento.
O amado e salvador da pátria das pobres princesas, decide por vingar-lhe a inimiga (madrasta-bruxa), matando-a sob tortura, forçando-a a dançar cretinamente com grandes bolas de ferro amarradas aos pés.
(...) Meu Deus! O que é que isso deixa de legado pras crianças que se encantaram com essa luxúria dantesca? Talvez meros vislumbres de sonhos irrealizáveis, sede de vingança e a idéia de que o mal precisa ser extirpado, nem que seja com derramamento de sangue ... !?
Ah, quase esqueci que os anões saíam pra trabalhar na mina pela madrugada e retornavam à noitinha (exploração de mão de obra), devia ser mesmo! Segundo o que narra a estória, eram todos problemáticos: um Zangado, sinal evidente de stress; outro que não parava de espirrar (Atchim), quadro clínico de sinusite sem tratamento; outro que dormia o tempo inteiro (Soneca) podia um caso de verminose, anemia, cansaço demasiado...); Um outro, carente de mimos (Dengoso); outro, dado a espertezas (Mestre) e por fim, um alienadinho que vivia à base do ‘tou nem aí’ (Feliz); mais um sem graça de viver, tal Dunga.
Vou parar por aqui, porque se eu for falar da precariedade da história de Chapeuzinho Vermelho e da Gata Borralheira, vamos morrer de remorsos por termos contado às crianças tamanhas aberrações.
Ainda bem que hoje enxergamos essas tragédias tidas como alternativas lúdicas.

MORAL: Há tempo sempre para se repensar!

Caríssimo Neto Braga,

Nasci nos anos finais da década de 60, quando se exacerbava a importação de ídolos da música, da moda e até dos valores para nossa gente. Era chic ter calça Lee, ouvir Beatles e Rolling Stones, criar bandas com nome inglês, The Fevers, Blue Caps, marca USTOP. Sim! Começávamos a largar muito da bossa verde e amarela, passando a importar o que de fato devia nos importunar. Estávamos a permitir americanismos que, subliminarmente, manipulavam o sistema geral: capitalista dominador cujo Tio morava nos States... Mas também era chic parecer com eles!
Na roça, nossos heróis se mantinham igual, enfrentando secas, fomes, misérias, embora a superintendência do Desvio de Verba Pro-Nordeste, que por esse tempo, já mostrava suas barbichas, ou melhor, seus amplos bigodes, já maquiasse um pouco a realidade de nosso povo, mas que no fundo não passava de mais um coronel institucional a serviço de outros.
Tais heróis do campo, quando muito, ouviam o rádio de pilha e eram fotografados a preto e branco tal e qual a vida que levavam: “o preto no branco”, tudo às claras, a dura realidade, acostumados com a apregoação de um Deus que impunha estação severa de seca e flagelo sem fim, predestinados ao sofrer, mas que nunca desmereceram o solo que, com pés tão rachados quanto o local das pisaduras, numa cena telúrica inconfundível, compuseram as canções de suas vidas com garranchos, sol ardil, comida singela, viola ponteada como pingos ralos das chuvas miúdas do sertão, ajustadas ao piar dos pássaros.
Heróis sem o saber que continuavam a caminhada dos nossos lideres implacáveis do quilate de Antonio Conselheiro, dos beatos guerrilheiros, dos personagens asseverinados do engenheiro da poesia, João Cabral de Melo Neto, ou por outra, os retirantes das obras de Raquel de Queiroz, de Lins do Rego, outros seres ornados com as rimas de Moacir Laurentino, Cego Aderaldo, da coragem inata de Barbara de Alencar, de Jovita Feitosa, não nos forçando à evocação de mitos internacionais, embora ilustres como Luther King (americano), Mahatma Gandhi (indiano) ou até um deus olímpico para dar robustez ao caráter e nobreza dos nossos homens e mulheres, que, como já se pode ver, temos para exportar.
Não almejo chegar aos extremos do personagem ultrapatriota, “Major Quaresma”, de Lima Barreto, ao exortar um colega de trabalho que sonhava ir à Europa, dizendo-lhe: “Ingrato! Tens uma terra tão bela, tão rica, e queres visitar a dos outros!”
Creio que meu posicionamento não leve a desmerecer a valorização da cultura clássica, deixar de reconhecer o mérito de quem sabe o verdadeiro valor de ser exímio leitor, de amar os livros, o conhecimento, mas insisto, meu caro amigo Neto Braga, que se legitime o cerne da alma de marfim que todo sertanejo possui.
Com chave de ouro, para bem fechar uma página, vou de Patativa, renome internacional saído das brenhas do Assaré, que homenageia a natureza sertaneja, partido do seu eu coletivizado.
“ Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrer
Não nego meu sangue, não nego meu nome
Olho para a fome, pergunto o que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.”

CANDIDATA À CASADOURA
E lá se ia mais um atormentador 12 de junho.
“Gatinha” (mais pra raposa velha), diga-se de passagem, cabreira, prendada nas artes de sedução, nos jogos de palavras que afagariam espinhentos espíritos de revolta, cheirosa, anos de cobertura com os mais indicados cosméticos, unhas, cabelos, adereços tudo no jeito! Nada dava jeito!
O último namorado custara-lhe tanto! Um rio de sonhos esvaídos e a certeza angustiante de que todos eram “farinha do mesmo saco”, egoístas, insensíveis, trouxas... aliás, já nem sabia definir se essa conceituação era produto do tanto ouvir, ou se cristalizara das lições que os quase quarenta lhe dera, que os homens eram mesmo “uns burros”.
Certa vez, a mirar uma parede esquecida da casa, quase a si comparou-a e pensou na racinha de ” burros”. E ela, seria o quê, se nem um asno a escolhera?
Eram raros os momentos em que via um horizonte positivo a seu favor, fato que a levava aos intermináveis questionamentos sobre o sentido dessa caminhada. Precisava caminhar, engordava sem freios e os legumes, aos poucos, tornavam-se seus eternos cobradores, engolia-os sem ver outra saída.
Era-lhe a vida um complô do contra: exigências do mercado consumidor cada dia mais acirradas, dinheiro difícil, grifes, marcas, moçada jovem na competitividade, as preferidas, o primeiro escalão das relações bem sucedidas. Repensava-se. E a sabedoria dos tempos vividos, a cultura adquirida, o estilo protetor, tendendo ao maternal com que o tempo, generosamente, a compensar marasmos, reveste seus súditos? Nada valia na contagem, na pesagem de escolhas masculinas?
Pronto! Tudo o que não devia existir era esse tal DIA DOS NAMORADOS. A indústria do marketing forçava pessoas de bem, às compras, afinal, os amores eram a motivação para setenta por cento das vendas a mais: um namorado fazia diferença para investidores nessa época! Quem sabe, não existisse o clamor dos meios de comunicação, essa sede de companhia fosse-lhe atenuada!?
E os homens? Eles não sentiriam falta de uma namorada ‘ideal’ (?) Ah, eram tantos os detalhes, percalços: as jovenzinhas, o embate estético, os genes atrofiados dos raros machos que sobreviviam, os pithgays , totais-flex e similares...
Pensara numa saída estratégica: amontoaria certa economia e daria um tempo na Europa. Até tinha abrigo por lá...! Ouvira falar de tantos “casos perdidos” da terra que se deram bem noutros continentes. “Até biboca que se casou...!” Pensando dessa forma, por que não ela, a velha “Gatinha”?
Devaneiava-se a supor num desembarque internacional , de mãos dadas com seu gringo, sendo aguardada por três ou quatro amigas (solteironas a matar cachorro a grito), a babarem vendo o novo casal, seu par, que podia ser húngaro, holandês, russo, Richard, Bergman, Strawisk, tanto fazia, era o alcance da meta.
Mas enquanto a fantasia não se transpunha à realidade, apelava para os terços e novenários e, nos locais tensos, valia uma jaculatória (rezinha curta). Quem sabe, os céus, não a escutariam?

Nega-te
M. Lopes
Não, não te fies em amores,
Eles são pássaros soltos e ares tormentosos!
Não te fies em amores,
Eles te ladeiam, depois te absorvem,
Consomem teus lírios
Podem até secar teus pântanos...
Levar-te a mundos insólitos.
Não, não te infles de amores
Os que se fazem pagãos,
Esses amores são desmedidos,
Canonizam a dor,
Sem sublimar a emoção.
Abatem-te, caçoam-te,
mergulham-te no mar
Da desilusão.

A esses, não te fies!
São de pouco siso,
Não os diga sim!
Pois os que os alcançam,
Perdem-se no lodo
Que se fez carmim.
Se te secam os pântanos, se são desmedidos,
Conduzem-te-ão,
Aos planos perdidos,
à dor não mensuram

Armam-te grilhões,
Larga-lhes para sempre
E diz-lhes somente ...
(...)
Não... Nada os diga!
Aquieta-te! Não os persiga!

Hierba is life
Era, decerto, a vigésima quarta dieta de emagrecimento a que Hirta se submetia. Fez a da lua, das frutas, da água com limão em jejum, da melancia como alimento-pivô, usava laxantes e, de tanto defecar, passou a andar com o fundo forrado. Perdia peso, ganhava, perdia, perdia, enchia... decidiu radicalizar e tornar-se “vegetariana”. Disseram-lhe que o primeiro passo seria passar por um processo de “desintoxição à base de folhas”.
Convém dizer que Hirta já se tornara desassuntada, posto que só lhe vinha à verbalização assuntos ligados à magreza, dieta & congêneres.
Acordava às quatro, calçava tênis, meias, o uniforme de pista e pegava o beco. Andava, andava que em certos momentos tinha a impressão de que parara e apenas o asfalto se movia. Seu ritual era de tal compenetração que sequer via transeuntes ou carros ao seu lado. Seu sentido era retilíneo e único: seria magra e escultural (espigal).
Numa dessas andanças, concentrada, tropeçou e estendeu-se sobre um cavalo morto atropelado na noite anterior. Foi um susto, muita vergonha! Tentou ser mais atenta a partir do episódio.
Mas, retornando à “desintoxicação”, passou a consumir folha de quase toda espécie. Primeiro foi hortelã triturada, passando à malva, mastruz, cajarana... processava baldes para consumir. Gradativamente, só algumas folhas eram-lhe insuficientes e, nesse estágio do “tratamento”, quebrava galhos inteiros de árvores e arrastava até sua cozinha, aí então, já abarrotada de arbustos.
Houve ocasião em que uma amiga lhe perguntou se estaria criando alguma “vaca” ou outro herbívoro de porte. Calma, a moça disse que era apenas para consumo pessoal.
Dia a dia não lhe restava tempo pra outra coisa a não ser dedicar-se à pesquisa de receitas de saladas vegetais e hortaliças exóticas. Nesse menu, rolou até palmito com urtigas verdes.
Tantos esforços já manifestavam resultados. Não só se tornara delgadíssima quanto esverdeada. Da base das orelhas às asas do nariz tinha um lastro de cor pardo-verde-oliva.
Adaptara-se aos novos hábitos e, por nada comia outras coisas além de vegetais crus.
No primeiro Natal desse propósito, degustou apenas uma noz, duas uvas e as folhas de alface que guarneciam o pobre peru que pagou o pato da ceia.
Numa festa de casamento na roça, onde rolava carne a granel, farofada e cereais recheados, do tipo fava com mocotó, para não ficar em sumária inanição, da mesma forma que um ruminante, remoeu algumas palhas de vassoura. Lavou-as e, molhadas, facilitaram o deguste.
De resto, cumpre afirmar que mudou de vida e até a forma como observava uma boa pastagem, diferindo-se dos humanos comuns.
Tornara-se herbívora!

O mar: imenso, mistério, informe...
Meu ser: informe, inquieto, o amor.
O amor: imenso, inquieto, o mar.
O amar: imenso, mistério, meu ser.
Meu ser: você!

Enterro

Cinzento e sem luzes
segue o ataúde
que conduz já fria
tua mente rude
a se deformar...
Longe sinto o frio
de tua gélida tez
além altivo olhar, o teu
que eternamente se desfez
Suponho-te incerto
como nuvens levadas pelo vento
perdido, finito, poeirento
em pleno grito soberano
do infinito tirano
Sepulto-te em cova funda
como terra podre e contumaz
devoradora de corpos
desmistificadora da tua existência
e que sem clemência, trucida-te aos bocados
és cadáver, presunto... nada mais!
uma placa dura onde se registra
destacável: “Aqui jaz”!

FLOR DA ENXURRADA


Em crescente descida
Esvaem-se aos poucos, as pétalas da vida...
Colisões sucessivas
Formando cascatas
Invernos, enxurrada
Estação sem final.
Nesse leito tosco
Seguem-se nas águas,
Falhas, feixes, folhas
Passos em navalhas...

Rio vasto, vida
Apagando rastros
De tudo o que se havia
Fragmentos e lamentos
Alma chorada em longa estação
Pensamentos vãos
Infinda estação
É longa a descida
Nesse leito tosco,
Águas idas, perdidas
Feridas... a vida!

(...)
Passada a enxurrada
Leito limpo, claro
Vasto, infindo vazio
Notas de frio rio
Marcas do cerimonial
De entorno ao plano
Existencial.

(...)
No alto de uma copa
Uma flor discreta!
Sobra da enxurrada
Flor da resistência
Vislumbre de alvorecer
Renasce a vida.